A 109.ª edição do Open da Austrália, primeiro ‘major’ do ano, que arranca na segunda-feira sob apertadas medidas restritivas devido à covid-19, terá em Novak Djokovic, Rafael Nadal e Serena Williams fortes candidatos a novos recordes no ténis mundial.

Os números mais recentes (6 de fevereiro) da pandemia no país apontam para 52 casos ativos de Covid-19, o que significa que o panorama é bastante diferente daquele observado na Europa e nos EUA, onde a contenção do vírus está mais descontrolada. Com isto em mente, a Tennis Australia (entidade administrativa da modalidade e do torneio na Austrália), com a autorização das autoridades governamentais, permitirá a presença de 30 mil espetadores por dia em Melbourne Park, metade da capacidade habitual. 

Os candidatos ao título

O sérvio e número um mundial, Novak Djokovic, vai tentar elevar para nove os títulos conquistados nos Antípodas, superando assim um recorde que já lhe pertence.

O detentor de 17 troféus do Grand Slam, após cumprir duas semanas de quarentena em território australiano, à semelhança de todos os jogadores, treinadores, acompanhantes e árbitros do evento, vai iniciar a defesa do título que lhe permitiu, em 2020, recuperar a liderança do ‘ranking’ ATP diante do francês Jeremy Chardy (66.º ATP), com quem nunca perdeu nos 13 encontros anteriores.

Apesar de uma estreia teoricamente fácil, Djokovic, de 33 anos, lidera a primeira metade do quadro e, tudo correndo sem sobressaltos, poderá enfrentar na quarta ronda o suíço Stanislas Wawrinka, se o campeão de 2014 eliminar o português Pedro Sousa na estreia, ou o canadiano Milos Raonic, antes de potencialmente medir forças com o alemão Alexander Zverev nos quartos de final.

Mas tal como o sérvio, que nas meias-finais poderá jogar com o austríaco Dominic Thiem, finalista vencido há um ano e campeão do Open dos Estados Unidos, o espanhol Rafael Nadal também não terá pela frente um desafio muito fácil para tentar conquistar o 21.º título do Grand Slam, batendo assim o recorde que partilha com o suíço Roger Federer, ausente de Melbourne por lesão.

O esquerdino de Manacor, que aos 34 anos ocupa o segundo lugar da hierarquia mundial, depois de jogar na primeira ronda contra o jovem sérvio Laslo Djere (56.º ATP), de 25 anos, terá de ultrapassar eventualmente o grego Stefanos Tsitsipas (6.º) ou o transalpino Matteo Berrettini (10.º), nos quartos de final, e o russo Daniil Medvedev (4.º), nas meias-finais, se quiser lutar na final pelo segundo troféu em Melbourne, após a vitória em 2009.

Além dos experientes e mais cotados Djokovic e Nadal, surgem numa segunda linha de favoritos o número três mundial, Dominic Thiem, que já disputou três finais do Grand Slam, duas em Roland Garros (2019 e 2020) e uma em Flushing Meadows, onde ganhou o seu único ‘major’, Daniil Medvedev, finalista do US Open em 2019 e semifinalista em 2020, e Alexander Zverev, vice-campeão do último ‘major’ norte-americano.

Na competição feminina, a australiana e líder do ‘ranking’ WTA, Ashleigh Barty, é a primeira cabeça de série do Open da Austrália, pelo segundo ano consecutivo, após uma ausência prolongada do circuito, por forma a tentar evitar correr riscos devido ao novo coronavírus, mas é em Serena Williams que estão concentradas as maiores atenções.

A norte-americana, que desistiu na sexta-feira de defrontar Barty nas meias-finais do WTA 500 Yarra Valley Classic, torneio de preparação para o ‘major’ australiano, depois de sentir um desconforto no ombro, vai lutar pelo oitavo troféu em Melbourne Park e tentar, uma vez mais, igualar o recorde de 24 títulos do Grand Slam de Margaret Court.

Uma missão que não se avizinha fácil, se atendermos ao facto de a número 11 mundial, de 39 anos, ter sido eliminada na terceira ronda em 2020, não ganhar qualquer ‘major’ desde o triunfo no US Open em 2017 (tendo perdido quatro finais de grand slam desde aí) e, este ano, caso chegue invicta aos quartos de final, ter provavelmente de defrontar a também favorita romena Simona Halep, segunda pré-designada e campeã de Roland Garros, em 2018, e de Wimbledon, em 2019.

Assim como Barty, Williams e Halep, a jovem norte-americana Sofia Kenin (4.ª WTA), de 22 anos, é apontada como uma forte candidata a revalidar o título alcançado há um ano, tal como a japonesa Naomi Osaka (3.ª) que venceu o seu primeiro ‘major’ em Melbourne Park, em 2019, um ano antes de alcançar o segundo no US Open.

A participação portuguesa

Naquela que será a sua segunda participação, desde 2019, Pedro Sousa, o número dois nacional e 108 do 'ranking' ATP vai defrontar na ronda inaugural o suíço Stanislas Wawrinka, campeão em Melbourne em 2014 e detentor de três títulos do Grand Slam (Roland Garros 2015 e Open dos Estados Unidos de 2016).

Além de garantir não ter ficado desmotivado com o sorteio, antes pelo contrário, porque vai ter a "oportunidade de jogar contra um campeão do torneio e um dos jogadores que conseguiu fazer frente ao 'big three'", Pedro Sousa destaca o "estilo de jogo agressivo, o excelente primeiro serviço e uma das melhores esquerdas do circuito" de Wawrinka, que lhe dificultará a tarefa de passar, pela primeira vez, à fase seguinte da prova.

"Vou tentar estar o mais sólido possível, aproveitar as minhas oportunidades e impor o meu jogo. Quando joguei a primeira vez o quadro principal também estava bem preparado, tinha feito alguns encontros em piso rápido, e, este ano, estou a sentir-me um pouco mais confortável, mas não são as minhas condições favoritas", apontou à Lusa, manifestando a vontade de "estar competitivo e fazer um bom encontro."

Ao contrário do lisboeta, de 32 anos, que cumpriu uma quarentena de duas semanas com autorização para sair, durante cinco horas por dia, Frederico Silva viu-se obrigado a um isolamento de 14 dias no quarto de hotel e sem treinar, na sequência de um caso de infeção pelo novo coronavírus detetado no seu voo com origem em Doha, onde venceu os três encontros do 'qualifying'.

Após superar as primeiras contrariedades, a quarentena e a derrota na jornada inaugural do ATP 250 Murray River Open, de preparação para o Open da Austrália, o jovem esquerdino, de 25 anos, vai agora enfrentar um novo e árduo desafio, de seu nome Nick Kyrgios, na sua estreia num quadro principal de um torneio do Grand Slam.

"Conheço o Nick desde os tempos de juniores. Jogámos um contra o outro no US Open, em 2012, e ele ganhou. Vai ser, sem dúvida, um encontro difícil. É um jogador que serve muito bem e que normalmente tem muito bons resultados aqui, a jogar em casa", lembrou Silva (184.º ATP), à agência Lusa.

O jogador das Caldas da Rainha reconhece que "havia jogadores que poderiam ser menos difíceis, embora num torneio destes todos os encontros sejam difíceis", mas assegura estar determinado a "dar o melhor" diante o 47.º classificado na hierarquia mundial.

"Acredito que no final posso fazer um bom encontro e ganhar. Provavelmente, vou jogar num dos estádios principais, pela primeira vez, e isso dá-me ainda mais motivação para esta ronda", avançou, acrescentando que Kyrgios "baseia muito o jogo no serviço e, se estiver num dia bom, torna-se praticamente impossível" contrariar essa pancada.

Apesar de o australiano não ter jogado desde o ATP 500 de Acapulco no final de fevereiro de 2020 até ao início desta época, Kiko Silva acredita que o adversário é "daqueles jogadores que não precisa de muito tempo de adaptação para voltar ao melhor nível", recusando assim poder tirar alguma vantagem da sua ausência, por opção e como medida preventiva à pandemia da covid-19.

"Ficaria satisfeito se conseguisse jogar ao meu melhor nível e se conseguisse passar esta primeira ronda. Ganhar a um dos jogadores mais difíceis do mundo em piso rápido deixar-me-ia, sem dúvida, muito contente", confessou.

Após João Sousa, número um nacional, ter tido um positivo num teste ao novo coronavírus na véspera de viajar para Melbourne, ficando impossibilitado de embarcar, a participação portuguesa estará a cargo de Pedro Sousa e Frederico Silva no Open da Austrália, que decorre a partir de segunda-feira e até 21 de fevereiro no estado de Vitória.

O Open da Austrália será transmitido em Portugal nos canais Eurosport, entre 8 e 21 de fevereiro, com transmissões a começar por volta da meia-noite, dada a diferença horária entre Portugal e a Austrália de 11 horas.

* Com Lusa