Kamila Valieva é a mais recente “pérola por lapidar” da patinagem artística russa. Atual campeã mundial, viu-se recentemente envolvida numa polémica de consumo de medicamentos antes de calçar os patins nos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim. Todavia, com os holofotes direcionados para a jovem atleta, há quem questione antes os métodos da treinadora Eteri Tutberidze.
O Tribunal Arbitral do Desporto decidiu na segunda-feira que Valieva pode continuar na competição, na China, mas o Comité Olímpico Internacional disse que nenhuma medalha será concedida até que o caso seja resolvido, escreve o ‘The Washington Post’.
Tutberidze não é uma figura que passe despercebida no desporto russo. Depois de fazer sucesso em 2014 e dos resultados obtidos nos Jogos Olímpicos de inverno deste ano, A Rússia tem tido boas prestações na patinagem artística nos últimos oito anos, com de performances de alto rendimento por parte de jovens atletas, quase todas treinadas por Tubteridze.
Yulia Lipnitskaya, Alina Zagitova e Evgenia Medvedeva são apenas alguns exemplos de prodígios que surgiram sob a orientação de Eteri. Muitas patinadoras protagonizaram feitos históricos, como Kamila Valieve, que se tornou na primeira mulher a conseguir executar com sucesso um salto quádruplo em competição.
Se por um lado as “Eteri girls” representam um fenómeno, por outro têm sido feitas considerações sobre a abordagem dura e a total ausência de pedagogia da treinadora.
A “Era do Ouro” de Eteri Tutberidze, que durou oito anos, teve início em 2014, com Yulia Lipnitskaya, com a mesma idade, à época, da atual campeã Kamila Valieva: 15 anos. Em pouco tempo, a atleta encantou Sochi e o mundo percebeu que Yulia tinha um potencial fora do comum – Tuberidze ficou, naturalmente, associada ao sucesso russo, escreve o ‘The Washington Post’.
Desde então, têm sido produzidas estrelas atrás de estrelas. As expectativas e, também, o patamar de exigência têm subido, a ponto de muitas atletas não aguentarem a pressão e desistirem. Até a campeã mundial em 2014, Yulia, não lidou bem o método de Tutberidze.
Três anos depois dos Jogos Olímpicos de inverno de 2014, deixou a patinagem e garantiu que já não se sente “atraída pelo gelo”. Revelou numa entrevista que sofria de anorexia e que se internou voluntariamente numa clínica de reabilitação, conta a “CBC News”.
Já segundo a NBC News, a atual campeã olímpica Zagitova fez uma pausa em dezembro de 2019, aos 17 anos, porque precisava de encontrar motivação depois de não conseguir alcançar alguns objetivos impostos: agora, dedica-se a uma carreira televisiva. Já Medvedeva apresentou-se nos Jogos de 2018 com um osso partido no pé. Passados três meses mudou de treinador e foi com canadiano Brian Orsen que conseguiu “trabalhar com um amigo”.
Os métodos exigentes, os sucessivos casos de burnouts e lesões de longa duração são apenas alguns dos problemas que as atletas têm de enfrentar.
“O que eu tento ensinar aos meus alunos a partir dos 13 anos é que não podem simplesmente vir treinar começar a reclamar: ‘Estou cansada. Eu não posso fazer isso agora, faço amanhã'", disse Tutberidze numa entrevista, garante o ‘The Washington Post’.“Basta olhar para o mapa e ver o tamanho da Rússia – e quando fores for selecionado e enviado para uma competição internacional, terás um casaco. Nas costas está escrito ‘Rússia’. E se és o melhor que a Rússia enviou para o mundo ver, então não podes ter a atitude de dizer ‘estou cansada hoje’”.
Permanece a questão de quem deve ser responsabilizado pela ingestão de medicamentos, uma vez que a jovem é menor de idade. A ex-patinadora alemã Katarina Witt disse que os adultos responsáveis pelo teste de medicação reprovado de Kamila Valieva, do Comité Olímpico Russo, deveriam ser expulsos do desporto “para sempre”.
"Como atleta, segues os conselhos dos teus entes queridos e, neste caso, sempre em primeiro lugar a equipa técnica e médica", escreve Witt, duas vezes campeã olímpica, na rede social Facebook.
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