A 20 de Outubro de 2018, no primeiro e único encontro entre Wolves e Watford esta época, a equipa do norte de Londres foi até ao Molineux Stadium e bateu a equipa de Nuno Espírito Santo por duas bolas a zero. Apesar do encontro ter sido no início da época, é a única amostra que existe de relevo. Nessa altura Etienne Capoue e Abdoulaye Doucoure arrasaram o meio campo dos Wolves. A influência técnica e física dos dois pilares de meio campo do Watford foram demasiado para a formação de Rúben Neves e companhia.

Não só o duo de meio campo foi fundamental, a estratégia adoptada pelo Watford foi crucial para o desfecho do encontro. Com uma atitude defensiva e um meio campo muito compacto o Watford foi capaz de contornar os pontos fortes dos lobos. A forma como em apenas dois minutos o Watford consegui dois golos, em nada ajudou à reacção da equipa do treinador português e, com o passar do tempo, o Watford foi ganhando a confiança necessária para sair da nona jornada do campeonato com uma vitória.

O que mudou desde Outubro

De entre as duas equipas, a que menos mudanças efetuou desde então terá sido o Watford. Praticamente com a mesma estrutura, sendo que além de Etienne Capoue e Abdoulaye Doucoure no centro do meio campo, o jovem Will Hughes e o experiente argentino Roberto Pereyra continuam a completar a linha média. Mais à frente Gerard Deulofeu, Troy Deeney e Andre Gray continuam a ser as opções mais utilizadas para a dupla de atacantes do sistema da equipa. Na defesa, apesar de algumas alterações ao longo da época a equipa manter a sua organização e dependendo da equipa com quem joga muda uma ou outra peça, principalmente nas laterais.

Quanto ao Wolves, as mudanças já são mais significativas. Não só na alteração de elementos no onze inicial base, como também na tática .

A necessidade de adaptação à Premier League

No Wolves, como referi acima, as mudanças são na forma e no conteúdo. Na altura João Moutinho e Rúben Neves estavam ainda a fase inicial da sua química no meio campo. Desde então o dinamismo entre os dois evoluiu a olhos vistos. A forma de Diogo Jota neste momento é incrível, o português deu claramente um passo de gigante na sua influência e contributo para a equipa.

Relativamente ao sistema tático do treinador português esse também se alterou e quando isso aconteceu, permitiu ao Wolves voltar aos lugares cimeiros da tabela. A utilização de Jota e Raúl Jiménez na frente um pouco mais sós, sem Hélder Costa ou Ivan Cavaleiro a completar um trio atacante, veio equilibrar o meio campo, principalmente com a entrada para o onze do jovem internacional belga, Leander Dendoncker. O jovem de 23 anos, emprestado pelo Anderlecht veio dar outra consistência ao meio campo da equipa e com isso criar mais soluções estratégicas à equipa e também soluções de cariz individual, já que a técnica do belga é invejável.

Não só o belga passou a dar o seu contributo à equipa com mais regularidade, também Morgan Gibbs-White é outra peça que, aos poucos, se está a tornar fundamental na adaptação dos Wolves à Premier League. Para quem não se lembra, Gibbs-White fez parte da equipa inglesa campeã do mundo de sub-17, foi aliás umas das principais figuras do onze da seleção jovem dos Três Leões.

De forma a poder lidar com adversários de maior calibre, comparativamente ao ano passado, quando dizimou a Championship, Nuno teve que adaptar o seu sistema tático e transformar o 3x4x3 da temporada passada num 3x5x2. Ainda que no inicio desta mesma época tenha insistido na táctica que tanto sucesso lhe trouxe, houve a necessidade de alterar para poder manter uma capacidade defensiva semelhante à da época transacta. Assim sendo, com a entrada de Leander Dendoncker ou de Gibbs-White os Wolves parecem ter encontrado não só uma maior equilíbrio como mais soluções para os diferentes adversários na mais competitiva liga de futebol do mundo. Dependendo de quem jogue, Dendoncker ou Gibbs-White, poder-se-á perceber o cariz mais cauteloso, no caso de jogar o belga, ou mais ofensivo, no caso de jogar o inglês.

Fatores decisivos

A grande questão continuará a ser o centro do meio campo e o equilíbrio a encontrar pelo Wolves. Caso o Watford se apresente mais uma vez defensivo, a capacidade de não comprometer o equilíbrio defensivo ao atacar de forma continuada e a capacidade de travar o Watford em velocidade serão os fatores mais importantes a ter em conta na estratégia da equipa do norte de Inglaterra. Experiência neste tipo de situações não lhes falta, já que o Wolves se foi tornando, ao longo da época, numa equipa temida pelos restantes conjuntos. Exemplo disso foi o último encontro frente ao Burnley onde, apesar de algumas alterações no onze por parte de Espírito Santo, a forma defensiva como o Burnley encarou o jogo, especialmente depois de beneficiar de um auto-golo nos primeiros minutos da partida, foi crucial para o desenrolar da partida, que acabou com a derrota dos Wolves por 2-0.

Rui Patricio não jogará, já que John Ruddy é o titular quando o Wolves se apresenta tanto na Carabao Cup como na FA Cup. Num jogo deste calibre, o jogo da época para ambas as equipas, poderá não ser a melhor das opções, mas uma equipa é um organismo que vive de muitos fatores e o compromisso e confiança em todos os elementos que a compõem, é um deles.

A estatística do Wolves frente a equipas do Top 6 é incrível, já que 27.7% dos pontos conquistados esta época foram precisamente contra equipas desse calibre. Além disso para chegar às meias-finais desta competição o Wolves eliminou primeiro o Liverpool e depois o Manchester United. Mas a capacidade de roubar pontos a equipas ‘grandes’ contrasta com a permeabilidade, de vez a vez, contra equipas posicionadas abaixo de si na tabela, como foi o caso do Burnley, exemplo referido acima no texto.

Por outro lado o Watford é o inverso do Wolves. Mostrando-se incapaz de bater os ditos ‘grandes’, o Watford conseguiu apenas 6,5% dos seus pontos esta época contra tais equipas. O que, como é óbvio, é contra-balançado com uma consistência e regularidade superiores à dos Wolves quando se trata de bater equipas abaixo do sexto lugar na tabela. O padrão não parece ser apenas fruto da presente época já que, com cinco vitórias frente ao Top 6 o Wolves está perto de igualar o número de vitórias do Watford frente a equipas do Top 6 nas últimas quatro épocas. Desde a sua promoção o Watford consegui sete vitórias frente a clubes do Top 6.

Wembley será o palco do encontro e parece-me que poderá beneficiar o Wolves mais que o Watford. Um campo de maiores dimensões, num palco com maior responsabilidade, poderá elevar o Wolves e fazer deste jogo, o mais parecido possível com um encontro contra uma equipa grande. Como vimos no parágrafo acima, esse é um fator que favorecerá uma e só uma equipa, o Wolves.

Estes são os pontos que, à partida, moldam este encontro que fará de uma das equipas, a equipa sensação da época 2018/19. Com a possibilidade de atingir uma final, ambas as equipas tudo farão para, no caso do Watford vencer a mais antiga competição do mundo pela primeira vez e, no caos do Wolves, conquistar a competição pela quinta vez na sua história. Wolves e Watford defrontam-se amanhã, dia 7, pelas 16h, enquanto que na outra meia final o Manchester City defronta hoje, dia 6, pelas 17:30 o Brighton & Hove Albion, também em Wembley.

Para quem tenha curiosidade, aqui fica um resumo do percurso do Wolves até às meias-finais da FA Cup.