Os sub-18 entram em campo no Domingo frente à Bélgica, podendo o jogo ser seguido em direto via Rugby Europe TV. Mas antes dos Lobos subirem ao relvado, Rui Carvoeira, selecionador nacional do escalão, conversou um pouco com o Fair Play
Professor Rui Carvoeira, como pode descrever este novo grupo de selecionados dos sub-18 que vão marcar presença em Kaliningrado?
Todas as gerações têm as suas particularidades, esta não é exceção e este é um dos encantos do trabalho com jovens jogadores no seu percurso para o alto rendimento, colocar as nossas competências ao serviço das suas ambições e necessidades. Este grupo mistura fisicalidade com talento, não tem uma grande profundidade de escolhas, mas os seus melhores intérpretes estão muito disponíveis para o combate físico e para o jogo de ataque em qualquer zona do campo.
A preparação para este Campeonato da Europa tem decorrido bem? O que ainda há pelo caminho até à data de partida?
A preparação nunca é a ideal porque nunca conseguimos solucionar a questão dos jogos internacionais. Este ano agravou-se porque perdemos a possibilidade de jogar com a Irlanda em outubro, como vínhamos fazendo, e tivemos apenas um jogo de preparação em março, com a Espanha em Évora.
Por outro lado, a nossa preparação é uma tarefa de longo prazo. Inicia-se nos estágios regionais e nacional de sub-14, começa a tornar-se cirúrgica nos estágios regionais de sub-16, onde se estabelece a 1ª lista de profundidade, o que tem sequência nos treinos regionais e estágios nacionais de sub-17 e culmina nos treinos regionais e treinos e estágios nacionais de sub-18. Esta época, e sem contar com os treinos regionais, entre treinos e estágios nacionais realizámos 29 sessões de treino de campo.
Não se trata propriamente de um “casting” para representar Portugal no Campeonato da Europa. É potenciar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nos clubes, criar uma identidade e uma ideia coletiva de jogo e estimular um grupo alargado para as exigências das etapas seguintes, no clube e nas seleções.
Os selecionados de primeiro ano estão a surpreender a equipa técnica? O que destaca desta juventude?
Os jogadores de primeiro ano são normalmente chamados pelo talento e maturidade que apresentam e para que, se vierem a fazer parte dos 26 eleitos, passarem na época seguinte a mensagem de exigência que é necessária para jogar ao mais alto nível. Este ano, cinco vão estar em Kaliningrado, mas outros quatro estiveram envolvidos até ao fim pelo que, juntando-se na próxima época aos sub-17, que já estão a trabalhar, farão da geração de 2002 um grupo muito prometedor.
O processo de análise e seleção correspondeu com as expectativas? Os jogadores responderam bem perante as exigências de estar a este nível?
Os jogadores vão sendo prematura e permanentemente informados que a presença no Campeonato da Europa não é um fim em si mesmo, não é o tudo nem o nada. É apenas um exame de percurso, onde só podem estar 26. O mais importante é estar preparado para o que vem a seguir, ser bom jogador sénior, no clube e nas diferentes seleções posteriores, sub-20, XV e Sevens. Obviamente que quem fica de fora fica sempre triste, não menos que nós adultos por deixarmos de fora gente com muito talento e muito caráter.
Olhando para o futuro, o que espera a Portugal no Campeonato da Europa? Quais serão os maiores desafios e obstáculos para estes sub-18?
Quem participa numa competição não pode ficar indiferente aos resultados, ninguém vai para perder obviamente mas, mais do que os resultados, a competição será para nós uma aferição das aprendizagens alcançadas e uma oportunidade de formação desportiva, porque encerra fatores que o melhor treino nunca nos conseguirá dar. E para uma seleção como a nossa, com reduzida experiência internacional, esta será a nossa chance de nos testarmos e superarmos em três jogos internacionais, e de tentarmos fazer uma síntese das coisas boas que fomos fazendo ao longo da preparação.
O maior desafio será sempre o primeiro jogo, como vamos reagir às coisas boas e às menos boas, sabendo sempre que uma vitória nesse jogo nos coloca na fase seguinte num contexto de elevada exigência e onde vamos querer estar. O outro desafio será viver coletivamente, fora do campo, os 10 dias de competição, num contexto de elevada exigência psicológica e de relacionamento interpessoal. Essa tem sido, nas épocas anteriores, a maior aprendizagem e onde se revela o verdadeiro caráter para vir a integrar um projeto de alto rendimento.
Ao fim de tantos anos de ligação com este escalão, continua a sentir o mesmo gosto, paixão e foco por formar jogadores e dar elementos importantes tanto para a sua vida dentro e fora do campo?
Acho que sou uma pessoa muito feliz e um privilegiado, por estar a fazer profissionalmente aquilo que gosto, para o qual me formei academicamente, onde (modéstia à parte) fui consolidando competências, na modalidade que pratiquei apaixonadamente e que me deu tanto, e ver anualmente vestir a camisola dos Lobos tantos bons jogadores e excelentes pessoas que estiveram comigo (e com o Francisco Branco e com o Henrique Garcia, no início e muitos outros treinadores a seguir) neste processo.
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