“Estou em paz com esta decisão. Da minha parte, fiz tudo o que estava ao meu alcance, e mais, para conseguir uma de duas qualificações olímpicas. Olho para trás e tenho uma carreira muito recheada, gostava que obviamente tivesse acabado nos Jogos Olímpicos, mas não era isso que me iria definir como atleta, nem vai, e, portanto, estou de consciência tranquila”, afirma.
O 145.º jogador mundial conta, à Lusa, que a paragem se deve a “um misto de tudo”, não só por problemas físicos e o desgaste mental de vários anos a perseguir a qualificação olímpica, “muitas vezes sozinho”, mas também o facto de “não ter o apoio devido das pessoas e estruturas que deviam dá-lo”.
“Felizmente, nos últimos tempos, tive um treinador que me apanhou e agarrou numa situação muito complicada, o Fernando Silva [também selecionador nacional], e só tenho a agradecer-lhe o título nacional [conquistado no final de 2023]. […] Vim para as Caldas treinar e viver, mas uma série de situações fizeram-me tomar esta decisão”, explica.
Atilano, que não queria ter “esta conversa”, mas sim falar do apuramento para Paris2024, que a certo ponto pareceu encaminhado, quando estava próximo dos 80 melhores do mundo, relata a experiência de viajar sozinho por todo o mundo para torneios, quase sempre sem treinador e sem fisioterapeuta.
“Só tive apoio psicológico quando paguei, na altura nos juniores, e agora, quando já tinha batido num recife e disse: ‘eu preciso disto’. […] Há um ano estava dentro [no apuramento], e é um sentimento agridoce”, lamenta.
Tendo ficado a poucos lugares de estar em Tóquio2020, abandona o caminho para Paris2024 que parecia cada vez mais ‘espinhoso’, e considera que esta saída de cena “pode ser um alerta para se perceber o porquê de as coisas acontecerem assim, em vez de atribuir culpas seja a quem for”.
A carreira esbarrou neste obstáculo, sentindo que faltou “uma análise a frio do que falhou para Tóquio2020”, a nível estrutural, pedindo que quem gere o badminton nacional possa olhar para o que falhou e “dar uns passos atrás, elevar o nível, e pensar a longo prazo”.
Da sua parte, sente-se contente com a carreira, afirmando ter agarrado as oportunidades que lhe surgiram, incluindo sair de casa aos 18 anos para rumar à Áustria para treinar e evoluir.
“Ao dia de hoje, posso ter orgulho, e ser talvez convencido, como me chamam nos pavilhões, mas posso ter esse estatuto porque trabalhei para isso, não me foi dado. As pessoas nunca vão acreditar o que me custou deixar as pessoas de que gostava com 18 anos”, lembra.
Como “qualquer pessoa tem o seu limite”, recorda como chorou quando viu gorada a qualificação para Tóquio2020, a frustração dos últimos meses e como foi perdendo “o gosto pela modalidade”, que só de pensar o deixava à beira das lágrimas.
Reencontrou-se, debelou uma lesão e, hoje em dia, licenciado em Ciências do Desporto, dá aulas de ténis num clube em Lisboa, tem o curso de treinador de badminton e vai manter-se a nível de clubes na modalidade, mas “de forma prazerosa”.
“Para o badminton português ter um representante nos Jogos Olímpicos não é só algo que o próprio atleta tem de querer, de ir à procura de patrocínios e condições. Tem de se pensar no trabalho de base que as pessoas querem desenvolver, e não só pegar em atletas e pôr em torneios internacionais. Com a qualidade e trabalho que os nossos jovens ao dia de hoje estão dispostos a fazer, iremos lá chegar. Não é por falta de qualidade”, analisa.
Sete vezes seguidas campeão nacional, Atilano anunciou há um mês, numa publicação nas redes sociais, a pausa competitiva nos torneios internacionais, mantendo-se a competir no clube, CHE Lagoense, e no clube em Espanha.
A intenção era despedir-se ‘em casa’ nos Internacionais de Portugal, em que compete hoje no quadro principal de singulares masculinos, nas Caldas da Rainha, e depois no Europeu de singulares, em abril na Alemanha, tendo ranking para isso, embora seja Bruno Carvalho o indicado.
“Não foi uma decisão voluntária da minha parte. Não fui eu que decidi que não queria ir. Decidiram por mim. Tenho de dar os parabéns ao Bruno, somos rivais mas somos do mesmo clube, somos portugueses e fico feliz por estarmos no Europeu. Tem trabalhado para tentar fazer o máximo de torneios, e os melhores resultados, e está de parabéns”, explica.
Esta mágoa não o impede de deixar recomendações para os próximos anos da modalidade em Portugal, desde logo olhando para o país vizinho, que criou condições para ‘lançar’ uma campeã como Carolina Marín, mas também pela organização e estruturação das participações no estrangeiro, a aposta em centros de alto rendimento regionais e “dando condições” aos atletas.
Comentários