E sim, por esta hora já o leitor se questionou, e com razão, "MK quê"? Já tendo tido o prazer de treinar no clube, de cada vez que tinha que explicar onde trabalhava, a pergunta habitual de quem ouvia era essa mesmo. O clube, situado a mais de cinquenta milhas de Londres, de onde é originário, alterou o seu nome pouco depois de ter alterado a sua localização. Lembra-se do Wimbledon FC? Esse, sim, é o nome original do MK Dons. Na verdade, já pouco terão em comum. Ainda assim, essas são as origens deste MK Dons, fundado em 2004.
Um ódio que tarde ou nunca terminará
Em meados de 2003, a direção do Wimbledon FC, depois deste ter entrado em insolvência, decidiu mudar a localização do clube e viajar cinquenta milhas a norte. Os adeptos, revoltados e sem perceber bem a mudança, apesar dos problemas financeiros do clube, decidiram de imediato virar costas aos responsáveis e criar o seu próprio clube. Mantendo as raízes e a mística do clube original criaram o AFC Wimbledon. Se os adeptos do antigo Wimbledon tinham a sua situação resolvida — apesar de terem uma longa caminhada de volta às principais ligas, começando na Non-League — já o "antigo Wimbledon" não estava numa situação favorável. Numa nova cidade e sem adeptos, o clube foi comprado por um grupo de empresários locais e de imediato passou a chamar-se Milton Keynes Dons.
Com a origem do novo nome no antigo WimbleDON, o MK DONS recusou-se a entregar todos os troféus ganhos pelo Wimbledon FC ao agora AFC Wimbledon, pelo que o ódio entre as equipas está presente em cânticos dos adeptos e sempre que existe sequer a possibilidade de ambos se defrontarem, o suspense é intenso. Uma nota para o facto de os clubes já se terem defrontado por três vezes desde 2004. O MK Dons lidera a contagem, com duas vitórias e uma derrota.
Ainda assim, com a construção de um novo estádio com capacidade para trinta mil pessoas e um centro de treinos com todas as condições para a equipa principal e correspondente formação, o MK Dons estava agora pronto para começar a construir o seu legado. Odiado por grande parte dos clubes que, sempre que o defrontam, tomam as dores do AFC Wimbledon, o MK Dons teve que construir uma base de adeptos. Descendo da Division I (terceira divisão inglesa) para a Division II (quarta divisão) nos dois primeiros anos de existência, foi então que a aposta na formação e no staff com ideias ‘diferentes’ viria a dar frutos e colocar o MK Dons na posição em que se encontra hoje.
Da League Two à Championship
A militar, neste momento, na Division I, o sonho e o projecto do MK Dons passa por chegar, dentro em breve, à Premier League. Com todas as infra estruturas necessárias, o clube resolveu focar-se não só no investimento de jogadores experientes para a primeira equipa, mas também na sua própria academia. Com uma localização ideal — nem muito perto, nem muito longe de Londres e dos tubarões da capital inglesa —, o MK Dons tem conseguido desenvolver jogadores tendo inclusivamente, de 2004 a 2014, dado a oportunidade a 14 jogadores formados no clube de se estrearem na equipa principal, entre eles Dele Alli. Foi aqui que o fenómeno inglês dos Spurs fez toda a sua formação e onde continuou por um ano, mesmo depois de assinar pelo Tottenham, nessa altura por empréstimo do clube londrino.
Este período (até 2014) coincide com a presença de um treinador, de seu nome Dan Micciche. Tendo chegado ao clube em 2007 e permanecendo lá até, precisamente, 2014, Micciche viria a revolucionar a maneira de ver o futebol de formação, não só no MK Dons mas influenciando muitos outras academias pelo país fora.
O "mago" Dan Micciche
Filho de emigrantes italianos, Micciche nasceu em Inglaterra e, apesar de ser o futebol inglês aquele que mais viu, foi a adoração pelo antigo internacional italiano Roberto Baggio que o fez apaixonar-se pelo desporto-rei. Com passagens como treinador pelas academias do Crystal Palace e Tottenham, é, contudo, no MK Dons, que Micciche tem espaço para desenvolver a sua filosofia e aplicá-la de forma consistente. Recorrendo à alteração do número de jogadores (por equipa) e ao espaço em que os jogos ocorrem, consegue manipular as diversas áreas que quer afetar, sejam elas técnica, tática, física ou social. Recorrendo à psicologia como forma de suporte, Micciche explica aos jogadores as razões pelas quais faz o que faz e, com eles, percorre o caminho que poderá, um dia, tornar o seu sonho em realidade. No fundo, forma jogadores de futebol.
Os campos de futebol para a formação no centro de treinos do MK Dons são cinco e todos eles têm tamanhos diferentes. Todas as equipas, dos Sub-9 aos Sub-16, jogam com regularidade nos diversos campos, aceitando o "caos" que poderá ser jogar em campos mais pequenos e explicando a pais, atletas e treinadores o propósito de tais "regras". Os jogadores são, assim, "forçados" a abraçar novos desafios. Com mais ou menos espaço, com mais ou menos colegas na equipa, os problemas e questões que o jogo nos trás são infinitas. Desta forma, os atletas terão que ter infinitas respostas e o seu desenvolvimento apenas terá a ganhar com isso.
Para o treinador inglês, um jogador conseguir sair de uma situação de pressão e contornar os obstáculos que lhe poderão aparecer pela frente, conta tanto ou mais que um golo. Com equipas mais reduzidas, as oportunidades de finalização são maiores, as situações de um-contra-um são constantes, e a evolução dos atletas é exponencial, afetando constantemente todas as áreas do seu desenvolvimento.
É-me difícil explicar toda a filosofia que levou o MK Dons a ter tanto sucesso na formação de jovens, mas se tivesse que reduzir esse mesmo sucesso a um ou dois pontos diria que, em primeiro lugar, o jogo é a constante. Desde tenra idade que os jogadores jogam jogos constantemente. Não existem esquemas nem situações sem oposição nos treinos, a aprendizagem é feita a jogar, manipulando o jogador e as regras. Em segundo lugar, o que acabei de mencionar, a manipulação do jogador. Com uma manipulação de cariz psicológico, fazendo com que os jogadores percebam o porquê de terem que enfrentar o caos, de ter que perder e errar, origina que, mais tarde, não só tenham jogadores com mais capacidade técnica, como jogadores com melhor capacidade de lidar com situações difíceis.
Tendo contribuído para a formação de diversos jogadores, Dan acabou por sair do MK Dons em 2014 para unir esforços com a Federação Inglesa, da qual também veio a sair em setembro passado. Acumulando, ao longo de três anos, as funções de responsável por todos os escalões abaixo dos Sub-16, treinador principal dos próprios Sub-16, adjunto dos Sub-18, Micciche viria a testemunhar a vitória no campeonato do mundo de Sub-20 dos seus pupilos, realizado no passado mês de julho na Coreia do Sul. Onde quer que trabalhe, o técnico coloca os seus métodos em prática e será muito interessante perceber em que clube irá trabalhar de seguida.
Ficamos atentos.
Esta semana, no futebol inglês
Com Dele Alli fora do onze (devido a castigo) a selecção inglesa conseguiu ontem, dia 5, a qualificação para o Campeonato do Mundo da Rússia. Batendo a Eslovénia por uma bola a zero, com golo de Harry Kane — quem mais? — a Inglaterra pode, assim, descansar na viagem à Lituânia agendada para este domingo, dia 8 de Outubro.
Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Tendo feito toda a sua formação em Inglaterra, passou por clubes como o MK Dons e o Luton Town, e também pela Federação Inglesa, o seu sonho é um dia poder vir a treinar na melhor liga do mundo, a Premier League. Até lá, pode sempre acompanhar as suas crónicas, todas as sextas, aqui, no SAPO 24. E não se esqueça que poderá sempre juntar-se à nossa liga SAPO 24 na Fantasy Premier League. O código de acesso é o 3046190-707247.
Comentários