O «tanking» é uma das maiores preocupações da NBA nos anos mais recentes. Em setembro passado, a liga aprovou a mudança das regras da lottery e definiu que, a partir do draft de 2019, as três piores equipas da época anterior teriam exactamente a mesma probabilidade de obter a primeira escolha do draft: 14%.
Mas - lá está - só a partir de 2019.
O que significa que este ano se mantêm as hipóteses que têm estado em vigor até aqui: 25% para a pior equipa, 19,9% para a segunda pior e 15,6% para a terceira pior. Quanto às probabilidades de conseguir uma escolha no top-3, também mudam. Antes, as três piores formações do ano anterior tinham 64%, 56% e 47% de hipóteses, respectivamente, de conseguir uma escolha no top-3 e, com as novas regras, terão 40% independentemente da posição.
Ao contrário do que o General Manager dos Houston Rockets, Daryl Morey, tweetou após o anúncio da reforma da lottery, o «tanking» não está resolvido. Será eventualmente atenuado, mas não resolvido. E, enquanto não chega 2019, esta época é "um ver se te avias" para garantir aqueles 25% de probabilidades de escolher antes dos outros. Até porque o próximo draft inclui nomes como Luka Doncic, Deandre Ayton, Mohamed Bamba, Jaren Jackson Jr., Marvin Bagley III, Michael Porter Jr. e Trae Young, entre outros.
É o pote no fim do arco-íris. E, com as mudanças na lottery e o talento do draft de Junho, este é o último pote e está recheado.
O donos dos Dallas Mavericks, Mark Cuban, confessou há dias que disse aos jogadores da sua equipa que "perder é a melhor opção", agora que os playoffs são uma miragem. Consequência? Multa de 600 mil dólares. Não é gralha. SEISCENTOS MIL DÓLARES. Outros foram mais cautelosos e, em vez de falar, agiram. É o caso dos Chicago Bulls e dos Memphis Grizzlies, que decidiram enviar os jogadores mais veteranos para o banco de suplentes e promoveram os miúdos inexperientes para o cinco.
Aposta no desenvolvimento dos mais novos, dizem eles. [inserir emoji pensativo]
A NBA não brinca em serviço e, para além da multa pesada a Cuban, enviou um memorando às trinta equipas, explicando que o respeito para com os adeptos é uma das principais razões de existência da liga e que o «tanking» não tem lugar na NBA, pelo que ia ordenar a "monitorização da forma de jogar de todas as equipas até ao fim da temporada" e, caso se prove que há equipas a perder de propósito, medidas duras serão tomadas.
Depois da multa e do memorando, é provável que as equipas pensem duas vezes antes de fazer «tanking». Nada temas, Adam! Nós decidimos olhar para o passado recente e metemos uma lupa sobre os números do mês de Fevereiro das sete equipas que parecem estar a lutar pelo último posto da tabela classificativa da fase regular da época: Atlanta Hawks, Chicago Bulls, Dallas Mavericks, Memphis Grizzlies, Orlando Magic, Phoenix Suns e Sacramento Kings. Eis algumas conclusões.
Os Hawks (4V-7D) são péssimos nisto do «tanking». Ou então disfarçam bem. Apesar de apresentarem percentagens de lançamento fracas (43.2% de campo e 32.0% de triplos), têm uma Eficiência Ofensiva* de 100.8. Como a formação de Atlanta registou uma Eficiência Defensiva** de 104.5, o Net Rating (diferença entre eficiência ofensiva e eficiência defensiva) é de -3.8, ou seja, o mais baixo das sete equipas analisadas. Se olharmos para o que os comandados por Mike Budenholzer fazem exclusivamente nas segundas partes dos jogos, o registo melhora para -3.2. E há mais um número interessantes dos Hawks: dos 11 jogos efectuados, seis foram decididos por 5 ou menos pontos e, desses seis, venceram metade. Com um Net Rating no Clutch*** de +3.5.
Os Bulls (2V-8D) parecem estar mesmo a fazer «tanking». E não conseguem disfarçar. A diferença de números entre as primeiras e as segundas partes, em dez jogos realizados em Fevereiro, é evidente. A Eficiência Ofensiva caiu de 105.7 nos primeiros 24 minutos para 95.0 na etapa complementar dos jogos. Quanto à Eficiência Defensiva, piorou de 108.7 para 113.0 de uma parte para outra. O Net Rating mostra uma equipa de Chicago com duas caras: -3.1 na primeira parte vs. -18.0 na segunda.
Por outro lado, há duas equipas que se destacam - e muito! -, pela negativa: «tanking» é o nome do meio dos Suns (1V-10D) e dos Grizzlies (0V-10D). Apesar de contar com o recente vencedor do concurso de três pontos, Devin Booker, a equipa de Phoenix tem a pior eficácia nos lançamentos exteriores, em Fevereiro: 30.4%. Isso reflecte-se na Eficiência Ofensiva (97.6), o que, combinado com a má Eficiência Defensiva (113.7) do conjunto do Arizona, dá um Net Rating de -16.1. Os Suns tiveram cinco jogos renhidos no último mês e o cenário agrava-se no Clutch: 86.2 de Eficiência Ofensiva e 140.9 de Eficiência Defensiva, para um Net Rating de -54.7!
Chocados? Esperem pelos números dos Grizzlies. Marcaram apenas 94.2 pontos por jogo, com uma percentagem de 41.7% de "tiros" de campo, e cometeram quase 18 turnovers por partida. O ataque da turma de Memphis é miserável, sobretudo nas primeiras partes (Eficiência Ofensiva de 90.7). E o desempenho no Clutch impressiona ainda mais. Nos quatro jogos disputados até à buzina final, quatro derrotas para os Grizzlies e os últimos cinco minutos desses encontros revelam uma Eficiência Ofensiva de 53.3 (!), uma Eficiência Defensiva de 128.2. Contas feitas, um Net Rating de -74.9! Assim, ganhar não é opção.
Na verdade, não acreditamos que jogadores e treinadores percam de propósito. Ficariam irremediavelmente rotulados e, mais cedo ou mais tarde, seriam afastados de uma liga em que só sobrevivem os verdadeiros profissionais. Mas não se fazem omeletes sem ovos e se as decisões do front office prejudicam quem anda dentro das quatro linhas, pouco ou nada há a fazer. O comissário está atento, promete punir os prevaricadores e manter o espírito reformista com o objectivo melhorar o que está menos bem. Será suficiente?
*Eficiência ofensiva: pontos marcados por cada 100 posses de bola
**Eficiência defensiva: pontos sofridos por cada 100 posses de bola
***Clutch: Últimos cinco minutos de jogos decididos por 5 ou menos pontos
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