Diz o ditado que não se fazem omeletes sem ovos. No contexto desportivo, serve o dito para ilustrar a necessidade de ter os melhores jogadores para se aspirar a conquistas. Por melhores que sejam a organização, a estratégia e a tática de uma equipa, por melhor que seja o seu sistema e por melhor que esta jogue, isso só a levará até certo ponto. Normalmente, quem tem os melhores jogadores ganha.
Mas não é menos verdade que só o talento pode não bastar. Sem um bom treinador, uma equipa com grandes jogadores pode nunca atingir o seu potencial máximo. Não se fazem omeletes sem ovos, mas os melhores ovos nas mãos de um mau chef podem não dar uma boa omelete. Ou, pelo menos, não dar uma omelete tão boa como os ingredientes permitiam. Ou seja, um bom treinador faz diferença. Prova número um: os Milwaukee Bucks.
Nas duas últimas temporadas, a formação do estado do Wisconsin teve ao seu serviço um dos melhores jogadores do planeta (um facto não de somenos importância para uma equipa sediada num dos mercados mais pequenos e menos atrativos da liga) e um bom elenco secundário, mas ficou sempre aquém das expectativas (um facto não de somenos importância para uma equipa sediada num dos mercados mais pequenos e menos atrativos da liga e que, por isso, tem de fazer tudo para manter o talento por lá).
Sob o comando de Jason Kidd, os Bucks entraram em cada uma dessas épocas a prometer tomar de assalto a conferência Este. Mas em cada uma delas ficaram-se pelo meio da tabela, pela entrada por pouco nos playoffs (foram 6.ºs em 2016-17 e 7.ºs em 17-18) e por uma eliminação precoce na primeira ronda (em 16-17, perderam 4-2 frente aos Raptors e em 17-18 foram derrotados em 7 jogos por uns muito desfalcados Celtics).
Este ano, fizeram o melhor arranque desde os tempos de Kareem Abdul-Jabbar e Oscar Robertson (a temporada a seguir ao único título da sua história e, uma curiosidade, o ano em que Lew Alcindor mudou oficialmente o nome para Kareem Abdul-Jabbar). Nessa temporada de 71-72 também começaram com um recorde de 7-0.
Ora, o plantel é praticamente o mesmo do ano passado. A principal contratação nesta offseason foi Brook Lopez. Por isso, não está por aqui a explicação para este arranque. Giannis está a fazer um começo de temporada sensacional. Mas também o fez nas duas últimas temporadas. Portanto, também não encontramos aqui a maior razão para esta boa partida. Qual a grande diferença então? Mike Budenholzer.
Coach Bud, que, depois de nos ter mostrado isso nas suas primeiras temporadas em Atlanta (e de nos ter feito esquecer um pouco quando acumulou o cargo de treinador com o de diretor-geral da equipa), volta a recordar-nos que é um dos melhores treinadores da NBA.
Não nos interpretem mal: Giannis Antetokounmpo está a fazer um começo de temporada incrível e, dentro de campo, é o maior responsável por este arranque. Mas, como referimos acima, o Greek Freak já fez isto nas duas épocas anteriores e isso não se traduziu em sucesso coletivo. O que mudou não foi a sua produção, mas antes o aproveitamento da mesma. Bem como da dos que o rodeiam.
Com Budenholzer, os Bucks estão a jogar um estilo de jogo bastante diferente e a potenciar as suas peças ao máximo. E a ordem é para correr, penetrar e atirar.
Depois de serem uma das equipas com o ritmo de jogo mais baixo da liga nos últimos dois anos (26ºs em 2016-17, com 94.5 posses de bola por jogo; 20ºs em 2017-18, com 96.2 posses de bola por jogo), este ano são a quinta equipa com o ritmo de jogo mais alto, com 104.3 posses de bola por cada 48 minutos.
E depois de serem uma das equipas que menos triplos tentou no último par de épocas (24 triplos por jogo em 2017-18 - abaixo da média da liga de 29; e 23.7 em 2016-17 - abaixo da média da liga de 27), este ano estão com umas inacreditáveis 41 tentativas por jogo. Mais 10 do que a média da liga. Nestes 10 primeiros jogos, 45% dos seus lançamentos foram para lá da linha dos 7,25m. Mas não são apenas mais lançamentos de três. São também melhores lançamentos de três, pois estão a liderar a liga em triplos não contestados, com 22.6 por jogo (bem acima dos 14.3 do ano passado).
“Não queremos fazer lançamentos difíceis e contestados”, afirmou recentemente Budenholzer em declarações à ESPN, “mas se estás aberto, queremos que lances. Mas não nos podemos esquecer da movimentação de bola e da movimentação dos jogadores, continuar a penetrar, provocar rotações e ajudas, coisas dessas.” E por 'coisas dessas' Budenholzer quer dizer: criar espaço para Giannis penetrar e atacar o cesto.
É um sistema que se alimenta a si próprio: as penetrações de Giannis criam espaço para os atiradores e os atiradores criam espaço para os ataques ao cesto de Giannis. Um sistema de jogo mais rápido, mais móvel e mais eficiente. Um sistema em que Bud tira o melhor partido das peças que tem à sua disposição.
Esta é uma apologia dos bons treinadores, mas também podia ser uma crítica às multitarefas. Depois de andar a dividir os seus talentos e a sua atenção pelo trabalho dentro de campo e fora deste, Mike Budenholzer dedicou-se apenas a uma tarefa, focou-se naquela onde é melhor e os resultados estão à vista. Chef Bud deixou a gestão do restaurante para outros, meteu-se na cozinha e está a fazer das melhores omeletes lá do sítio.
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