Para quem não percebe as primeiras quatro palavras do título nós traduzimos: Não, não vai para casa, uma brincadeira em alusão ao It’s Coming Home que os súbditos de Sua Majestade vociferaram desde o primeiro dia da campanha da Inglaterra no Mundial 2018.

A reação dos adeptos ingleses ao golo de Perisic foi o esperado… o início do fim do sonho chegava na forma de um empate que iria forçar o 2º encontro das meias-finais para um prolongamento que ninguém (cof cof… França) desejava.

A verdade é que os ingleses tiveram direito a 45 minutos de avanço, com claras possibilidades de aumentar o score, mas falharam sempre na hora de decisões. Não houve HurryKane neste dia que necessitava de um abanão para dar aos ingleses uma final que vem sendo negada edição após edição.

Depois aconteceu o toque letal da Croácia do MVP improvável… Perisic. Se o extremo de 29 anos tinha sido o herói do equalizer, então o que dizer da assistência “sem querer” do croata? Um (mau) alívio da defesa inglesa, uma cabeçada de génio e um encosto final subtil que traspassou não só o valente Pickford (outro jogo imenso do guardião inglês) como toda a nação inglesa.

O ponto final no It’s Coming Home… no máximo, para além das malas de viagem poderão levar medalhas de bronze sem as honras de Campeão.

E quando falamos em campeões, Thierry Henry, um dos maiores astros dos últimos 40 anos do futebol gaulês viu a “sua” Bélgica a cair diante da “sua” França. Para o antigo extremo do Arsenal, a meia-final foi como uma “faca de dois legumes” como diria Jaime Pacheco.

De um lado a seleção que defendeu de corpo e alma e que ajudou a levantar um Mundial e um Europeu; do outro, na sua atual função, enquanto treinador-adjunto de Roberto Martínez, nos Diabos Vermelhos.

No final dos 90 minutos saiu vitoriosa a terra da Liberdade, Fraternidade, Igualdade e Henry sentiu o amargo de perder, tentando amparar os seus jogadores. Um homem com duas “casas”, mas que soube viver o jogo como ninguém.

Um Xadrez mediterrânico que ninguém consegue desalinhar

Não há dúvidas que a chegada da Croácia à final fica como a grande surpresa das meias-finais. Dificilmente poderá o leitor aceitar esta ida ao último jogo dos croatas como surpresa, até pelo imenso mundial que protagonizaram.

Sem derrotas ou empates na fase de grupos, uma goleada à Argentina, tirou a seleção da casa de fora da prova e agora matou um daqueles contenders de sempre.

Na meia-final os croatas só decidiram aparecer na segunda-parte como se desafiassem o destino, exigindo que a Inglaterra demonstrasse toda a sua vontade para chegar à final. Uma primeira parte de alta intensidade dos enviados de Sua Majestade não bastou e nem aquele espetacular golo de Kieran Trippier aos 5 minutos abriu a defesa croata às vontades e delícias dos seus adversários.

Harry Kane apareceu sempre adiantado no último passe e sentiu muita falta de um Sterling mais esclarecido; Dele Alli foi sempre “engolido” por Vida ou Vrsaljko, ficando muito aquém num jogo decisivo (o jogador dos Spurs não é tão fantástico como alguns querem fazer querer).

Houve mais Inglaterra, não haja dúvida disso, como foi possível ver pelo futebol em profundidade, sempre de rápida transição, passe fácil e combinações curtas mas eficazes que procuravam desconjuntar a defesa croata.

Porém, como num jogo de Xadrez, a paciência normalmente é o passo certo para ir em busca da vitória e foi exatamente isso que Modric e companhia fizeram. Quando reentraram para a segunda metade do encontro, a Croácia começou por anular os peões (Lingard, Trippier e Alli), pressionaram o Bispo (Stones) e circundaram a Rainha (Pickford) exercendo uma alta pressão através de um jogo de toque e vai buscar dinâmico e rotativo.

A certa altura parecia que a Croácia tinha mais jogadores em campo que a Inglaterra, preenchendo bem o espaço e abrindo os espaços suficientes para ganhar território. Com maior liberdade nas alas, a seleção de Dalic tanto procurou o passe para o jogo interior e devolver para a quina da área como se fosse tricô, assim como atirava centros pingados para o meio da área de forma a explorar as costas de Maguire ou Stones.

Num desses centros, Vrsaljko enviou um passe teleguiado que Perisic correspondeu com um toque primoroso… Pickford já não chegou a tempo.

O 1-1 foi resultado do equilíbrio de jogo e de uma Croácia mais agressiva taticamente, libertando da fisicalidade no corpo a corpo (faltas excessivas nos primeiros 45 minutos) para apostar na tal pressão que Modric, Rakitic e Rebic gostam tanto de jogar.

Na primeira parte do prolongamento, ambas as equipas tiveram oportunidades mais que suficientes para terminar com o empate; a Inglaterra, especialmente, pode “queixar-se” de Vrsaljko ter surgido no segundo poste a cortar uma cabeçada de Stones.

Todavia, o Coup de Grâce chegou já perto do final do encontro… Perisic aproveita um mau alívio de Walker, para ao mesmo tempo amortizar a bola com a cabeça e fazer um passe para Super Mario Mandzukic fazer o 2-1.

Foi a estocada final… a Croácia voltou a demonstrar uma frieza incalculável durante todo o encontro, confirmando aquilo que se esperava: é uma equipa consistente, consciente das suas forças, solidária e extraordinária com a bola nos pés e que faz o adversário pensar que está por cima do jogo, quando é ela quem domina todos os desígnios.

É a surpresa que o Mundo do Futebol precisa… e recordem-se, a última seleção a derrotar a Croácia numa fase final foi Portugal no Euro 2016… a tocha está passada!

Velocidade, raça e eficácia valem uma final

Se a Croácia foi a surpresa das meias, Perisic foi o MVP (Jogador Mais Valioso). O médio do Inter de Milão foi decisivo no golo marcado e na assistência para a reviravolta e só isso devia chegar para este destaque. O golo trouxe a melhor Croácia para o jogo e a assistência no prolongamento destruiu por completo a equipa inglesa.

Mas o que fez Perisic no resto do jogo? Tudo. Defensivamente tapou bem o seu lado esquerdo, evitando problemas para a sua baliza; ofensivamente, foi o melhor nas duas fases do jogo. Enquanto a Inglaterra mandou no encontro (nos primeiros 45 minutos) foi o mais inconformado, fazendo arrancadas e tentando sempre mudar o ritmo da partida. Na segunda parte, quando a Croácia estava mais confortável no jogo e com bola, Perisic foi o elemento de desequilíbrio a partir da esquerda, desmontando a defesa inglesa.

Depois do golo do empate, Perisic enviou uma bola ao poste num lance individual fantástico. “Sozinho” o médio podia ter resolvido o jogo ainda antes dos 90 minutos mas faltou uma pontinha de sorte. Só no prolongamento a Croácia decidiu o jogo, com um passe de Perisic para o coração da área bem finalizado por Mandzukic.

Apesar de tudo isto, o que mais espantou na prestação de Perisic foi a velocidade e a raça que pôs em cada lance. Mesmo no prolongamento, já com imensos minutos nas pernas, Perisic não parou de correr para exercer pressão e limitar a saída de bola inglesa. Para além da clara qualidade da sua equipa, esta foi a matriz que levou a Croácia a chegar tão longe. Ninguém desiste de uma bola, ninguém facilita em nenhum lance. Perisic foi o auge disso mesmo na meia-final. Um grande jogo do médio de 29 anos que pode catapultar a equipa para um grande jogo na final de domingo.

Onze das Meias-Finais

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