"Foi (um clima) muito bonito, aproveitei muito, tirando este incidente no começo que espero não volte a acontecer, porque aqui é preciso desfrutar e é preciso haver paz entre o Brasil e a Argentina. Isto não é futebol, temos que aproveitar o jogo", declarou Del Potro no final da partida que o opôs ao português João Sousa. "Depois, houve muito respeito e aproveitei", acrescentou, relativizando as vaias e assobios que recebeu de adeptos brasileiros no arranque da partida, à semelhança do que já tinha acontecido no jogo contra Novak Djokovic, na véspera. Uma recepção hostil que não impediu, porém, que fosse ovacionado no final da partida, após vencer o tenista português por 6-3, 1-6 e 6-3, conseguindo assim passar à terceira eliminatória.
"Emocionalmente, o que estou a viver é muito forte, chorei muito de alegria, de felicidade ontem à noite, por ver a quantidade de gente que me apoiou enquanto estive fora e que me está a acompanhar neste momento, e poder responder-lhes dentro do court e não numa clínica ou num hospital", prosseguiu.
"A partida estava complicada, porque as pernas pesavam. Ontem à noite fui-me deitar às quatro e meia da manhã e hoje às nove já estava a tomar pequeno-almoço, sem ainda conseguir acreditar que tinha vencido Djokovic e que teria de jogar pouco depois também a pares", acrescentou Del Potro. Além do jogo em singulares frente a João Sousa, Del Potro jogou também ontem em dupla com o seu conterrâneo Máximo González frente aos espanhóis Rafael Nadal e Marc López, partida essa que os argentinos perderam.
"Senti (o cansaço) durante toda a partida, dormi menos de cinco horas e as pernas ficaram duras, mas voltei a ganhar (em singulares), estou na próxima eliminatória e isso é o que vale", disse, feliz, na zona mista.
No final do jogo que o colocou frente ao número um, Djokovic, os dois tenistas abraçaram-se e o sérvio disse algumas palavras ao ouvido de Del Potro. "Foram palavras de um grande amigo e de um grande campeão", limitou-se a dizer, sem dar mais detalhes.
Ao terceiro dia, a trégua olímpica voou pelos ares
A trégua olímpica entre o Brasil e a Argentina voou pelos ares no terceiro dia dos Jogos Olímpicos, com incidentes entre os adeptos argentinos e brasileiros durante a partida entre o tenista argentino del Potro e o português João Sousa. A partida foi mesmo interrompida por alguns minutos.
A rivalidade entre os dois vizinhos, duas potências da América do Sul, viveu um novo capítulo no court central do complexo Olímpico do Rio. Cada vez que um adepto argentino incentivava o seu tenista, os cariocas e demais brasileiros presentes respondiam com vaias. A situação piorou no início do terceiro jogo do primeiro set, quando um grupo de argentinos tentou agredir os brasileiros que criticavam os seus slogans de apoio a Del Potro.
O incidente acabou com a intervenção da Força Nacional, que retirou os argentinos das bancadas, com os brasileiros a gritarem "expulsa, expulsa!".
Coisa de futebol
Noutra competição, o basquetebol, os líderes da geração de ouro da Argentina - Luis Scola, Manu Ginobili e Andres Noccioni - criticaram os seus adeptos, porque aproveitaram a partida contra a Nigéria para lembrar aos brasileiros o 7-1 sofrido no Campeonato do Mundo de futebol frente à Alemanha. A seleção argentina venceu por 94-66 a Nigéria na noite de domingo num jogo disputado na Arena Carioca 1 do Parque Olímpico da Barra de Tijuca.
"Eu não quero que o Brasil perca. Eu só quero que perca quando jogar contra a Argentina. Parece-me tonto torcer contra uma equipa que não está sequer em campo", disse o basquetebolista Scola, acrescentando que achou "de mau gosto" insultar os brasileiros. "Festejar sete golos que se passaram há dois anos numa modalidade que nem sequer é o que estamos a jogar, com um país que nem sequer somos nós, torna a coisa ainda mais ridícula", disse. "Eu preferia não ouvir gritos contra o Brasil, mas sim a nosso favor. Isto é algo muito futebolístico, e que eu realmente não aprecio", concluiu o jogador do Brooklyn Nets.
Também Manu Ginobili juntou a sua voz ao coro de protestos em declarações citadas pelo jornal argentino La Nación. "Isto é uma coisa do futebol, que eu não gosto. É bom quando os adeptos vêm, sentem que fazem parte, apoiam-nos, empurram-nos, porque precisamos. Mas não vejo qualquer sentido em viajar tantos quilómetros e terminar a gritar contra quem nem está em campo", analisou o campeão da NBA.
Por outro lado, alguns adeptos argentinos no hóquei denunciaram no sábado que os brasileiros se aliam a qualquer rival da Argentina.
Uma rivalidade histórica que os atletas não querem ver reflectida no ambiente olímpico cujo espírito é, na génese, o inverso.
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