Mas saindo das questões depressivas e infelizes de quem gere a oval portuguesa, vamos agora explicar o porquê destes sub-18 e 20 serem tão importantes para o desporto português como qualquer outra modalidade (apesar do rugby representar só seis mil atletas em atividade em Portugal).

SUB18 – O Caminho para Kaliningrado

Rui Carvoeira e João Mirra, o selecionador e treinador nacional dos sub-18 portugueses, têm em mãos um dos processos mais delicados em termos de seleção, pois todo o processo começa no ano anterior. Ou seja, os 40 atletas que estão agora convocados para os treinos a realizar durante o mês de Fevereiro vieram de três vias:

- Jogadores que atuaram pelos sub-18 nas competições internacionais em 2018, que neste caso só 4 são elegíveis nesse processo;

- Jogador que já atuavam no escalão sub-18 em 2018, mas que não foram convocados para a Seleção Nacional e agora têm mais uma oportunidade para vestir a camisola das Quinas;

- Os atletas ex-sub-16 que participaram em selecções regionais, sofrendo um processo de selecção e escolha por parte das equipas técnicas nacionais, onde participam Henrique Garcia e Martim Aguiar (Selecionador Nacional A) na decisão;

Depois de meses constantes de apuramento dos melhores jogadores, o staff técnico dos sub-18 trabalham desde janeiro com um grupo alargado de 40 atletas e que no final das contas vão ficar 26 para o Campeonato da Europa.

O torneio organizado pela Rugby Europe vai decorrer entre 14 e 21 de abril, aproveitando as férias da Páscoa para pedir um sacrifico aos mais novos, o de prescindirem das férias para representarem as cores nacionais.

A competição é organizada em eliminatórias, que começam nos quartos e terminam no dia de finais (desde a luta pelo ouro até à fuga à despromoção) com Portugal a ter como adversária a Bélgica no jogo 1. Alemanha, Geórgia, Rússia, Holanda, Rússia e Roménia compõem os outros participantes, numa prova que exige a melhor forma e capacidade física por parte dos jogadores de forma a aguentarem três jogos em 7 dias.

É o processo da vida internacional de vários atletas, num escalão por onde passaram grandes nomes como José Lima, Gonçalo Uva, Pedro Leal, Joaquim Ferreira, entre outros, até aos mais recentes heróis nacionais como Vasco Ribeiro, Manuel Picão, José Luís Cabral, Nuno Mascarenhas, entre outros.

E quem são os nossos representantes? Bem podem ver toda a lista neste artigo (Sub-18 de Portugal), mas deixamos nota de alguns talentos nacionais que deviam ter a vossa atenção como têm em outras modalidades:

créditos: Luís Cabelo | Fair Play

- Domingos Cabral (AEIS Agronomia) é um dos aberturas (o que usa a camisola nº10, mais conhecido como playmaker) de maior capacidade de rasgo deste escalão e já o ano passado conseguiu furar de forma a conquistar lugar nos convocados finais para o Europeu. Rápido, um “pequeno” génio com a oval na sua posse e com um pé bem venenoso, é dos nomes mais fortes destes sub-18;

- Francisco Condeço Silva (CR Évora) é um asa/centro disciplinado e pronto para conseguir ir buscar adversários, assumindo-se como um lutador no breakdown e um “cavalo” de corrida, pronto sempre para mais um pico de aceleração e mais uma conquista da linha-de-vantagem;

- Simão Bento (AEIS Técnico) é daqueles defesas que estão sempre em busca de uma brecha na defesa adversária, galgando metros com todo o seu poder de aceleração e técnico de qualidade;

E porque importam os sub-18? Como já referimos, vários foram os nomes de alta importância que passaram por este escalão e passados uns anos conquistaram um lugar na Selecção Nacional A, afirmando-se como uma etapa decisiva na moldagem destes atletas. O bom trabalho do qual são alvo neste patamar, possibilita-lhes chegar aos sub-20 preparados para a exigência física, técnica e mental que Luís Pissarra e António Aguilar impõem.

Rui Carvoeira e João Mirra não procuram facilidades, mas sim formar os melhores atletas possíveis com consciência do que vem a seguir na sua vida desportiva e pessoal, lutando não só pelos resultados.

Conseguirão os Sub-20 fazer história no Rugby europeu?

A dois meses e três jogos de poderem fazer história na modalidade estão os sub-20, que depois de conquistarem o título nos Campeonatos da Europa de 2017 e 2018, procuram chegar ao tricampeonato consecutivo, algo que nunca aconteceu na História da Rugby Europeu.

A Geórgia teve oportunidade para tal em duas ocasiões, mas Espanha (2015) e Portugal (2012) conseguiram estragar o objetivo. Agora, em 2019, cabe aos comandados de Luís Pissarra e António Aguilar apontar a mais uma conquista, algo que é notado nas palavras do primeiro.

Luís Pissarra, numa entrevista concedida ao Fair Play (Entrevista com Luís Pissarra), dizia que o objetivo passa por “sermos campeões europeus e garantirmos o apuramento para o World Rugby Trophy. Portanto, não difere nada em relação aos últimos anos. Há três anos, os jogadores olhavam algo de lado e com alguma desconfiança para estes objetivos, mas hoje em dia está definido e, por isso, os grupos de jogadores que se seguem aceitam perfeitamente.”

Assim, no horizonte não está só o Campeonato da Europa, mas também o desejo de marcar presença no World Rugby Trophy pela terceira vez consecutiva, algo que foi conquistado com o típico suor, lágrimas e sangue, ou no caso do rugby ensaios, placagens e espírito de sacrifício.

Para 2019, o grupo de trabalho está nos 46 jogadores, mas até dia 1 de abril terá de passar para os 26 nomes finais (podem ver toda a lista aqui: Sub-20 convocados), o que será uma luta difícil para quem quer estar presente na competição.

Exatamente como os sub-20, escolhemos três representantes interessantes de acompanhar:

- José Roque (RC Montemor) é um dos avançados mais em voga em Portugal, tendo conseguido conquistar uma internacionalização pelo escalão A em novembro passado frente à Namíbia. É um 3ª linha com handling bem desenvolvido, capaz de inventar espaços e soluções para os seus colegas de equipa. Exímio na placagem e com um físico que dura e dura, é o capitão destes sub-20 em 2019;

- David Costa (Bath University), o pilar formado no GD Direito e que tem surpreendido na sua passagem por Inglaterra, é uma força a tomar em conta, já que está sempre predisposto a ganhar a frente na formação-ordenada ou na luta no contacto. Primeira-linha moderno, a agilidade e facilidade com que passa da placagem para ladrão de bolas no breakdown é de ponta e vai-lhe valer a titularidade no Europeu;

- Raffaele Storti (AEIS Técnico) é um dos ¾’s mais multifacetados do rugby português, podendo jogar a centro, ponta e defesa, sempre pronto para meter uma 5ª ou 6ª mudança na caixa de velocidades, sendo que a destreza e técnica de corrida fazem dele um perigo para qualquer linha de defesa. É um dos talentos do Técnico que tem jogado na equipa sénior que ocupa o 1º lugar da Classificação em Portugal;

Os sub-20 ainda esperam pelo sorteio das eliminatórias do Campeonato da Europa (é jogado igual ao dos sub-18), que se jogarão em Coimbra, pelo segundo ano consecutivo. É certo que Holanda, Espanha, Alemanha, Rússia, Roménia estarão presentes, mas ainda não há dados relativos ao adversário nos quartos-de-final.

Em relação à importância, os sub-20 são um passo essencial na concretização dos melhores jogadores de formação em Portugal, que já não são juvenis, mas sim séniores, e que lutam por sobreviver agora no patamar mais alto em termos de escalões etários. Os sub-20 são uma oportunidade ideal para os atletas perceberem o que se segue na sua vida, do trabalho ao sacrifício necessários e da necessidade de crescerem como jogadores.

Mais uma vez, Pedro Leal, Vasco Ribeiro, José Luís Cabral, José Lima, Joaquim Ferreira e dezenas dos grandes nomes do passado e presente do rugby português pisaram os relvados como internacionais sub-20, preparando-os para a fase em que se tornam Lobos.

Por outro lado, os excelentes resultados conquistados nos sub-20 nos últimos dois anos têm conquistado a atenção não só da World Rugby como de outras federações internacionais, que têm requisitado jogos amigáveis e encontros com a seleção portuguesa devido a esses mesmos resultados.

O Campeonato da Europa de sub-20 está marcado de 31 de março a 6 de abril e pode-se assistir em Coimbra aos jogos entre as melhores seleções da Europa, não contando aqui França, Geórgia, Inglaterra, Itália, França, Irlanda, Escócia e País de Gales.

É este o futuro da modalidade que vai agora lutar não só por resultados e honras, mas por continuar a dar uma esperança ao rugby português, com atletas mais internacionais que tentam a cada dia provar a sua importância na esfera do desporto.