Durou apenas cerca de quatro meses, a separação entre Leonardo Jardim e o AS Mónaco. Depois de conduzir o clube monegasco à glória com o título da liga francesa em 2016-17, o português não conseguiu dar repto a esse feito e a sua estada no principado piorou substancialmente nos dois anos seguintes.

Com a jovem e promissora turma de craques a ser progressivamente vendida, Jardim ainda conseguiu terminar em segundo na época seguinte mas o estado de graça foi-se degradando até ser despedido em outubro de 2018, com a equipa nos lugares de despromoção.

Agora, com o madeirense de volta ao Mónaco - tendo o próprio admitido que a história entre as duas partes "recomeça mais cedo do que o previsto" -, Jardim junta-se ao rol de treinadores famosos que regressaram a clubes onde se celebrizaram.

Pela partilha de nacionalidade, o mais notório e próximo caso de Jardim é o de José Mourinho, que voltou ao Chelsea em 2013 depois de abandonar o Real Madrid. Trocando o título de "Special One" para "Happy One", o setubalense esperava replicar o sucesso da primeira experiência em Inglaterra, quando, de 2004 a 2007, venceu duas ligas inglesas, uma FA Cup, duas taças da liga e uma supertaça. A experiência foi agridoce: trouxe o campeonato para Stanford Bridge em 2014-15, mas na época seguinte foi despedido depois de um início de época catastrófico.

Talvez os ingleses sejam mesmo os mais aptos a perdoar e a receber de braços abertos, uma vez que em Terras de Sua Majestade relatam-se vários exemplos destes retornos. Kevin Keegan, antigo artilheiro mortífero do Liverpool, estreou-se nas lides da tática no Newcastle, que ajudou a subir para a Premier League logo na época de estreia de 1992-93.

Nos cinco anos seguintes, a equipa do norte de Inglaterra brilhou com o seu futebol ofensivo, tendo mesmo estado na corrida para o título em 1995-1996, perdendo apenas na reta final para o Manchester United. O esgotamento levou-o a sair dos "magpies", para regressar 11 anos depois, numa frustrante época de 2008-09 onde entrou em colisão com o dono do clube, Mike Ashley, abandonando ao fim de nove meses.

Curiosamente, também o jogador contratado para substituir Keegan quando abandonou o Liverpool em 1977 teve um destino semelhante enquanto treinador. Depois do despedimento de Joe Fagan em 1985, Kenny Dalglish teve o raro estatuto de jogador-treinador, assumindo a equipa técnica enquanto ainda entrava em campo. A combinação rendeu três campeonatos e duas FA Cups aos "reds" (entre outros títulos domésticos), apesar de jogar cada vez menos e de ter sido ele a ver do banco o horror que foi o desastre de Hillsborough, em 1989.

Em 1991 abandonou o cargo, voltando 20 anos depois num surpreendente regresso da reforma. Dalglish conquistou aquele que ainda é o título mais recente do Liverpool - uma taça da liga - mas o técnico não resistiu a um dececionante oitavo lugar no campeonato e abandonou definitivamente a carreira enquanto treinador.

A noroeste, na cidade vizinha, e rival, de Manchester, poucos treinadores têm um estatuto mais lendário que Matt Busby. Basta dizer que se contam pelas mãos as equipas conhecidas pelo nome do treinador. O percurso de Busby, de 1945 a 1969, foi uma verdadeira montanha-russa com os "red devils", desde o sucesso nos anos 50 até ao coroar de glória que foi vencer a Taça dos Campeões Europeus em 1967-68, não esquecendo a tragédia de Munique que ceifou a vida de oito dos seus jogadores.

Saindo em 1969, logo depois de ser responsável pelo maior feito do clube até à data, Busby manteve a ligação ao Manchester United ao tornar-se parte da direção, tendo sido ele a abrir as portas para o seu substituto, Wilf McGuinness. Contudo, o antigo médio ala não se deu bem com a responsabilidade - não tinha experiência como treinador e também não ajudou ter apanhado com uma equipa em transição -, acabando a época 1969-70 em oitavo lugar. Na época seguinte, não fez melhor e ganhou apenas cinco em 23 jogos, abandonando o cargo em dezembro. Foi Busby a ter de assumir as rédeas para o remanescente da temporada, mas só conseguiu assegurar um novo oitavo lugar, reformando-se de vez.

No entanto, ser forçado a interromper a reforma para ser o bombeiro de serviço de um clube não é uma qualidade exclusiva dos ingleses. Que o diga Jupp Heynckes. Não contente em ser considerado um jogador lendário pelo Borussia Mönchengladbach, o antigo avançado inscreveu-se definitivamente na história do Bayern Munique ao regressar três vezes ao clube bávaro depois do seu período inicial de 1987 a 1991, no qual venceu a Bundesliga por duas ocasiões.

O primeiro ensaio foi em 2009: Heynckes tinha abandonado o futebol depois de uma péssima temporada a comandar o Borussia do seu coração. Contudo, como Jürgen Klinsmann demonstrou ter bastante mais talento no campo do que fora dele, foi despedido quando o Bayern estava em risco de não se apurar para a Liga dos Campeões, sendo Jupp chamado para retificar a situação e conduzir a equipa a um segundo lugar que, pelo menos, assegurava a entrada na competição.

Já o segundo ensaio foi bastante mais bem-sucedido. Sucessor de Louis van Gaal, Heynckes regressou em 2011 e, se a primeira época acabou em desilusão - perdeu o título para o Dortmund e foi eliminado nos penáltis pelo Chelsea na final da Liga dos Campeões, em casa -, a segunda foi o seu extremo oposto. Absolutamente temível, a equipa que o alemão liderou em 2012-13 foi um autêntico rolo compressor que estabeleceu um recorde de pontos na Bundesliga (91), venceu a Taça da Alemanha e a Liga dos Campeões que lhe tinham escapado no ano anterior. Novamente, o treinador disse que esta seria a sua última dança...

Até que saltamos para 2017-18. Carlo Ancelotti, era treinador desde 2016 e foi campeão na primeira época, mas o futebol praticado não convencia a notoriamente exigente direção dos bávaros. Poucas semanas depois da época começar, o italiano foi demitido e quem é que voltou ao ativo? Pois claro, Heynckes, já no alto dos seus 72 anos. O decano do futebol alemão levou o Bayern à conquista da Bundesliga uma última vez, fazendo-o (outra vez) com tamanha mestria que lhe foi pedido para continuar para a corrente época. Heynckes, compreensivamente, recusou.

Se o caso de Heynckes chega a ser cómico, o que dizer de Fatih Terim e da sua relação "pinguepongueiana" entre a seleção nacional da Turquia e o Galatasaray? Elevado a um estatuto de herói, o "Imperador" vai no seu quatro reinado na equipa de Istambul, isto depois de ter ocupado por três vezes o cargo de selecionador. Esta caricata história tem início em 1990, quando Terim se tornou adjunto de Sepp Piontek na seleção turca, substituindo-o três anos depois para apurar a Turquia para o Euro 1996, algo até então inédito.

O feito despertou a atenção do Galatasaray - clube pelo qual jogou durante 11 anos - e a junção foi um casamento perfeito: quatro campeonatos consecutivos entre 1996 e 2000, duas Taças da Turquia e uma Taça UEFA em 2000, batendo o Arsenal nos penáltis. Tal produtividade fê-lo ganhar mercado em Itália, comandando a Fiorentina e o Milan, mas ambas as experiências acabaram em seco (se bem que deixando saudades nos "Viola"), voltando à sua ex-equipa em 2002.

Esse foi o fim da carreira internacional, já que, desde então, tem saltado entre a seleção turca e o Galatasaray. Enquanto selecionador, o melhor que conseguiu foi levar a nação de Ancara às semi-finais do Euro 2008. Já na turma do bairro de Gala o caso é distinto: foi bicampeão entre 2011 e 2013 e voltou a conquistar a Süper Lig em 2017-18, sendo o atual campeão em título.

Por fim, um caso completamente antitético ao do turco, por ventura tão cínico quanto o futebol praticado no seu país. Fabio Capello esteve ao leme do Real Madrid durante apenas duas épocas, separadas por dez anos de distância. Centrocampista de renome, Capello demonstrou também ter talento enquanto treinador ao fazer do Milan campeão italiano por quatro ocasiões entre 1990 e 1996 e vencendo a quinta Liga dos Campeões da história do clube milanês.

Apesar de ser um treinador ortodoxamente defensivo de escola italiana, tal sede vencedora despertou o interesse dos "merengues", que o contrataram para substituir Arsenio Iglesias. Capello venceu a La Liga de 1996-97 e trouxe craques que definiriam o Real Madrid nos anos seguintes, como Clarence Seedorf e Roberto Carlos, mas a má relação com o presidente à época, Lorenzo Sanz, levou-o a uma saída precoce.

Diz-se que a história não se repete, rima, e, uma década depois de passar pela capital madrilena, Capello voltou aos "blancos", desta vez depois de ser bicampeão pela Juventus (títulos entretanto revogados devido ao escândalo de corrupção Calciopoli). Com o clube de Turim a afundar-se na Série B, Capello trouxe consigo Fabio Cannavaro e Emerson. Herdando uma equipa que não era campeã desde 2003, o italiano não só aplicou uma fórmula defensiva pouco apaixonante e "resultadista", como somou desaguisados com jogadores como Beckham, Ronaldo e Cassano, ou seja, escusado será dizer que não fez por ser adorado pelos adeptos.

Eliminado nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões pelo Lille e colocado no quarto lugar da liga em março, a sua continuidade esteve por um fio, mas Capello mostrou fibra de campeão e conseguiu mesmo conquistar o campeonato, fazendo-o no último jogo do campeonato, com uma vitória por 3-1 sobre o Maiorca. O italiano voltou mesmo a ser feliz no Santiago Barnabéu, mas foi sol de pouca dura: a 28 de junho seria outra vez despedido.