“Sinto que este sentimento começa a crescer. Os clubes sentem um desencanto de não haver uma abertura de espírito do Governo e da Direção-Geral da Saúde (DGS) para que o futebol não seja discriminado”, frisou Pedro Proença, à margem da abertura da quinta edição da Pós-Graduação em Organização e Gestão no Futebol Profissional.
As autoridades sanitárias proibiram hoje a presença limitada de convidados no camarote presidencial do Benfica, na receção ao Moreirense, em encontro da segunda jornada da I Liga, marcado para as 18:30, no Estádio da Luz, em Lisboa, motivando as críticas dos ‘encarnados’ à “demonstração de incompetência e incúria” da LPFP.
“Não vou comentar observações dos nossos clubes, que sentem que não há um princípio discricionário, a que o futebol é alheio, e que não pode, de forma alguma, ser tornado um exemplo para o regresso do público aos estádios. Os clubes percebem que o futebol é feito para os seus próprios adeptos e esse vértice desapareceu por completo”, vincou.
O regresso do público aos recintos ainda só foi viabilizado em jogos de competições não profissionais disputados nos Açores e voltará a ser discutido na sexta-feira entre Governo, DGS e Liga de clubes, que está “muito expectante” numa inversão de rumo que “dê tranquilidade” e traga adeptos ao futebol, “com todo o controlo e distanciamento social”.
“Não colhe o argumento de que o futebol pode ser visto pela televisão, porque há muitos jogos pelo país fora que não são transmitidos. Temos de encontrar soluções para que outras realidades que já acontecem em termos internacionais possam acontecer em Portugal. Não vivemos isolados do resto do mundo e da Europa”, alertou Pedro Proença.
Lembrando o contexto da Supertaça Europeia, realizada na quinta-feira, quando a UEFA limitou a presença de adeptos a 30% da lotação da Puskás Arena, em Budapeste, o dirigente apelou às autoridades portuguesas que permitam testes às infraestruturas dos clubes para o regresso gradual de público aos estádios.
“Esta semana assistimos a inúmeros jogos com acesso do público, que foram feitos de forma coordenada, ordeira e regimentada. Permitam-nos fazer os testes que sugerimos e ponham-nos à prova. Podem ter a certeza de que [as autoridades] terão a mesma reação que tiveram no final da realização das últimas 10 jornadas da época passada”, afiançou.
Caso contrário, Pedro Proença questiona “quem vai assumir as responsabilidades” geradas pela falta de receitas de bilheteira, que se podem traduzir em “impactos económicos” superiores a 100 milhões de euros para os clubes, numa das “poucas atividades sem apoios” governamentais durante o período de confinamento.
“Já não comento as implicações no futebol distrital e amador, em que a bilhética é fundamental para a sua sustentabilidade. Não pensem que no dia seguinte à decisão de abrir as portas tudo vai acontecer de forma natural. Há aqui perdas que não se recuperam num dia e teremos muita dificuldade em recuperar o nosso público”, lamentou.
Na terça-feira, a LPFP vai arrancar “um ciclo de ‘briefings’ sobre os números da covid”, que forçou já o adiamento de três jogos das rondas inaugurais dos campeonatos organizados pela entidade liderada por Pedro Proença: o Sporting-Gil Vicente, da I Liga, e o Feirense-Desportivo de Chaves e Académico de Viseu-Académica, da II Liga.
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