A vitória sobre a Macedónia do Norte no Estádio do Dragão no passado dia 29 de março trouxe não uma, mas duas boas notícias. Não só o “bis” de Bruno Fernandes significou que a seleção nacional se juntaria ao lote de nações confirmadas no Campeonato do Mundo de 2022 no Qatar, como teria o privilégio de integrar o Pote 1, evitando calhar na fase de grupos junto de algumas das equipas mais temíveis apuradas.
Porquê? Afinal de contas, ao ficar em segundo lugar no grupo A de acesso da UEFA, atrás da Sérvia, a seleção nacional teve de disputar o play-off de apuramento com o país acima mencionado, além da Turquia. Mas apesar da equipa comandada por Fernando Santos não se ter apurado diretamente, o facto de Portugal manter o oitavo lugar no ranking da FIFA permitiu manter-se no topo superior da hierarquia das seleções apuradas.
Pote 1: Como evitar cinco campeões do mundo de uma assentada
Isto são ótimas notícias, já que tal significa que Portugal não terá de enfrentar algumas das equipas mais complicadas, a começar pela Bélgica, cuja derrota que impôs por 1-0 significou a eliminação precoce da seleção nacional nos oitavos de final do Euro2020.
Mas a Bélgica não é a única. Com esta arquitetura, Portugal evita também o Brasil — acaba de subir ao topo do ranking da FIFA — e a Argentina, que venceu a Copa América 2021 e continua a ter em Lionel Messi a maior figura, além de um elenco de luxo.
Já na Europa, a seleção não pode também calhar na fase de grupos com a França — os atuais campeões do mundo —, com a Inglaterra — que, recorde-se, foi à final do Euro2020 — e com a Espanha. De facto, deste lote, a única equipa que se avizinhava “simpática” é mesmo o Qatar, no pote 1 porque é o país organizador.
Outro dado interessante: Portugal assim evita jogar na fase inaugural do torneio contra seleções que têm entre si 11 campeonatos do mundo: Brasil (campeão em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), França (1998 e 2018), Argentina (1978 e 1986), Inglaterra (1966) e Espanha (2010).
Pote 2: Grupo de velhos fantasmas e de um bicho papão
O que se segue no Pote 2? Aqui é que as coisas podem ficar mais complicadas para Portugal, já que figuram neste segundo grupo equipas de elevado nível de dificuldade.
A mais assustadora, sem dúvida, é a Alemanha, país que Portugal não vence desde aquele saudoso 3-0 no Euro2000 saído dos pés de Sérgio Conceição. Desde então, a seleção nacional perdeu todos os cinco confrontos com a Mannschaft, havendo dois a reter em particular: o 4-0 no Mundial2014 no Brasil — jogo de má memória em que Thomas Muller marcou um hattrick e Pepe foi expulso por agressão ao alemão — e o 4-2 do Euro2020, partida em que a equipa de Fernando Santos mais golos sofreu desde que o “engenheiro” assumiu o comando técnico das quinas, em 2015.
Outra equipa a temer neste pote 2 é o Uruguai, mais não seja pela memória do último Campeonato do Mundo, em 2018, na Rússia. Portugal caiu nos oitavos de final desse torneio perante a equipa sul-americana por 2-1, com bis de Edinson Cavani. Se excluirmos esse jogo, as duas seleções só se encontraram por mais duas ocasiões ao longo da história, com uma vitória portuguesa por 3-0 em 1966 e um empate a uma bola em 1972.
De resto, outra seleção que nunca significou boas notícias para Portugal em campeonatos do mundo são os EUA: se em 2002 a derrota por 3-2 na Coreia do Sul contribuiu para a eliminação precoce da equipa na fase de grupos, em 2014 o empate por 2-2 teve um efeito semelhante, já que foram os norte-americanos a passar para os oitavos de final, beneficiando da diferença de golos.
As outras seleções que figuram neste grupo são a Croácia, vice-campeã em exercício, os Países Baixos, a Suíça, a Dinamarca e o México. Se Portugal nunca defrontou suíços, croatas e dinamarqueses em campeonatos do mundo, o saldo contra neerlandeses é positivo — vitória por 1-0 nos oitavos de final em 2006, na célebre “Batalha de Nuremberga” — tal como contra mexicanos — 2-1 na fase de grupos de 2006, com golos de Maniche e Simão Sabrosa.
Pote 3: Sérvios, leões e um possível reencontro
A partir do pote 3 começam a surgir equipas teoricamente mais acessíveis, mas foquemo-nos no advérbio. Há, pelo menos, três adversários que Portugal preferirá não encontrar no seu grupo.
À cabeça está a Sérvia, que muitos dissabores causou à seleção nacional nesta caminhada para o Qatar, ficando em primeiro lugar no grupo de qualificação ao vencer por 2-1 no Estádio da Luz com um golo de Aleksandar Mitrovic aos 90 minutos.
Outras equipas de evitar são o Senegal — que carimbou o seu lugar no Qatar ao vencer o playoff contra o Egito e que é o atual campeão africano em título — e a Polónia — que, já sem Paulo Sousa no leme, se livrou de disputar o playoff com a Rússia, banida da competição.
Caso o sorteio assim o determine, uma das equipas do pote 3 pode significar um curioso reencontro. Se a Coreia do Sul calhar com Portugal, Paulo Bento terá pela frente a equipa que comandou entre 2010 e 2014. A confirmar-se, o atual selecionador dos coreanos poderá ainda ter do outro lado jogadores que treinou nas quinas, como Pepe, Cristiano Ronaldo, Rui Patrício, João Moutinho e William Carvalho. De realçar ainda que na única vez que as duas seleções se encontraram em partidas oficiais, a equipa asiática, a jogar em casa, venceu o último embate da fase de grupos por 1-0, o que determinou o afastamento precoce de Portugal no Mundial de 2002.
As restantes equipas que podem ser sorteadas são o Japão, a Tunísia, o Irão e Marrocos. Se Portugal nunca jogou contra a seleção nipónica e apenas encontrou a tunisina em amigáveis, contra os iranianos regista um empate (1-1 em 2018) e uma vitória (2-0 em 2016) em campeonatos do mundo e contra os marroquinos uma derrota (3-1 em 1986) e uma vitória (1-0 em 2018).
Pote 4: Onde residem as incógnitas
No último pote é onde se encontram as equipas com pior classificação no ranking da FIFA e, por isso, à partida as mais fáceis de defrontar.
Canadá, Camarões, Equador, Arábia Saudita e Gana já têm lugar reservado e, destas, a seleção nacional apenas encontrou os últimos num campeonato do mundo, vencendo por 2-1 em 2014 — a tal fase de grupos em que Portugal foi eliminado por ter uma diferença de golos desvantajosa face aos EUA.
De resto há ainda três equipas por apurar neste conjunto de equipas, fruto de jogos de playoff que ainda não ocorreram. O País de Gales vai encontrar os vencedores do Escócia-Ucrânia — adiado devido à atual guerra em curso —, a Austrália vai disputar um lugar com os Emirados Árabes Unidos e a Nova Zelândia vai fazer o mesmo contra a Costa Rica.
Como tudo vai acontecer
O sorteio vai acontecer esta sexta-feira e as 32 seleções finalistas do Mundial2022 serão distribuídas por oito grupos de quatro equipas (designados pelas letras A a H), compostos por uma formação proveniente de cada pote constituído com base no ranking da FIFA de hoje, com a obrigatoriedade de o Qatar ficar incluído no Grupo A.
As restantes sete seleções do pote 1 serão sorteadas na primeira posição das restantes ‘poules’ e nenhum grupo poderá ter mais do que um representante de cada continente, à exceção da Europa, que apura 13 equipas e poderá ter, no máximo, duas formações no mesmo agrupamento.
Isto significa que, por exemplo, se Portugal calhar com a Alemanha, já não pode encontrar a Sérvia, o País de Gales, a Escócia ou a Ucrânia, pois o sorteio decorre sempre sabendo-se primeiro quem são os cabeças de série.
Portugal vai participar pela oitava vez no Campeonato do Mundo (a sexta consecutiva, após as presenças em 1966, 1986, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018), cuja fase final da edição de 2022 se vai realizar no Qatar, entre 21 de novembro e 18 de dezembro.
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