Uma das ligações da Praça dos Restauradores ao Bairro Alto, em Lisboa, é feita pela conhecida Calçada da Glória. Trata-se de uma subida, íngreme, com inclinação superior a 17% ao longo de 265 metros de um traçado empedrado, ladeado por calçada portuguesa.
Para ajudar nesta subida que liga a parte baixa da capital a uma das mais conhecidas zonas boémias da cidade, o Elevador amarelo batizado com o nome da Calçada (Elevador da Glória, inaugurado em 1885 e classificado Monumento Nacional em 2002) dá uma ajuda a troco de 3,70€.
A alternativa é calcorrear a pé, a passo, sem grandes pressas nem longas passadas, um percurso no qual demoramos 3m30s, três minutos e trinta segundos, (o SAPO24 fez o teste) a percorrer o sentido ascendente da Praça dos Restauradores ao Bairro Alto (Miradouro e Jardim de São Pedro de Alcântara).
Mas há mais. Uma vez por ano, pelo menos, há quem arrisque a subida de bicicleta, cumprindo a Subida à Glória Jogos Santa Casa. Trata-se de uma centenária prova em duas rodas em cuja prova inaugural, em 1913, Alfredo Piedade (atleta do Sport Lisboa e Benfica) gastou 1 minuto e 05 segundos (1m05s) para completar os quase 300 metros da subida da Calçada e tem Ricardo Marinheiro (vencedor em 2013, 2014 e 2015) como recordista, com o ciclista de BTT da Maiatos a fixar o recorde em 35,59 segundos, sendo que Vanessa Fernandes (1m01s) ostenta o título no feminino.
O amor celebrado no alto
Na edição de 2018 subiram pelo empedrado rasgado pelos carris 123 ciclistas. Francisco Garcia, espanhol de Compostela, foi o primeiro a arrancar da meta com vista para o monumento que celebra a Restauração de 1640 (independência de Portugal face ao domínio espanhol e à Dinastia dos Filipes) mas foi um português, Miguel Salgueiro (Sicasal/Constantinos/Delta Cafés) a ser coroado como o “Torpedo da Glória”. Foi o vencedor na final trepando em 37,4 segundos. Marta Branco (Maiatos/Reabnorte) foi a vencedora desta prova noturna em contrarrelógio individual (55,56segundos) e Tiago Simões (FortunnaMaia) vencedor no ano passado, foi o mais rápido nas eliminatórias (36,7 segundos).
“Chegar lá acima não é fácil, parece que as forças acabam e não dá mais, mas depois o público anima-nos, são fantásticos. Foi espetacular, espetacular!”, exclamou Marta Branco, Campeã Nacional de BTT que repetiu o triunfo de 2017.
Sorridente, a vimaranense de 19 anos, teve ao lado no pódio o namorado Miguel Salgueiro. “Isto é uma subida duríssima, é arrancar à morte e dar tudo o que temos. Sou bastante explosivo, mas também tenho muita resistência e acredito que por essa razão consegui fazer a subida toda sempre em altas”, rematou.
Do fado ao rock o elevador foi testemunha silenciosa da corrida mais rápida do mundo
A corrida mais rápida e curta do mundo em duas rodas tem como palco natural o caminho pisado por um Elevador que mereceu honras de Fado na voz de Tristão da Silva e se transformou título de uma música de uma das bandas ícones do rock português, os Rádio Macau
O elevador parado na meta, como mero espetador por um dia, foi testemunha deste evento que mistura competição com cariz lúdico e popular e que teve como novidade as e-bikes, bicicletas híbridas que, de acordo com fonte da Podium Events, organização, “poupa 80% da energia que teríamos que gastar para fazer esta subida”.
Fernando Gonçalves, “que apanhou a primeira roupa que vi no armário”, pedalou com lantejoulas e um top, procurando não tanto vencer pelo tempo mais rápido, mas sim pela “roupa mais original”. Mascarado de havaiana com uma grande peruca vermelha e uns enormes óculos azuis venceu o Prémio da Originalidade.
O Padre Ismael Teixeira, conhecido como o “Iron priest” (padre de ferro, sacerdócio que participa em provas de Ironman), com o dorsal 137 abençoou a prova onde o atleta mais novo (Duarte Mixão, nascido em 18 de setembro de 2002) tinha uma diferença de 50 anos do ciclistas mais velho, José Gonçalves (21 de agosto de 1952).
“A idade é um posto”, dizem, mas aqui o mais novo (16 anos) contrariou essa máxima e seguiu a lógica natural. Gastou 55 segundos dos Restauradores ao Bairro Alto, enquanto o homem mais velho (66) nas duas rodas demorou dois minutos e três segundos (2m,03s).
Tânia Alexandre, cumpriu o trajeto pela primeira vez em competição. Conhece, no entanto, muito bem este caminho desnivelado. Trabalha na Misericórdia, paredes meias com a paragem do Elétrico no Bairro Alto. E a bicicleta não é um meio de transporte estranho. Utiliza uma backefiets, bicicleta holandesa com a qual leva os três filhos às escolas antes de subir a Calçada da Glória, a pé, com o Elevador da Glória a seu lado.
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