A AkzoNobel é uma das sete equipas participantes na Volvo Ocean Race. Está em Lisboa, na Doca de Pedrouços, local da paragem na capital portuguesa nesta aventura náutica à volta do mundo. Em Espanha, dias antes do arranque da prova, sofreu um revés.
Alicante, ponto de partida da regata à volta do mundo. A poucos dias do inicio da edição 2017-2018 da Volvo Ocean Race, Simeon Tienpont, skipper, foi destituído do posto pelo patrocinador, a AkzoNobel. Tienpont interpôs uma ação num tribunal holandês, que lhe deu razão, e foi reintegrado ao leme da equipa com bandeira holandesa. Na sequência, três velejadores, por sinal os mais experientes, abandonaram o barco. Tienpont remendou, refez a equipa e pediu emprestado António Fontes à tripulação Scallwag, na regata entre Alicante e Lisboa, perna em que terminaram em 4º lugar.
Com nova equipa, a AkzoNobel rumou a Lisboa e numa tarde de treinos no Tejo apresentaram-se oito tripulantes masculinos e duas velejadoras a bordo do Volvo Ocean 65.
A AkzoNobel acrescenta a bordo, tal como as demais equipas, um On Board Reporter (OBR), um repórter que fotografa, filma e escreve tudo o que se passa neste treino. Os OBR circulam por todo o lado, da proa à popa, de bombordo a estibordo, com enorme cumplicidade com toda a tripulação, adivinhando os passos e movimentos, registando tudo “o que mexe”.
A saída da Doca de Pedrouços é feita a motor e conta-gotas. As velas começam a ser içadas já com a doca nas costas. No AkzoNobel, com o auxílio de um “andarilho”, Brad Farrand, velejador da Nova Zelândia que se estreia nestas lides da vela oceânica, sobe às alturas para esticar bem esticadinha a vela principal.
Feita a distribuição de lugares. Nicolai Sehested (dinamarquês), repetente na volta ao mundo, agarra o leme; Emily Nagel (Bermudas inglesas), a mais nova da tripulação, dá uma ajuda a desenrolar velas; a brasileira Martine Grael dá literalmente à manivela, parecendo uma ciclista a pedalar com as mãos, um trabalho que é feito (quase) sempre em parelha. Simeon Tienpont, por sua vez, vai controlando tudo no meio do barco. Timoneiro da equipa, trabalha, troca impressões e dá sugestões. Os restantes ocupam os lugares que sobram. Ross Monson, que também dá o corpo ao manifesto, continuamente socorre-se de um “tablet” de onde retira informações e comunica com os demais.
Depois de um período de habituação aos ventos e correntes, de estudo, em que se aproveita para testar a reação da equipa e preparar manobras a executar, escuta-se pelo rádio que faltam cinco minutos para o início do treino. Altura para a tripulação aproveitar e fazer uma pausa para ingerir calorias que serão “queimadas” nas duas horas seguintes. Aproxima-se a navegação “a doer”.
Homens e mulheres a remarem no mesmo sentido
Ao som do sinal de partida as sete equipas na água executam manobras e a começam a velejar com toda a velocidade. Sehested, roda o leme, troca impressões com Tienpont. Antecipa uma manobra e alerta para a aproximação do barco da Mapfre e do Vestas. Intromete-se na corrente de vento, ganhando vantagem e avisa: “10 segundos para virar (a boia)”.
O movimento de troca de lugares tem de ser rápido. Tripulantes mudam de bombordo para estibordo, num bailado sincronizado, içam velas e seguem, procurando ganhar vantagem e velocidade. O skipper mantém sempre uma mão no leme e um olho nos barcos que o rodeiam. Por vezes quase que se deita para ver o caminho que tem pela frente.
Os tripulantes nunca param de falar uns com os outros. Cada qual a ocupa o seu posto, sendo que a entreajuda é regra. Há quem salte de um lado para o outro, do convés à proa, para ajudar a colocar no sitio uma vela que se tinha entrelaçado.
Nó desatado, com o vento a soprar quase sempre de forma constante a mais de 13 nós. Escuta-se o barulho das velas, dos cabos a esticarem e dos foils, tendo as vozes de quem comanda o barco como ruído de fundo.
A embarcação segue a direito, inclinada. Tão inclinada que a velejadora brasileira teve que esticar o braço e corpo para a frente para não cair. O OBR vai registando todo o trabalho de equipa. Um velejador, sem direito a nome nas costas da camisola oficial, entre uma manobra e outra bebe água e respira do esforço feito.
O relógio já passava das 16 horas quando, duas horas depois de terem começado o treino, foi dado o sinal de fim de regata. Foi tempo de “baixar a guarda” nas águas do Tejo. Velas para baixo, com minúcia e cuidado, outras recolhidas e embrulhadas.
Ao largo do Volvo Ocean 65 seguiu quase sempre o bote de apoio da equipa. António Fontes, que vai regressar à equipa que o contratou (a Scallwag) deu, no entanto, uma ajuda à equipa com quem velejou até à capital portuguesa. Com fim do treino decretado aproxima-se e entrega umas boias para que a embarcação atraque no lugar que lhe está reservado.
De volta à Doca de Pedrouços, é tempo do descanso merecido. Os tripulantes aproveitam para ingerir calorias em forma de bolos e aperitivos. Com o auxílio do motor, o barco entra de marcha atrás. Os tripulantes saem dos seus lugares e cumprimentam-se. Há sorrisos e sente-se bom ambiente a bordo. Simeon Tienpont solta um “well done” (muito bem) enquanto estica a mão e aperta suavemente a de quem se dirigiu a ele. À saída deixa uma garantia: “Temos reforços que se juntaram a nós em Lisboa e vamos até ao fim da prova”, garante o velejador que embarcou na sua primeira Volvo Ocean Race em 2005-2016 (com os holandeses da ABN AMBRO TWO) e que venceu por duas vezes a America’s Cup.
Comentários