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Ao longo das últimas décadas, diversos académicos afirmaram que trabalhar menos um dia teria um efeito preocupante nas economias dos países e que semanas de quatro dias não seriam possíveis.
Um estudo da empresa britânica Autonomy, entre 2015 e 2019 foi atrás de uma resposta diferente, observando os efeitos de trabalhar menos horas em 2.500 funcionários islandeses (1% da população ativa daquele país), distribuídos por áreas como a educação, a saúde, a segurança social ou trabalhos administrativos.
Porquê a Islândia?
Primeiro, porque a população ativa representa 87% da população total (1.º lugar no ranking da OCDE). Segundo, porque em média os islandeses trabalham 44 horas por semana (3.º valor mais alto do Eurostat). E, por último, porque os islandeses trabalham, em média, 47 anos, o valor mais alto da Europa. Um ótimo estudo de caso, não?
A experiência consistiu em reduzir a semana de 40 horas de trabalho para 35-36 horas, durante 5 anos, sem baixar ordenados, e perceber o impacto em termos de produtividade e bem-estar dos trabalhadores. De uma forma geral, a produtividade não foi prejudicada e, em muitos casos, cresceu graças ao maior bem-estar dos trabalhadores que passaram a ter:
- Mais tempo para estar com a família, amigos e os seus parceiros, diminuindo o stress nas suas relações;
- Mais tempo para si mesmos, gasto na prática de hobbies, ou simplesmente a descansar;
- Mais tempo para realizar tarefas domésticas, libertando mais tempo de qualidade para o fim de semana.
O estudo demonstrou também que o próprio bem-estar das pessoas que rodeavam os participantes desta experiência (pertencentes ou não da população ativa) teve melhorias significativas.
O sucesso desta iniciativa levou a que nos últimos dois anos, a maior parte das empresas islandesas fosse dando aos seus trabalhadores a oportunidade de beneficiar de horários de trabalho semanais mais reduzidos e que, em junho deste ano, 86% da população ativa já estivesse a (ou em vias de) trabalhar nestes moldes e sem redução salarial.
Pela saúde física e mental
O estudo feito na Islândia dá alguma esperança à comunidade internacional no que toca ao futuro do trabalho, uma vez que apresenta um possível caminho para reduzir picos de stress associados ao mesmo (também conhecidos como burnouts), que se tornarão tão comuns durante a pandemia. Mas mais do que chegar a esta conclusão, prova que é possível fazê-lo sem comprometer a produtividade, e desconstrói a ideia de que trabalhar mais está diretamente ligado a trabalhar melhor.
Will Stronge, o especialista que liderou a equipa que conduziu esta investigação, afirmou à BBC que “este estudo mostra o maior teste do mundo de uma semana de trabalho mais curta no setor público foi, em todos os aspetos, um sucesso esmagador”. Será um sinal de que num futuro próximo poderemos ter semanas de quatro dias?
Estamos à espera de quê?
Se a Islândia provou que é possível trabalhar menos e produzir o mesmo (ou mais), então basta aplicar o mesmo a Portugal, certo? Nem por isso. O caso islandês parece simples mas tem as suas nuances muito próprias. Olhemos para alguns números que nos ajudam a perceber o contexto em que aconteceu este estudo. Na Islândia:
- 196 mil e 700 pessoas trabalham, entre os 15 e os 64 anos, o que representa 87% da população (a taxa mais elevada da OCDE);
- Apenas 3,4% da população ativa está no desemprego (a sexta menor taxa da OCDE);
- O Produto Interno Bruto per capita chega ultrapassa os 39 mil euros. (Em Portugal, o mesmo valor não chega aos 20 mil euros);
- A duração de tempo de vida laboral ronda os 47 anos (a maior na União Europeia).
Posto isto, resta-nos perguntar, será que temos condições para fazer o mesmo? Não basta reduzir o tempo de pausas a tomar café para economizar tempo. Uma vez que há uma série de fatores relacionados com as políticas de cada país e com o tecido social, que tornam ou não possível adotar este modelo de trabalho.
No entanto, há alguns países/ organizações no estrangeiro que já começaram a tentar seguir o exemplo da Islândia, numa altura em que o trabalho remoto durante a pandemia levou o mundo inteiro a repensar em estratégias de conciliar a vida pessoal com a profissional:
- Empresas em Espanha e no Japão estão a testar a semana de cerca de 32 horas de trabalho, devido aos desafios criados pelo coronavírus;
- Um relatório feito no Reino Unido sugeriu a diminuição do horário laboral, tendo como fim a redução da pegada de carbono;
- A plataforma de gestão de redes sociais Buffer já começou o ano passado a implementar a semana de 4 dias úteis;
- A plataforma de crowdfunding Kickstarter, dos Estados Unidos, quer pôr à prova uma solução semelhante à islandesa em 2022;
- A Unilever está a testar a redução dos horários de trabalho em 20%, na Nova Zelândia, sem reduções salariais.
Pode ser que um dia Portugal seja mais um ponto nesta lista. Até lá, caminhamos passo a passo.
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