“Se nenhuma outra vantagem tiver, uma pelo menos seguramente [terá]: não teremos um presidente do Eurogrupo a ter uma visão idêntica à que o atual [Jeroen Dijsselbloem] tinha sobre os países do sul da Europa”, disse, arrancando risos às muitas dezenas de pessoas presentes na receção natalícia oferecida pela representação permanente de Portugal junto da União Europeia (UE).
Na sua intervenção, António Costa recordou que se celebram agora 10 anos sobre a assinatura do Tratado de Lisboa, lembrou as presidências portuguesas da União Europeia, todas elas “marcantes”, e defendeu que aquilo “que tem permitido sempre a Portugal afirmar-se”, apesar de haver muitos Estados-membros com dimensão económica e política superior, “é nunca se ter conformado na sua posição, e pelo contrário, ter percebido sempre que tem de ser particularmente ativo”.
“E é assim que ao longo destes 30 anos já tivemos um português eleito e reeleito presidente da Comissão [José Manuel Durão Barroso], os comissários, a começar pelo atual [Carlos Moedas, presente no evento], têm sido sempre reconhecidos pela excelência do seu desempenho e, nas diferentes instituições, sempre temos marcado positivamente a nossa presença e é esse esforço que temos de continuar a fazer e que diariamente temos de fazer”, disse.
Apontando que “este ano foi um ano particularmente saboroso para Portugal”, António Costa lembrou como o cenário mudou ao longo dos últimos 12 meses, recuando ao evento semelhante realizado há um ano na "embaixada" de Portugal junto da UE.
“Há um ano estávamos aqui, apesar de tudo, já a celebrar não nos terem sido aplicadas sanções, estávamos aqui com alguma esperança de que iríamos conseguir mesmo sair do procedimento por défice excessivo. Mas, a verdade é que podemos olhar para o ano de 2018 já sem receio de sanções, já sem receio de termos de ter novas discussões sobre décimas nominais ou estruturais para o procedimento de défice excessivo e até encarando já com normalidade que o ministro das Finanças português possa ser o próximo presidente do Eurogrupo”, referiu.
Introduzindo então a sua nota irónica sobre a diferença de perspetivas do atual e futuro presidentes do fórum informal de ministros das Finanças da zona euro sobre os países do sul da Europa, numa alusão às polémicas declarações de Dijsselbloem sobre os países do sul não terem legitimidade para pedir dinheiro depois de o gastarem em “álcool e mulheres”, António Costa, num tom mais grave, comentou que tal mudança “não é de somenos e significa claramente que algo de novo está a acontecer na Europa”.
“Há uma nova vontade, depois de anos muito difíceis e em que muitas divisões existiram entre os diferentes países europeus, de seguirmos em conjunto, reagindo positivamente. Se calhar o choque do ‘Brexit’ foi excessivo para o que era necessário, mas o que é verdade é que desde esse momento há com que uma nova vontade de a Europa se construir”, regozijou-se.
António Costa chegou hoje a Bruxelas para participar, na quinta e sexta-feira, no último Conselho Europeu do ano.
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