A indústria viveu o seu melhor ano em 2015, quando 1,184 mil milhões de pessoas viajaram para países estrangeiros. Mas entre as praias desertas do Norte da África e a saturação de Havana, a situação é de contraste, destaca a Organização Mundial de Turismo (OMT).
O exemplo mais claro das consequências políticas no setor em 2015 foi a Tunísia, cuja economia sofreu um duro golpe quando as suas praias e hotéis ficaram vazios depois dos mortíferos atentados contra estrangeiros. Este destino ensolarado e económico perdeu cerca de dois milhões de turistas este ano. Também em Paris nota-se uma redução do número de turistas, após os atentados de 13 de novembro de 2015.
Na Jordânia, "não houve atentados e, mesmo assim, sofremos uma dura quebra das visitas dos turistas europeus", lamentou numa viagem a Paris o ministro jordano do Turismo, Nayef al Fayez. Devido a um efeito dominó, "todos os países de tradição muçulmana sofrem, em diferentes medidas, inclusive destinos muito seguros como Omã", explicou à AFP Jean François Rial, presidente da agência francesa Voyageurs du Monde. "A única exceção é o Irão, que partirá do zero", disse Rial, referindo-se ao facto de que o país ficará aberto ao turismo internacional após o levantamento das sanções.
"É pegar ou largar"
"Não há dúvida de que, na cabeça de um turista ocidental, toda a região do Médio Oriente está, atualmente, associada à insegurança. Os beneficiados serão países como Grécia, Portugal e Espanha, já que oferecem um clima similar, preços competitivos e segurança", opinou Wouter Geerts, analista da consultoria internacional Euromonitor.
Isto traduz-se num aumento da procura por alojamento nesses países. "De repente os preços sobem porque os hoteleiros dizem aos operadores turísticos: "em vez de cobrar 50 euros por uma noite em quarto duplo, são 55; é pegar ou largar porque, de todas as formas, há outros três interessados", afirmou Olivier Petit, consultor da empresa In Extenso.
Esta batalha para conseguir um quarto de hotel também chegou a Havana, outro destino disputado, cuja baía agora recebe enormes cruzeiros diariamente. Esta imagem, pouco habitual antes do "17-D", data em que Cuba e Estados Unidos anunciaram, em 2014, um descongelamento de relações após décadas de bloqueio, fez com que a cidade ficasse superlotada. "Tenho um grupo de 250 pessoas que chegam esta semana e acabo de saber que já não posso contar com os 80 quartos que tinha reservado e que estavam pagos desde março. Tudo isto devido a overbooking", lamentou Stéphane Ferrux, diretor do "Cuba autrement", uma das poucas agências francesas que operam em Havana.
Risco do zika
Cuba registrou um aumento de 17% na chegada de turistas em 2015, "mas o país não está preparado, a qualidade não está a par dos preços, que subiram cerca de 50% em um ano e toda a gente quer aproveitar", explicou Ferrux.
As praias paradisíacas do Haiti também começaram a sentir o interesse dos turistas, seis anos depois do terramoto que devastou o país. O turismo mundial ainda tem na mira a América Latina e, em particular, a Colômbia, Peru, México e Argentina, destinos que, no contexto mundial de insegurança, oferecem exotismo, mas com menos risco. Agora a questão é como é que isto vai afetar a propagação do vírus zika nestes destinos, uma vez que as epidemias também penalizam o setor, como ocorreu com o ébola em África, o chikungunya no Caribe e o mers na Coreia do Sul.
Outros fatores, como a taxa de câmbio, podem, inclusive, fazer com que a saída ao exterior seja algo proibitivo, como ocorreu aos russos após o colapso da sua moeda em 2015 devido às sanções impostas à economia.
Os fluxos migratórios também se repercutem nos turistas, como sucedeu à ilha grega de Kos, que, entre janeiro e agosto de 2015, sofreu 178 mil cancelamentos de reservas pela onda de refugiados que chegaram às suas costas. Muitos cruzeiros eliminaram também a escala em Mitilene, a capital da ilha de Lesbos, segundo dados do Euromonitor.
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