"Os resultados contabilísticos foram muito afetados pelas dotações extraordinárias que fizemos para a carteira de imparidades. Trata-se de itens não habituais e não recorrentes", salientou o presidente Nuno Amado na conferência de imprensa de apresentação das contas, em Oeiras.
Este ano, nos primeiros nove meses, o BCP constituiu mais de 1.000 milhões de euros de imparidades, sobretudo para fazer face ao crédito malparado, no valor 816,7 milhões. O presidente do BCP considerou hoje que 400 milhões de euros são um “reforço extraordinário de provisões” e que não espera voltar a repetir.
Aliás, na apresentação de resultados, Amado fez questão de frisar que “sem itens não habituais” – perdas na desvalorização dos fundos de reestruturação empresariais e reforço de imparidades, parcialmente compensados por ganhos na venda da operação Visa – o resultado até setembro teria sido de 74,5 milhões de euros.
Nuno Amado admitiu hoje aos jornalistas que o BCP deverá fechar o ano com um resultado líquido negativo, tendo em conta que “o acumular [de prejuízos] em três trimestres já é relevante”, mas garantiu que 2017 será diferente: “Queremos voltar aos lucros a partir do primeiro dia do próximo ano”, afirmou.
Quanto à atividade internacional do BCP, no total o resultado líquido conseguido nessas operações foi de 134,8 milhões de euros, abaixo dos 149,3 milhões em igual período de 2015, sendo o principal contributo o da Polónia.
Olhando para os principais indicadores financeiros do banco, em termos consolidados, o produto bancário caiu 15,3% em termos homólogos para 1.571,9 milhões de euros, apesar do aumento da margem financeira de 3,5% para 907 milhões de euros, suportada pelo negócio em Portugal.
As comissões caíram 3,4% para 481,1 milhões de euros, com o BCP a dizer que a queda refletiu a evolução negativa registada na atividade internacional, uma vez que em Portugal as comissões subiram 2,8% para 343,2 milhões de euros.
Nos outros proveitos de exploração, o banco teve uma queda de 61,8% para 183,8 milhões de euros, o que segundo o BCP, se deve a, por um lado, no ano passado ter sido beneficiado com mais-valias de dívida pública portuguesa e, por outro lado, de este ano ter assumido maiores contribuições para fundos de resolução bancários, ainda que também a operação Visa tenha gerado ganhos (91 milhões).
O BCP fechou ainda setembro com uma redução de 5% de custos operacionais para 722,4 milhões de euros, com os gastos com pessoal a descerem 4,6% para 410,4 milhões, em ambos excluindo custos de reestruturação.
Quanto ao balanço, do lado do ativo, o crédito a clientes (bruto) caiu 6,1% para 52.610 milhões de euros, com a concessão de empréstimos na atividade em Portugal a descer 4,7% para 40.291 milhões de euros.
O presidente do BCP disse hoje que se vive uma “dicotomia” na concessão de crédito no BCP, com acelerada redução nos setores ligados à construção e imobiliário, até por imposição dos reguladores, mas que “existe já um princípio de retoma nos setores mais produtivos e no comércio”.
Quanto ao crédito vencido há mais de 90 dias (ajustado de operações em descontinuação), este caiu de 7,4% em setembro de 2015 para 7,2% este ano, segundo o BCP, que acrescenta que o rácio de crédito em risco no crédito total desceu também ligeiramente de 11,9% para 11,4%.
Já no passivo, os depósitos de clientes totais caíram 0,5% para 48.937 milhões de euros, sendo estes ajustados do impacto das alterações no Banco Millennium Angola.
Por fim, as contas do banco mostram que este reduziu o recurso ao financiamento do Banco Central Europeu (BCE) para 4,9 mil milhões de euros em setembro, comparando com 5,9 mil milhões de setembro do ano passado, enquanto o rácio de solvabilidade ‘common equity tier 1’ foi de 12,2% com as regras do período intermédio, abaixo dos 13,2% de há um ano, e 9,5% com os critérios completamente executados, que compara com 10% de setembro de 2015.
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