Esta é a opinião generalizada entre os analistas ouvidos pela agência Lusa sobre o que esperam do comportamento dos mercados nos próximos tempos, numa altura em que Portugal o mundo enfrentam a epidemia de Covid-19 com medidas expansionistas.
Para o analista e presidente da DFI Broker, Pedro Lino, as bolsas irão continuar voláteis nos próximos dois meses, à medida que são conhecidos os efeitos desta pandemia nos resultados das empresas.
“Iremos assistir a um rebalanceamento dos índices com o setor da banca, turismo, aviação e construtores de automóveis a perderem peso para as farmacêuticas, distribuição e ‘utilities'”, refere.
O analista afirma que os investidores, com visão de longo prazo, estão nesta altura a ter oportunidade “de entrar a desconto em empresas com elevada capacidade de gerar resultados, e cujo balanço é sólido o suficiente para ultrapassar esta fase de crise”.
“Existem agora oportunidades de investimento que são raras no mercado”, sinaliza Pedro Lino.
A principal consequência desta pandemia é um forte abrandamento da economia, com provavelmente uma recessão no primeiro semestre de 2020, para a partir de setembro existir uma retoma mais sólida, estima.
“Estaremos dependentes da segurança em termos de saúde pública, para uma recuperação mais sólida do mercado”, refere o analista, acrescentando que as empresas de grande capitalização serão as que se irão aguentar melhor e provavelmente sair mais fortes desta crise, uma vez que as PME [pequenas e médias empresas] podem enfrentar constrangimentos de tesouraria que impedirão algumas de continuar a sua atividade.
Também para o analista da corretora Infinox Nuno Caetano, as previsões são de que as bolsas se mantenham instáveis nas próximas semanas, até que se comecem a ter as reais perspetivas do impacto económico que o vírus está a causar a nível global.
“A palavra de ordem, neste momento, é cautela, visto que a forte volatilidade que se tem assistido nos mercados não deve ainda ficar por aqui”, avisa.
Para o analista da XTB André Pires, caso a situação nas bolsas se agrave, há o risco de mais banirem o ‘short-selling’ (vendas a descoberto) e, possivelmente, suspenderem as negociações.
Os reguladores de alguns países europeus, como França, Espanha e Itália, estão a banir a entrada de novas posições curtas, ou “short selling”, nas empresas cotadas em bolsa, para impedir que as quedas sejam ainda mais avolumadas, num momento de grande volatilidade nos mercados, devido ao impacto do novo coronavírus.
“Julgo que as consequências deste vírus também poderão ser de médio/longo prazo, uma vez que muitos fundos estão a ser canalizados para o combate à disseminação do vírus e ao apoio dos setores mais afetados, bem como às famílias em dificuldade”, sinaliza.
André Pires receia que algumas empresas possam sentir dificuldade em financiar-se devido à degradação das suas perspetivas e à liquidação no mercado de ações, mas empresas de retalho, como a Jerónimo Martins, poderão beneficiar da crescente procura, “devido à atitude de prudência da população em armazenar bens essenciais”.
“Num cenário mais pessimista, caso a pandemia se agrave ainda mais, o setor financeiro poderá degradar-se. A economia pode entrar em recessão e poderemos entrar noutra crise”, refere.
No entanto, reconhece, “estão a ser feitos enormes esforços no sentido de encontrar uma cura”, pelo que, num cenário mais otimista, caso se encontre uma cura, ou uma vacina, “poderíamos ver uma reversão abrupta da tendência de queda dos mercados”.
Sobre as empresas que compõem o PSI20, Pedro Lino diz que as cotadas ligadas à energia, Galp e EDP, estão a descontar “um forte abrandamento na procura de energia”, sendo provável que a distribuição (Jerónimo Martins e Sonae) constitua agora um suporte ao índice.
“O setor da banca continuará a ser pressionado pelo abrandamento da economia e aumento do crédito malparado. Apenas com garantias estatais ou da zona euro podem voltar a emprestar dinheiros às empresas, mitigando o seu risco”, refere.
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