O aviso foi deixado por Ferro Rodrigues na abertura do colóquio parlamentar “O impacto estratégico da pandemia de covid-19 no ambiente internacional”, em Lisboa, que juntou os ministros da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
O presidente do parlamento recordou que, antes do surto pandémico, já havia a emergência da “miragem de uma globalização idealizada”, o que pode ajudar a explicar o resultado do referendo do Brexit, que levou à saída do Reino Unido da União Europeia (UE).
“O risco agora é o oposto: é a tentação pelo protecionismo, pelo mercantilismo, pelo bilateralismo. Esta evolução reflete-se na comunidade internacional, a que a pandemia apenas veio carregar as cores”, disse.
As clivagens, admitiu, são cada vez “mais preocupantes”, como é o caso da “tensão entre os Estados Unidos da América e a China, cada vez mais ramificada”.
A que se somam “as disputas comerciais, acompanhadas de sanções, a cibersegurança, o 5G, ou, ainda, as disputas territoriais no mar do Sul da China e o seu impacto potencial nas rotas de comércio marítimo”, concluiu.
A resposta, para Ferro Rodrigues, deve ser o multilateralismo, que “é hoje mais necessário do que nunca”.
“Mais do que nunca, a cooperação internacional é uma exigência. Sem ela, todos perdemos”, disse.
Se há quem fale no “fim da ordem internacional” tal como existe “desde o fim da Segunda Grande Guerra Mundial”, só “o tempo o dirá”, mas o presidente do parlamento português deixou a convicção diferente.
A comunidade internacional está “em evolução” e “a pandemia tem funcionado como um contraste que torna mais visíveis as veias, com novos equilíbrios de forças e uma multipolaridade crescente, não assente, todavia, em valores e princípios comuns”.
“É uma realidade nova, mas que não abala os alicerces em que se funda a nossa ação externa: a Europa, o elo transatlântico, o espaço dos Países de Língua Oficial Portuguesa e as nossas Comunidades, e a defesa do multilateralismo, pelo que contém de congregador de cooperação e de respeito pelo Direito Internacional”, concluiu.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 534 mil mortos e infetou mais de 11,47 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.620 pessoas das 44.129 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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