Um quilograma de lixo reciclável vai ser trocado por duas notas “Lixo”, dinheiro criado pela Junta de Freguesia de Campolide, em que cada nota corresponde a um euro, e que apenas pode ser utilizado no comércio tradicional local.
Os comerciantes são, depois, ressarcidos pela Junta de Freguesia do valor das compras efetuadas pelos habitantes da freguesia com o recurso aos “lixos”.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Junta de Freguesia de Campolide, André Couto, disse que o projeto “Pago em Lixo” surgiu a partir de dois diagnósticos: a necessidade de mudar comportamentos cívicos relacionados com o lixo e a existência de uma crise no comércio tradicional.
Após o diagnóstico, o autarca propôs-se resolver estes dois problemas da freguesia com “uma ideia que fosse sexy”, no sentido de “cativar as pessoas para uma mudança de comportamentos dentro de casa, para a separação do lixo, para a reciclagem, premiando-as”.
“Há aqui um benefício económico direto de recompensa deste comportamento e, por outro lado, envolvendo também o comércio tradicional”, afirmou, explicando que, assim, a freguesia de Campolide pretende contribuir na construção de um mundo melhor.
O projeto “Pago em Lixo” destina-se à população residente na freguesia lisboeta de Campolide, com principal enfoque nas crianças, uma vez que representam o futuro e têm maior capacidade para influenciar a mudança de comportamentos dentro de casa.
A trabalhar há seis anos na higiene urbana de Campolide, Vítor Gonçalves admitiu à Lusa que as pessoas deitam muito lixo para o chão e “abandonam os sacos ao lado dos carros” ou “na porta das escadas dos prédios”, o que dificulta o trabalho de recolha de resíduos urbanos.
“Deixam entulhos, madeiras, sofás. Deixam tudo, é impressionante”, lamentou o trabalhador, esperando que o projeto “Pago em Lixo” contribua para que Campolide seja uma freguesia mais limpa.
Acompanhada da cadela Chanel, Teresa Cancela, moradora na freguesia de Campolide há mais de 15 anos, considerou que “tudo o que tenha a ver com a recolha de lixo e a limpeza da freguesia, essencialmente nas ruas, é sempre muito importante”, elogiando o novo projeto da Junta.
“Como é trocado por dinheiro e dinheiro sempre mexe na nossa cabeça, talvez a gente perceba - aquelas pessoas que deitam as garrafas fora, se calhar arrumam as garrafas porque valem um euro ou valem qualquer coisa”, declarou a moradora de Campolide.
O projeto “Pago em Lixo” tem já parceria com 70 estabelecimentos de comércio tradicional da freguesia de Campolide, nomeadamente cafés, restaurantes, cabeleireiros, peixarias, pastelarias e farmácias, ambicionando chegar à escala das centenas de comerciantes envolvidos.
Nesta fase inicial, a Junta de Freguesia de Campolide investiu cerca de 15 mil euros no projeto, referiu André Couto, adiantando que a autarquia está preparada, através de uma análise constante da relação custo-benefício, para investir mais.
“Basicamente, a freguesia, a cidade e o país agradecem, porque vamos tropeçar menos em lixo e vamos viver numa comunidade mais limpa, e o bolso de cada pessoa é também recompensado pela introdução ou pela continuidade desta boa prática”, frisou o autarca, referindo que o projeto não tem prazo definido para terminar.
O “Pago em Lixo” vai ter ações pontuais em diversos pontos da freguesia. No próximo sábado vai haver troca de lixo no Alto de Campolide, das 10:00 às 11:30, e no Bairro da Serafina, das 12:00 às 13:00. Existe um limite de lixo para a troca de dez quilogramas por dia e por cada residente na freguesia de Campolide.
De acordo com o presidente da Junta de Freguesia de Campolide, o projeto foca-se na troca de resíduos urbanos, desde vidro, papel, embalagens e pilhas recicláveis, englobando o lixo indiferenciado, com exceção do lixo doméstico.
Para André Couto, o “Pago em Lixo” é “um projeto inédito em Portugal”, que começou em Campolide, mas que está disponível para ser replicado por outras freguesias da cidade de Lisboa e do país.
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