“As medidas em cima da mesa não são suficientes e, comparando com a resposta dos Estados Unidos, por exemplo, a União Europeia (UE) vai ter de fazer mais”, sublinhou o eurodeputado Pedro Silva Pereira (PS), referindo-se aos fundos europeus para a recuperação das economias europeias, numa videoconferência organizada pelo Clube de Lisboa, em parceria com o Parlamento Europeu, sobre o futuro da Europa.
O eurodeputado socialista admitiu, contudo, que, “apesar de todas as insuficiências”, esta é “uma resposta sem precedentes” por parte da UE, lembrando que a Comissão Europeia irá aos mercados emitir dívida para “poder financiar em termos robustos a recuperação, mais com subvenções do que com empréstimos”.
“Isso significa uma atitude positiva da UE, que contrasta muito com a resposta da anterior crise”, salientou o também vice-presidente do Parlamento Europeu.
O eurodeputado Paulo Rangel (PSD) concordou com Pedro Silva Pereira quanto à insuficiência do montante do Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR), dotado de 672,5 mil milhões de euros, afirmando que, “tendo em conta a evolução da pandemia, provavelmente isto não vai ser suficiente”.
Paulo Rangel apontou, contudo, que “neste momento não abriria este problema”, uma vez que, “tendo em conta que os Estados-membros estão com pulsões muito individualistas”, poderá correr-se o risco de “impedir que este fundo comece já a arrancar”.
O eurodeputado social-democrata apelou, por isso, ao Conselho da UE, atualmente presidido pelo Governo português, que concentre “todos os esforços” na ratificação por todos os 27 da decisão sobre recursos próprios, indispensável para que a Comissão possa financiar o fundo e os planos nacionais de recuperação e resiliência (PRR) possam começar a ser aplicados “a partir do Verão”.
Para o eurodeputado João Ferreira (PCP), o MRR “é claramente insuficiente”, estando “muito abaixo daquilo que o Parlamento Europeu chegou a defender”.
Neste momento, contudo, “os países da UE dividem-se entre aqueles para os quais o PRR tem pouca expressão no conjunto de instrumentos que mobilizaram para fazer face à crise”, caso da Alemanha que, na primeira fase de resposta à crise, “mobilizou 750 mil milhões de euros para intervir na sua economia”, o correspondente ao total do fundo de recuperação da UE, de que o MRR é o principal instrumento.
“Claro que depois há países para os quais parece que a resposta [à crise económica] só se resume a isso e pouco mais, que é o caso de Portugal, em que toda a questão da recuperação económica gira em torno do PRR”, criticou o eurodeputado comunista, alertando que tal se traduz numa “resposta profundamente assimétrica” dentro da própria UE.
Também a eurodeputada do BE, Marisa Matias, considerou que o MRR é “insuficiente e tem claramente muitos problemas”, apontando também para a proposta do PRR nacional, que considerou ter “um problema grave”, referindo-se à “concentração dos investimentos no litoral e nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto”.
“Esta é uma oportunidade perdida para procurar uma maior coesão territorial e mesmo coesão social”, lamentou a eurodeputada bloquista.
A videoconferência “Lisbon Talk: Sobre o Futuro da Europa” foi organizada pelo Clube de Lisboa, em parceria com o Parlamento Europeu, com o apoio do Instituto Marquês de Valle Flor (IMVF) e da Câmara Municipal de Lisboa.
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