IPO ou Initial Public Offering é um momento importante para qualquer empresa. Depois de anos a desenvolver um negócio e a levantar sucessivas rondas de financiamento, esta é a altura em que a empresa decide abrir parte do seu capital ao público e permite que fundadores e investidores possam rentabilizar a sua participação na mesma.

Para isso, pedem ajuda a bancos de investimento, a consultores e a advogados para definir a sua cotação de mercado e garantir que extraem um máximo valor de uma entrada em Bolsa, seja a título pessoal, seja em termos de capital para continuar a investir no crescimento da empresa.

A pandemia foi pródiga em dar-nos várias IPOs. Com a inflação controlada, com taxas de juro muito baixas e com o acesso a capital facilitado, muitas empresas (inclusive algumas que não estavam já prontas para tal) correram aos mercados em busca de recursos para o seu negócio. Só em 2021, nos EUA, houve mais de 300 IPOs avaliadas em 760 mil milhões de dólares, de acordo com dados da Pitchbook. Se procuramos um indicador para o boom económico deste período, este será certamente um dos principais.

Mas não significa que tudo correu bem. Muitos investidores claramente sobrevalorizaram as empresas nas quais apostaram e viram o seu valor diminuir nas semanas seguintes.

  • Umas porque claramente não tinham métricas que justificassem o valor que nelas tinha sido depositado (utilizando SPACs em muitas situações para entrar em Bolsa).

  • Outras porque beneficiaram das condições providenciadas pela pandemia - plataformas de delivery, plataformas de colaboração online - que se foram desvanecendo à medida que fomos regressando à normalidade.

E depois chegou 2022, em que o panorama económico mudou consideravelmente. Com a inflação elevada e a subida das taxas de juro, as condições para uma empresa entrar em Bolsa deixaram de ser ideais. Em 2022, nos EUA, houve 42 IPOs avaliadas em 9 mil milhões de dólares. Por um lado, numa recessão económica em que o acesso a capital ficou mais caro, muitos investidores preferiram cuidar dos ativos que já tinham em vez de procurar por novos investimentos. Por outro lado, face à incerteza económica e a uma potencial valorização mais baixa, não é fácil chegar a um acordo com VCs que suportaram o crescimento da empresa quanto à forma de entrar em Bolsa, dado que os incentivos não estão necessariamente alinhados.

Por isso, muitas empresas preferiram levantar novas rondas de financiamento com avaliações mais baixas do que as anteriores, em vez de entrarem em Bolsa e terem uma desvalorização mais definitiva. Enquanto esperam por um ciclo económico mais favorável, o desafio agora é saber quando é que este vai começar. Historicamente, no século XXI, as recuperações do mercado de IPOs têm tido a forma de um "V", o que significa que o mesmo não fica em baixo durante muito tempo.

  • No crash das dotcom, no início do milénio, o mercado começou a arrefecer na primeira metade de 2001 e começou a recuperar na segunda metade de 2003, portanto esteve cerca de dois anos em baixo.

  • Na crise financeira global de 2008, a recuperação do mercado de IPOs demorou cerca de 18 meses. Na altura, o governo americano implementou uma série de medidas e incentivos ao investimento que revitalizaram a atividade bolsista.

A crise atual já tem um ano de duração e é complicado estimar um regresso. Um dos fatores é a própria situação macroeconómica, com os efeitos da elevada inflação ainda a fazerem-se sentir e sem um fim à vista. Outro fator é a correlação entre os mercados e as IPOs, isto é, quando o preços das ações da empresas já cotadas voltarem a subir significativamente, é normal que IPOs voltem a ser consideradas em larga escala. Pode também ainda o caso de uma empresa de relevo decidir avançar para uma IPO e os seus competidores seguirem a sua deixa. Mas esse é menos expectável.

As IPOs mais esperadas de 2023: entre os principais candidatos estão a Stripe, a Instacart, o Reddit, a Lime e a Databricks. A acontecer, a segunda metade de 2023 tem tudo para ser animada.