O facto de nos primeiros cinco meses do ano as receitas de Las Vegas terem superado as da cidade asiática, quando antes da pandemia o território chinês angariava seis vezes mais do que aquelas no estado norte-americano de Nevada, traduz “o grande tombo de Macau”, sublinhou.

“É inconcebível. É difícil de visualizar o grande tombo que foi. Mas se formos ver os casinos e as ruas, percebemos”, acrescentou.

Desde janeiro de 2020, assim que a pandemia bateu à porta de Macau, o vírus começou a infetar a economia, uma debilidade que ficou ainda mais exposta à política de casos zero, em sintonia com Pequim, com fortes restrições fronteiriças, quarentenas forçadas e, mais recentemente, com novo fecho dos casinos e um confinamento parcial que dura há mês e meio.

“A covid-19 afetou Macau, mas curiosamente, este é o pior ano de todos”, lamentou Sales Marques.

O pior ano de todos

“Até 2019 éramos reis absolutos, tínhamos seis vezes mais receitas do que Las Vegas. Estávamos nesse patamar muito alto. E agora, chegamos a ter menos dez vezes as receitas”, destacou, lembrando que a riqueza dos ganhos na indústria do jogo também era possível observar no produto Interno Bruto (PIB) ‘per capita’, que entre 2019 e 2021 desceu para quase metade.

Os números deixam perceber “a dimensão das dependências internas e externas de Macau”, sustentou. “Fora de Macau, e para além da covid-19, há dois aspetos a ter em conta, muito importantes: as medidas de controlo de fluxo de capitais e a repressão à promoção do jogo” entre os grandes apostadores no interior da China, salientou.

Ou seja, não foi só a covid-19, mas, também, uma política de controlo mais agressiva de Pequim para controlar a saída de capitais, com óbvio impacto no mercado VIP.

Com a nova lei do jogo e com o lançamento do novo concurso para atribuição de seis licenças para operar casinos, tudo parece convergir para um facto, frisou: “Macau tem muito trabalho pela frente e o grande desafio de diversificar produtos e mercado”.

Se em 2001 havia um mercado desconhecido pela frente, aquando da atribuição das primeiras licenças, agora as autoridades e as operadoras também vivem “alguma incerteza”, até porque “o modelo seguido até aqui parece esgotar-se”, concluiu.

Apesar de não ser conhecido o caderno de encargos do concurso, o economista chamou a atenção para a ênfase que o Governo está a dar na valorização das propostas que contemplem a vertente não-jogo e “a grande força que está a fazer para a diversificação de produtos e de mercado”.

Afinal, defendeu, antecipa-se uma queda no mercado chinês, que tem alimentado a indústria do jogo em Macau, e “é preciso saber mobilizar clientes para o jogo, mas não só, que venham de outras proveniências”.

Só que, sublinhou, esse trabalho não vai ser fácil, porque, por um lado Macau estava habituado ao mercado chinês, mas, por outro, porque ao nível do turismo tem de contar com forte competição de outras cidades, como Hong Kong e Cantão, exemplificou.

“Há muito trabalho para fazer”, enfatizou.

Concurso público para a atribuição de seis licenças de exploração

O Governo de Macau lançou na sexta-feira um concurso público para a atribuição de seis licenças de exploração de jogos em casino, com um prazo máximo de dez anos.

Um dos pontos que será valorizado pela comissão do concurso passa pelos “planos destinados à expansão dos mercados de clientes de países estrangeiros”.

Cada um dos concorrentes terá de pagar uma caução de pelo menos 10 milhões de patacas (1,22 milhões de euros).

As concessionárias em Macau, capital mundial do jogo e o único local na China onde o jogo em casino é legal, têm acumulado desde 2020 prejuízos sem precedentes e o Governo tem sido obrigado a recorrer à reserva extraordinária para responder à crise, até porque cerca de 80% das receitas governamentais provêm dos impostos sobre o jogo.

Operam no território três concessionárias, Sociedade de Jogos de Macau, fundada pelo magnata Stanley Ho, Galaxy, Wynn, e três subconcessionárias, MGM, Venetian e Melco.