“Muitos bancos não ganham para o seu custo do capital. Independentemente da crise, as fragilidades atuais, como baixas margens nos juros, podem ser exacerbadas pelo ambiente de baixas taxas de juro, que irá agora persistir por ainda mais tempo”, pode ler-se num relatório da EBA, dedicado ao impacto da pandemia de covid-19, que foi divulgado hoje.
Um dos outros desafios elencados pela autoridade bancária “poderá ser uma amplificação da necessidade de consolidar e abordar a sobrecapacidade do setor”, dado que “apesar de melhoras contínuas na qualidade dos ativos nos últimos anos, o rácio de crédito malparado (NPL) em vários países e bancos está ainda bem acima de níveis anteriores à crise financeira mundial”.
A EBA considera ainda que a crise associada à pandemia de covid-19 veio colocar pressão operacional na forma de trabalhar dos bancos, devido à gestão “de grandes volumes de pedidos de moratórias de dívidas e empréstimos garantidos e à preparação de algumas unidades móveis para trabalho remoto”.
No entanto, a autoridade europeia sediada em Paris afirma que “devido à larga disponibilidade do trabalho remoto na banca, as funções principais continuaram a operar largamente não afetadas”, com um aumento registado do recurso a canais digitais.
A instituição assinala ainda que os bancos entraram para esta crise “em melhor forma do que o fizeram em crises anteriores”, com maiores ‘almofadas’ de capital e de liquidez.
“O rácio [de capital] CET1 aumentou de 9% em 2009 para perto de 15% no quarto trimestre de 2019, bem acima dos requisitos regulatórios”, com os rácios de cobertura de liquidez a estarem também “significativamente acima do mínimo regulatório”, perto de 150% no primeiro trimestre de 2020.
Os bancos europeus ”também fizeram forte uso das condições favoráveis nos mercados de financiamento por grosso até fevereiro de 2020, permitindo-lhes antecipar parte das emissões antes dos mercados primários entrarem numa paragem temporária”.
A EBA demonstra, no relatório, preocupação com a qualidade dos ativos na sequência da crise de covid-19, dado que “nos últimos anos, em média, na União Europeia, os bancos aumentaram as suas exposições a carteiras potencialmente mais arriscadas, como em pequenas e médias empresas (PME) ou financiamento do consumo”.
“Os bancos devem enfrentar uma subida dos volumes de NPL [crédito malparado] e aumento do custo do risco no encalce da deterioração macroeconómica. O declínio na qualidade dos ativos poderá ser acompanhado por aumento de ativos ponderados por risco (APR). A maior volatilidade nos mercados financeiros é também uma preocupação e poderá aumentar ainda mais os APR”, assinala a EBA.
A EBA assinala ainda que “as condições de financiamento se deterioraram” depois de fevereiro, com um alargamento substancial dos ‘spreads’ (margem de lucro dos bancos), e “as emissões de dívida não garantida praticamente pararam até meio de abril”.
“Cerca de 20% dos títulos emitidos pelos bancos vão vencer nos próximos seis meses, e uns 10% adicionais irão vencer dentro de um ano. Também apareceram tensões nos mercados de financiamento interbancário e em dólares”, assinala a EBA.
Assim, “nestas circunstâncias, os bancos aumentaram significativamente a sua confiança no financiamento pelos bancos centrais, incluindo linhas de ‘swap’ em moeda estrangeira”, sendo esperado que “os bancos usem alguma da sua ampla ‘almofada’ de liquidez nos próximos meses”.
Relativamente aos lucros, “devem permanecer subjugados por um período ainda maior” depois da crise, dada a permanência de baixas margens de lucro “como resultado do estímulo monetário dos bancos centrais”, e a baixa qualidade do crédito irá levar a um aumento das imparidades.
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