“Muitos dos navios estão avariados e encostados em docas à espera de reparações grandes", diz à Lusa Carlos Costa, dirigente da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans).
Os trabalhadores da Transtejo, empresa responsável pela ligação da capital ao Seixal, Montijo, Cacilhas e Trafaria/Porto Brandão, no distrito de Setúbal, realizaram entre o dia 12 e sexta-feira uma greve parcial em cada turno de serviço, o que levou à supressão de algumas carreiras.
Esta é uma luta que já se arrasta há meses com sucessivas ações de protesto.
Em causa está, segundo a Fectrans, "o facto de a administração/Governo não ter iniciado um efetivo processo de negociação, de modo a discutir as reivindicações sindicais, das quais, além da valorização salarial, consta a melhoria do serviço público”.
Segundo Carlos Costa, existe uma tentativa de prolongamento de vida dos atuais navios até à chegada dos novos, mas até isso acontecer há muitas supressões, “não estando a ser prestado o serviço público devido”.
Em julho, uma avaria técnica inesperada do 'ferry' que opera na ligação Trafaria–Porto Brandão–Belém, entre os concelhos de Almada e Lisboa, levou à suspensão do serviço durante uma semana, uma situação que levou a Junta da União das Freguesias de Caparica e Trafaria a realizar um protesto formal.
Numa resposta enviada à agência Lusa, a Transtejo/Soflusa confirma um aumento de 9% do número de avarias da frota total, comparando janeiro a julho de 2022 com o período homólogo de 2021, atribuindo esse crescimento aos constrangimentos e limitações da frota.
No entanto, na análise dos registos dos últimos três anos, aponta para uma tendência decrescente deste indicador: em 2020, a frota teve -21% de avarias face a 2019 e em 2021 -16% face a 2020. Por outro lado, a administração admite que “a taxa de disponibilidade de serviço do total de frota foi de 68% em 2019, 65% em 2020, 59% em 2021 e 60% nos primeiros sete meses” deste ano.
Em março, o Governo aprovou um investimento de 52 milhões da Transtejo para compra de 10 barcos elétricos. À agência Lusa, a empresa explicou que a chegada dos quatro primeiros navios da nova frota encontra-se prevista para o período entre dezembro de 2022 e junho de 2023. Os outros quatro navios, adianta a administração, chegarão até final do ano de 2023 e os últimos dois navios, que completam o projeto, serão recebidos em 2024. A entrada ao serviço dos novos navios elétricos ocorrerá após a sua chegada e a formação das respetivas tripulações.
Contudo, segundo o sindicalista Carlos Costa, não existe ainda uma estação de carregamento, tendo sido aberto concurso internacional pela segunda vez ainda sem resultados tornados públicos.
Por outro lado, adianta, a empresa tem falta de trabalhadores e, embora sejam publicados concursos para contratações, as condições de trabalho e salariais oferecidas não cativam.
“A empresa precisa de 50 funcionários para a normalização de um serviço. Mas, as vagas não são preenchidas porque as condições financeiras não são atrativas”, disse, adiantando que é o caso dos maquinistas, que na Transtejo auferem cerca de 800 euros de salário quando noutras empresas privadas a operar no rio Tejo conseguem o dobro do valor.
Questionado sobre que futuro tem a travessia entre as duas margens, Carlos Costa responde: “Não faço ideia. O que sabemos é que o serviço está degradado. Não há meios nem pessoas”.
A administração da Transtejo/Soflusa explica que os vários processos de recrutamento e seleção decorrem do facto de durante os mesmos terem surgido novas vagas para preencher.
Quer a Transtejo quer a Soflusa, adianta a empresa, têm em curso processos de recrutamento e seleção para preencher vagas originadas pela saída de trabalhadores, estando ainda em preparação pedidos de autorização para a contratação de trabalhadores.
Atualmente, a TTSL – Transtejo Soflusa tem 429 trabalhadores no seu quadro de pessoal, dos quais 242 (56%) são trabalhadores marítimos.
A Transtejo/Soflusa registou uma evolução positiva do número de passageiros transportados entre 2013 e 2019, passando de 15,2 milhões para 19,3 milhões, registando-se nos dois anos seguintes, marcados pela pandemia de covid-19, uma redução significativa: 10,7 milhões transportados em 2020 e 10,6 milhões em 2021.
Apesar de todos os constrangimentos, a empresa assegura que tanto a Transtejo como a Soflusa “têm assegurado as suas obrigações contratuais” do contrato de serviço público.
Mas, os utentes vão reclamando sobre o serviço prestado, tendo aumentado o número de queixas entre 01 de janeiro e 31 de julho deste ano: 12% na Transtejo e 107% na Soflusa, comparativamente ao período homólogo de 2021.
Como justificação, a empresa refere que as reclamações resultam das perturbações de serviço, supressões e atrasos, “decorrentes de limitações operacionais e de constrangimentos técnicos e financeiros na manutenção da frota, da falta de recursos humanos operacionais marítimos (maquinistas e marinheiros) e da realização de plenários e greves por parte dos trabalhadores”.
Comparativamente a 2018 e 2019, os anos de 2020 e de 2021 registaram uma “redução significativa do número de reclamações”, decorrente do impacto da pandemia na mobilidade urbana e na utilização dos transportes públicos, em geral, bem como de uma maior estabilidade operacional, justificou a empresa.
Em 2018, a Transtejo-Soflusa registou mais de 2.500 reclamações, número que caiu para pouco mais de 1.900, no ano seguinte, e para 530 em 2020. Em 2021, este indicador registou uma subida de 50% face ao ano anterior, com um total de 800 reclamações.
A Transtejo assegura as ligações fluviais a Lisboa a partir de Seixal, Montijo, Cacilhas e Trafaria/Porto Brandão, enquanto a Soflusa liga o Barreiro ao Terreiro do Paço, em Lisboa.
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