Excepto para os portugueses nascidos depois de 2011, foi sempre claro que a intervenção foi pedida pelo PS, que era Governo na altura, com o apoio e o beneplácito do PSD e do CDS, que depois fizeram o favor de cumprir o programa ao longo da legislatura (que venceram em eleições). Nem se esperava outra coisa de tão obedientes primeiros-ministros.
Tanto Sócrates disse, à época, que não tinha outro remédio senão pedir a intervenção externa, como Passos Coelho governou o tempo todo com a Troika na boca, para justificar os cortes que deixaram o país à tona de água - e os portugueses, afogados…
Isto, que parece meridiano e todos sabemos, tem ocupado horas de debate, de mentiras sobre mentiras, e culminou ontem com uma carta desconhecida (e “confidencial”, claro!) que Passos Coelho terá escrito a José Sócrates, caucionando a intervenção internacional. Em plena campanha, nem a revelação da carta é insuspeita nem a relevância que se lhe dá é ingénua: PS e coligação gozam, uma vez mais, com a nossa cara, e tomam-nos por parvos. Percebo que se sintam à vontade para o fazer - temos votados maioritariamente neles, sempre, desde 1974, e presumo que se sintam inimputáveis… -, mas os sinais que têm vindo da Europa, da Grécia à Espanha, passando pela recente eleição do novo líder dos trabalhistas britânicos, deveriam deixar estes senhores a pensar que a História, de quando em vez, dá umas reviravoltas e cumpre a frase de Lenine quando dizia que se dão dois passos em frente mesmo que se dê um para trás.
Infelizmente, as eleições de Outubro não devem ser ainda o segundo passo em frente de que precisamos.
Cheira-me mesmo que vamos ficar a marcar passo. Lamentável é perceber que uma das razões por que assim será passa por esta teima de crianças sobre quem trouxe a Troika para Portugal. Todos sabemos quem foi: PS, PSD, CDS. E quem neles mandava e manda. Custava alguma coisa reconhecer isto e seguir em frente, aumentando o nivel do debate
Talvez custe - podia dar-se o caso de os candidatos terem de debater questões realmente relevantes, e no limite explicarem-se melhor. Não sei como seria se realmente soubéssemos o que nos espera. Mas sei que seria diferente do que vai ser.
Coisas que me deixaram a pensar…
A noticia, que li no El País (mas está por todo o lado), sobre o conceito subjacente ao presumível botão “don’t like” que poderá nascer no Facebook, depois de tantos pedidos dos fregueses da rede social. Inteligente, Mark Zuckerberg avisou que, a existir, esse botão exprimiria uma posição que o botão like não permite - por exemplo, a tristeza por uma foto de refugiados, ou um acto de violência - e não uma espécie de confronto online entre gostos e não gostos.
A quinta (e ultima parte) da saga da família Melrose, que Edward St Aubyn escreveu, inspirada na sua própria vida, está traduzida em português e foi leitura dos últimos dias. “Por fim” (edição Sextante) deixa-nos a pensar no sentido e no valor da família nos tempos que correm. E é maravilhosamente escrito.
Excelentes, as reportagens que Maria João Guimarães tem assinado no Público , a partir de Atenas, sobre as próximas eleições gregas. Uma forma de estar lá, estando aqui. A ler em papel ou online.
A manchete de hoje do Jornal de Notícias diz que cada português já contribuiu com 1950 euros para salvar a banca nacional. Ironia das ironias: quando os bancos nos emprestam, cobram juros e penhoram-nos se não pagarmos. Quando os bancos precisam de dinheiro, nós damos de bandeja e não recebemos nada em troca. Quando estudei, não era esta a definição de capitalismo e economia de mercado. Uma ironia triste e lamentável.
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