Pessoas que gostam de mim na medida da minha utilidade são muitas, porventura demasiadas. Pessoas que acreditam piamente que me conhecem também são umas tantas. Pessoas que consideram que a minha opinião vale mais ou menos o mesmo que a imagem habitual do porco a andar de bicicleta, admito, são outro punhado. Pessoas boas também existem ao meu redor, é uma verdade. E esta conversa tem a ver com o quê? Com uma lição que o tempo às vezes concede: aceitamos quem nos quer bem, ignoramos os restantes. Não perdemos energia. Não somos bonzinhos. Esquecemos o politicamente correcto a favor do que está certo para nós.
Alto, já há quem pense no egoísmo e variantes, não se trata disso mas sim de simplificar a existência. Não temos de ser super-heróis. Não precisamos de resolver tudo. Precisamos de aprender a viver sem grande stress e, no estado em que o mundo se encontra, convém que esta aprendizagem seja rápida.
O tempo é o único elemento que nos foge, tudo o resto podemos recuperar: dinheiro, amor, até saúde, mas o tempo foi-se. Uma das realidades que nos entra pela vida adentro é o cenário internacional de guerra – na Ucrânia há demasiado tempo, no Médio Oriente idem. Outra vê-se da janela, o calor desmedido, a mudança drástica do clima. E a pasmaceira em que vivemos, a pensar que nada disso importa? Pois. Perante estes cenários, além da crise económica, da habitação, da justiça, da saúde, da educação, talvez tenha chegado o tempo de sermos verdadeiros e isso, nos dias que vivemos, paradoxalmente implica uma certa hipocrisia.
Quanto não estamos disponíveis para tanto, como gerimos a nossa vida? O que fazemos à malta que vive no “achismo” sobre nós e sobre a forma como conduzimos a nossa vida? Como coexistimos com pessoas que se estão nas tintas para aquilo que nos importa? Como ouvir comentários sobre cenários de guerra que assentam na ignorância do contexto histórico e ficar calado? A maioria das pessoas banalizou a guerra. As asneiras que fazemos, diariamente, afectam o futuro da humanidade. Como havemos nós de encarar tudo isto com bonomia? A resposta é: com dificuldade e numa solidão crescente. A consciência não é um lugar para colectivos animados. Felizmente.
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