Enquanto me dedicava a estes “delicados” trabalhos, sempre longe da TV e da rede, o Papa vinha a Fátima, o Benfica ganhava mais um campeonato, e Salvador Sobral tornava-se herói nacional ao conseguir vencer, pela primeira vez, o Festival da Eurovisão. Já tinha ouvido a canção, já conhecia a voz de Salvador, e achava que tudo batia certo, excepto a sua presença naquele habitual desfile de pirosice sem história, nem futuro, nem coisa alguma. O Festival da Eurovisão, mesmo nos momentos da minha infância, em que vibrei com a Tonicha, o Paulo de Carvalho ou o João Henrique, sempre foi um “certame” tão irrelevante quanto inofensivo, ao ponto de nos recordarmos apenas dos Abba enquanto “vedetas” saídas daquele palco. Uma espécie de “casamentos de Santo António”, versão internacional: um generoso numero de pessoas dá o litro, alguém paga, a TV transmite, e depois nunca mais se sabe deles, nem da obra que eventualmente deixem aos vindouros.
Quando acordei do meu “nesting”, percebi que Portugal estava rendido ao Salvador Sobral, que além de ter ganhado o certame, tinha conquistado muitos países, e que ele era um novo herói nacional. Esta foi a parte que não apenas percebi melhor como parece fazer todo o sentido: a canção é fora da caixa habitual festivaleira, e a vitória dá-lhe um sabor especial. Mas tive curiosidade de ir rever na net este Festival da Eurovisão, ouvir as canções que ficaram nos primeiros lugares, e compreender até que ponto esta euforia resulta apenas de uma canção, e do seu intérprete, ou passa por uma mudança efectiva num “evento” que foi morto pelas “Chuvas de Estrelas” desta vida, e por uma dinâmica audiovisual que deixou a Eurovisão a falar para o boneco, isto é, a falar sozinha.
Com pena, verifico que a única coisa que se salvou deste Festival foi mesmo o Salvador e sua canção, suave e meiga, simples e inesperada. O resto, foi o salsifré de sempre, espécie de Jogos sem Fronteiras das canções, programa de televisão que anima um sábado anual, ou dois, e que não se renovou nem acordou para o novo mundo, mesmo que tenha havido um Salvador disposto a cortar a sequência inevitável de vitórias políticas, comerciais, ou apenas inexplicáveis.
Assim sendo, e dando o justo valor à vitória portuguesa, acordei do meu “nesting” e noto que o mundo não mudou assim tanto. O Festival continua o Festival, como Fátima continua a ser Fátima, e até o Benfica...
... Bom, o Benfica seria outra história – mas como benfiquista, não me ficaria bem agora meter-me nisso. No fundo, no fundo, o que saiu fora da norma foi mesmo a canção e a atitude do Salvador. Já não é mau.
Três momentos inesperados
Numa semana de surpresas, porque não um vídeo fora da caixa? Em Manchester, Reino Unido, eis como se decidiu comunicar o trânsito, ou a mudança operada no trânsito da principal avenida da cidade... Um exemplo que Lisboa devia seguir.
As novidades anunciadas pela Google para continuar a conquistar o nosso pequeno mundo. Um vídeo que surpreende outra vez...
... E por fim, se dúvidas houvesse sobre o Festival da Eurovisão, um tira-teimas bem escrito e melhor editado pelo The Guardian. A ler. E pensar sobre.
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