Com acesso a smartphones ou tablets, os jovens podem aceder a sites pornográficos gratuitos com uma facilidade quase, digamos, obscena. Os pais não têm como saber? Não têm. Uma das mulheres que jantava naquela mesa de gente crescida disse que via o histórico do computador dos filhos (eu seria incapaz, confesso), mas que não tinha como aceder ao dos telemóveis sem “dar nas vistas”.
Os pais continuaram a conversar animadamente: os homens a recordar uma publicação de nome Gina e os lugares onde a podiam comprar (algumas eram herdadas dos irmãos); as mulheres a confessar como informações sobre sexo tinham chegado via amigas, e não pela família e, na sua maioria, concordavam que a informação chegara tarde demais. Hoje, os adolescentes ainda não iniciaram a sua vida sexual e já podem ter visto tudo. E o tudo é, muitas vezes, pornografia, sexo entre duas ou mais pessoas, tantas vezes com posições de dinâmica de poder favorecendo os homens, com práticas e discurso que podem surgir como “naturais” para quem é menos informado.
Para saber um pouco mais, leiam o artigo do The New York Times de Maggie Jones, traduzido Luís M. Ferreira e que foi publicado na última revista do semanário Expresso. São seis páginas muito elucidativas e preocupantes. Eu sei que são seis páginas de texto, sem qualquer imagem, porém garanto-vos que o artigo vale todos os vossos minutos, em especial se são mães ou pais.O sexo faz parte da vida, é saudável e de louvar, não tem discussão. Implica, numa prática saudável, reciprocidade, um princípio de prazer mútuo que é totalmente esquecido na maioria dos filmes pornográficos.Há uns anos, ouvi – procurem na internet – uma Ted Talk de Erika Lust, realizadora de filmes porno, que me ensinou em 15 minutos algumas coisas e aniquilou uns tantos estereótipos. Erika Lust gere um negócio porno altamente rentável. A diferença? A procura de uma narrativa sexual que não diminua a mulher, que possa ser entendida de outra forma, para, diz a realizadora, se perceber que nem todas as mulheres têm mamas gigantes nem os homens são todos dotados de pénis com 30 ou mais centímetros.
No tráfego de consumo de pornografia, Portugal está no 41º lugar, portanto não podemos dizer que não é um assunto. É um assunto. A maioria dos consumidores de pornografia são homens (78%), as mulheres ficam nos 22%. Estes dados são da Pornhub que, há três anos, decidiu analisar o mercado português. Chegaram a conclusões interessantes, então partilhadas pelo Jornal de Negócios. Um dado a reter: como o acesso aos sites porno antes dos 18 anos é ilegal, os dados sobre o consumo não contemplam idades inferiores. Outro dado a ponderar são as categorias de palavras mais procuradas em Portugal neste âmbito. A saber: “teen” e “milf” (Mother I want to fuck).
No artigo de Maggie Jones, encontramos o subtítulo: tudo começa aos 13. E a afirmação é sustentada por um estudo da Escola de Media da Universidade do Indiana (EUA) que aponta para que o consumo de pornografia em adolescentes comece aos 13 anos, no caso dos rapazes, e aos 14 anos, no caso das raparigas. A mesma universidade fez um inquérito a pais e filhos e concluiu que mais de metade dos pais não acredita sequer que os filhos vejam pornografia. Já 93% dos inquiridos masculinos e 62% femininos, no âmbito de um estudo da Universidade de New Hampshire (2008), admitem ter visto pornografia online antes dos 18 anos.
A pornografia como educador ou guia de orientação pode ter servido, ao longo dos tempos, vários propósitos. Nos dias de hoje, além de todas as questões relacionadas com sexo seguro e doenças sexualmente transmissíveis, importa que os adolescentes entendam as limitações do negócio que é o sexo. Um filme pornográfico não implica prazer, muitas vezes apresenta gestos de violência (asfixia, para dar um exemplo), linguagem mais agressiva e, classicamente, ejaculação para o rosto da parceira.
Replicar o que se vê não é boa opção na vida real. Vamos, então, falar sobre sexo com os nossos filhos? É capaz de ser ajuizado.
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