Os lepenistas do Rassemblement Natonal (RN) participaram nos dois debates com Jordan Bardella a autoapresentar-se como o próximo primeiro-ministro e discurso focado na retirada de espaço aos migrantes, para além da recuperação de poder de compra e da (confusa) antecipação da idade da reforma.
O atual primeiro-ministro, Gabriel Attal, representou os macronistas Renaissance, com notório esforço de proximidade aos cidadãos em intenção óbvia de contrariar a imagem sobranceira de Macron.
A aliança das esquerdas, Nouveau Front Populaire (NFP), casamento falho de amores, apenas de conveniência anti-extrema-direita, mostrou que os dirigentes percebem a necessidade de tirar o palco ao chefe tradicional das esquerdas, Jean-Luc Mélenchon, líder dos insubmissos LFI, o maior partido das esquerdas, mas personagem com radicalismo insuportável para os setores de centro-esquerda, designadamente socialistas (PSF) e verdes que também integram a NFP. No primeiro debate esta frente das esquerdas fez-se representar por Manuel Bompard, voz e rosto moderado da LFI e no segundo, na noite de quinta-feira, por Olivier Faure, líder do PSF, imagem e discurso de pai de família responsável, em contraste com o estilo sempre agressivo e provocador de Mélenchon.
É assim, sem erros nos três grandes blocos, que a última semana desta campanha relâmpago para a primeira volta das eleições legislativas antecipadas em França não alterou as posições relativas das principais forças.
O Rassemblement (RN) de Le Pen e Bardella tem prometida vitória folgada, com 220 e 260 deputados. Mas em nenhuma sondagem chega aos 289 deputados que dão maioria absoluta – e sem maioria absoluta é altamente improvável que a extrema-direita consiga chegar ao governo na sequência destas eleições, porque funcionará a maioria de rejeição de um governo Bardella.
A NFP que agrega as esquerdas tem estimativas entre os 155 e os 205 deputados.
O bloco presidencial Renaissance perde mais de metade dos atuais 250 deputados e tem previsão de 80 a 105.
Para a direita liberal-conservadora, Les Républicains, o partido que foi de Chirac e Pompidou, apenas 30 a 40 deputados.
Se os resultados da segunda volta, no domingo 7 de julho, corresponderem ao que prognosticam as sondagens, não só os ultras do Rassemblement ficam sem maioria para governar como será muito difícil o consenso entre as esquerdas e o macronismo para um programa de governo. É de admitir que Macron tente manter o atual governo do primeiro-ministro Gabriel Attal, em precário jogo de procura de equilíbrios.
Apesar de improvável, também não é de excluir um governo liderado por uma figura do centro-esquerda que junte gente da esquerda com macronistas.
O que por agora está à vista é que nenhum dos blocos consegue impor-se como força dirigente capaz de alcançar consenso maioritário para governar. A direita ultra é quem está mais perto mas, mesmo com alguns deputados aliados oriundos da direita republicana, não chega à maioria absoluta.
No entanto, a realidade mostrada nas sondagens de agora pode ser alterada pelo que acontecer na primeira volta, neste domingo. Ficam eleitos os candidatos que obtenham desde já 50% dos votos. Desta vez, é provável que em 150 a 200 das 577 circunscrições onde há eleição de um deputado, venha a haver três ou mesmo quatro candidatos na segunda volta.
Aí, torna-se decisiva a negociação de eventuais desistências. Em anteriores eleições, o método funcionou para barrar os lepenistas. Será que desta vez vai haver entendimentos entre macronistas e esquerdistas?
Essa negociação, no começo da próxima semana tende a definir o resultado destas eleições francesas surpreendentemente convocadas por Emmanuel Macron, o presidente que prometia baixar a presença da extrema-direita mas que afinal contribuiu para que esteja subir degraus até perto do patamar da governação.
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