"Caro Bloco de Esquerda (e quem o apoiar):
Sensível à problemática do género, e aos problemas que a nomenclatura pode provocar nessa busca incessante por uma paridade total, e também eu defensor de direitos e deveres iguais para ambos os sexos - aliás, para todos os sexos… -, venho por este meio apelar ao poder que a Assembleia da Republica vos confere, e à influência que conseguem ter na agenda mediática nacional, no sentido de conseguirem impedir imediatamente, antes que seja tarde, a realização dos Jogos Olímpicos do Brasil e do Campeonato da Europa de Futebol de 2016. Não sei se uma petição é suficiente - talvez uma providência cautelar, apelo ao Tribunal dos Direitos do Homem, reuniões extraordinárias da ONU…
Na verdade, ambos os eventos são exemplos acabados de discriminação de género - que, de resto, se alargam a todo o mundo do desporto. Não se compreende, à luz do que os senhores passam os dias a escrutinar, que haja futebol feminino e masculino - em vez de, como coerentemente devem defender, equipas mistas em campo. O mesmo se aplica ao ténis, ao atletismo, ao basquetebol, ao andebol, enfim: a todos os desportos, praticamente sem excepção.
Como aceitar que se realize um Campeonato Europeu de Futebol, onde aliás Portugal vai estar presente, sem que haja no relvado uma única mulher? Nem um arbitro do sexo feminino! Às mulheres, neste evento, está reservado o papel menor de assistir aos jogos, de trabalhar em bares ou serviços de hospedeiras - e o Bloco de Esquerdas tolera esta clara discriminação?
É certo que há futebol feminino - mas já se deram ao trabalho de aferir os valores monetários em causa no que às mulheres diz respeito? Ou de compararem a relevância dada, em emissão, aos jogos que as televisões transmitem?
O que digo sobre o futebol ganha estatuto de escândalo quando entramos no universo dos Jogos Olímpicos. Começando pelos números gerais: teremos 161 provas apenas masculinas, 136 apenas femininas, e apenas 9 mistas. Como se admite? Aproximemo-nos de Portugal: segundo o site do Comitê Olímpico nacional, dos 64 atletas que vão ao Brasil, apenas 25 são mulheres.
E poderia seguir para bingo, falando dos valores envolvidos nas competições de ténis femininas e masculinas, acabando no automobilismo e na ausência de mulheres na Fórmula Um.
Caro Bloco de Esquerda: está na hora de agarrarem este tema fracturante e o trazerem para as primeiras páginas dos jornais e dos debates televisivos".
Pronto. Esta seria a carta que eu enviaria ao Bloco de Esquerda neste momento extremo (para não dizer absurdo e ridículo…) a que chegámos no debate sobre a igualdade do "género".
Liberal, respeitador, aberto a todas as escolhas - e obviamente defensor da paridade máxima entre todos os "géneros" -, não deixo de verificar que o excesso de zelo, neste caso, prejudica o debate. Torna ridícula uma discussão que é séria. Desvaloriza uma causa válida. E, no limite, atrasa um caminho sério e consistente que Portugal, apesar de conservador e machista na essência, tem vindo a fazer com sucesso. E isso é mesmo o que mais irrita.
COISAS QUE A SEMANA ME DEIXOU
No mundo da comunicação, toda a gente se interroga sobre os modelos de negócios que farão o jornalismo, a publicidade e o marketing de amanhã. Este video não é muito recente, mas deixa pistas sobre as quais vale a pena pensar…
Já houve um tempo em que ser jornalista estava entre as profissões mais prestigiadas do mercado de trabalho. Pelos vistos, esse tempo acabou - e se os jornalistas já sentiam isso na pele, agora são os inquiridos dos estudos de opinião que começam a mostrar que percebem o que se passa à sua volta. Esta semana houve notícias sobre o ranking de profissões "boas" e "más"…
Na semana em que se assinala mais um aniversário sobre a revolução que nos devolveu a liberdade, em 25 de Abril de 1974, sugiro uma visita a estes arquivos que a RTP primorosamente tem vindo a organizar. Para uns, recordação. Para outros, novidade. Para muitos, um sorriso ou uma lágrima ao canto do olho. Irresistível…
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