Uma médica chegou à sala de espera e perguntou: “A dona do gato?…”. E eu respondi: “Se for gata, sou eu”. Não era. Entraram num dos gabinetes três pessoas, uma senhora e um jovem casal. Ao fim de uns minutos, a porta abriu-se e estava tudo à pancada, literalmente.
Gritos, pedidos para chamar as autoridades, ameaças, empurrões, alguém que é mordido. Perguntam vocês: por causa de um gato? Pois, não sei dizer, o que posso assegurar é que não foi bonito de assistir porque evidencia um mal-estar tremendo, um pavio muito curto, os nervos à flor da pele, a vontade de bater indiscriminadamente, à esquerda e à direita. Quem tem razão? Não perguntei. Mantive-me serena, sentada no banco, a ver se a coisa acalmava. Se a GNR chegava.
Com muita calma, uma médica ou enfermeira, não sei dizer, conseguiu que as pessoas saíssem. Ficaram à porta do hospital. O gato foi com elas, dentro da caixa de onde não saiu. Entretanto, chamaram o nome da minha gata e eu fui fazer a consulta no mesmo gabinete onde a pancadaria tinha acontecido. A minha gata teve alta. Paguei e, como diz o outro, tive de abandonar.
A zanga e tensão surgiram de repente, embora de forma terrível. O que se passa connosco que não conseguimos debater? O que se passa quando a pancada física é a única solução que ocorre primeiramente? Isto foi um episódio entre quatro ou cinco pessoas adultas. Mais tarde, soube que o gato era a razão: com muitos anos, está – ou estava – numa situação terminal, não haveria nada a fazer. Os donos terão exigido uma segunda opinião, o que eu compreendo. A médica terá dito que estavam no seu direito, mas que não era aconselhável transportar o animal dado o seu estado físico. A partir daqui voltámos ao tal cenário do "não-queres-fazer-o-que-eu-quero-então-vou-dar-cabo-de-ti", com a violência alegadamente a ser iniciada pelos donos do gato.
A má educação imperou, a deselegância, hostilidade carregada de acusações. A violência e a tensão em que vivemos atingiu um absurdo inominável. Tenho pena do gato.
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