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Tive acesso ao documento que podemos vir a ter de apresentar às autoridades caso tenhamos de andar na via pública. Atenção, é muito restritivo.
Eu, abaixo assinado, encontro-me em movimento na via pública de forma absolutamente justificada. Declaro por este meio ter, para esse efeito, razões inadiáveis, imperiosas, inalteráveis, vitais, impreteríveis, indissociáveis do meu ser, intrínsecas à minha existência, inerentes ao eu. A saber:
(selecionar os motivos que se aplicarem)
- Estou a ir para um sítio onde vou fingir que trabalho.
- Estou a fingir que estou a ir para o sítio onde trabalho.
- Estou cansado dos meus filhos, dão muito trabalho.
- Estou a ir entregar faturas ao contabilista. Não tenho empresa, mas tenho um amigo contabilista. Não são faturas, mas sim mortalhas.
- Estou a ir levar sopa de ervilhas com presunto à Graça Freitas, porque, coitada, merece algo que a conforte.
- Sou cônjuge de um profissional de saúde e vou auxiliá-lo. Quer dizer, mais ou menos. O meu namorado chegou a pensar ir para enfermagem mas depois foi para Germânicas. Acabámos há três anos.
- Estou a ir às compras. Vivo em Lisboa, mas sou grande fã do Mercadona, por isso tenho de ir a Gaia.
- Estou a ir a casa de Rodrigo Guedes de Carvalho para levar a cabo um demorado e empenhado felácio.
- Vou só ali comprar o jornal. O problema é que perto de minha casa nenhum quiosque tem simultaneamente Corriere della Sera, o Der Spiegel, a Folha de São Paulo e a revista Gina. Informação é poder.
- Estou a fazer um passeio higiénico. Já vou no vigésimo quinto quilómetro. Peço desculpa, foi uma semana em que descurei muito a higiene.
- Estou a ir à bomba de gasolina. Galp de Aljustrel, é a única que vende o tabaco que eu fumo.
- Estou só a ir à Farmácia. Sim, pela quarta vez hoje. Com o que eu estou a comer diariamente preciso de me pesar várias vezes naquelas máquinas que dizem a massa muscular por 50 cêntimos.
- Fui obrigado pela minha entidade patronal.
- Fui obrigado pela patroa.
- Adquiri um Tesla em aluguer de longa duração em Fevereiro e não pago 1000 euros por mês para não me pode exibir.
- Vou fazer voluntariado. A ONG chama-se Associação Estou Fartinho de Estar em Casa. Atua sobretudo junto de mim próprio.
- Vou adquirir serviços. Mormente, o senhor guarda dizer-me “bonito serviço, sim senhor” quando abrir a mala do carro e vir que tenho lá três chapéus de sol da Olá.
- Vou a uma entrevista de trabalho para nadador-salvador na praia. A família também vem para me apoiar.
- Estou a regressar à minha residência principal, um T0 em Albufeira. Infelizmente, não posso ir descansar para a minha casa de férias, um T2+1 em Corroios.
- Apetece-me, porra.
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