1. Neve. Por cá, é raro termos neve a cair para lá da janela, mas o que querem? Seja dos filmes, dos livros ou da imaginação, achamos sempre que a neve quadra bem com o Natal. Não sei o que sentirão os brasileiros, com o seu Natal de Verão, mas por cá o frio natalício sabe bem.
  2. Lareira. Sim, o frio sabe bem, mas o calor da lareira, o cheiro da lenha, o crepitar do fogo… Ui, haverá coisa melhor? Digamos que o frio é bom lá fora. Em casa, o que queremos é calor: da lenha e das pessoas à nossa volta.
  3. Mesa. Melhor do que olhar para a lareira? Só estar sentado à mesa, com a comida em cima da mesa, entre decorações de Natal, a árvore a piscar lá atrás, o presépio iluminado, e a janela onde vemos a neve a cair (pronto, lá estou eu a imaginar coisas).
  4. Prendas. No fim do jantar, as prendas. O rasgar do papel com que embrulhámos cuidadosamente brinquedos, roupa, envelopes, postais, meias e…
  5. Livros. A melhor prenda de todas, sem a mínima dúvida. Pelo menos para mim. Nunca me canso. Quem se cansam são as estantes, que lá em casa já andam abauladas do peso dos livros estacionados em segunda fila. Paciência. Foi para isso que foram feitas.
  6. Brinquedos. Brinquedos há muitos e para os miúdos, nesta noite, tudo serve e tudo é uma alegria, pois mais simples que sejam. Depois, adormecer é que está quieto, com tanto brinquedo novo ali ao lado. E há choro e depois sono descansado e, de manhã, tudo aos gritos a brincar.
  7. Filmes. Os de sempre e os mais recentes. As xaropadas de Natal. O rapaz que tortura ladrões. O inglês apaixonado pela portuguesa que não sabe inglês. A inglesa a trocar de casa com a americana que se apaixona pelo irmão da inglesa. O Mr. Bean armado em agente secreto a tentar ter graça. E nós sentados a ver, no dia depois das prendas, com a enxaqueca de Natal, mas confortáveis e felizes, no dia em que está tudo fechado e podemos ficar a ver televisão ou, o que é ainda melhor, a conversar…
  8. Conversas. Mais sérias ou sem rumo, opiniões para todos os gostos, à luz da lareira e ao som das canções sempre iguais, sempre deliciosas. E, à distância, os telefonemas rápidos, as mensagens de Facebook, uma conversa rápida por Zoom a destruir distâncias. Ou um abraço (este ano mais virtual que real) a alguém que já não víamos há muito tempo.
  9. Histórias. Desligada a televisão, é hora de ler as histórias dos livros que oferecemos aos filhos. Ou aconchegarmo-nos num sofá e ler um livro que nos ofereceram ou que escolhemos nós mesmos. Ou então ouvir os avós e os pais a contar as histórias de sempre, de viva voz, ali ao pé de nós, e os netos a ouvir, de olhos brilhantes.
  10. Estrada. Para muitos casais, o Natal implica percorrer o país, à procura das várias terras da família. Assim, há anos que, na manhã de 25 de Dezembro, lá vou de casa da minha família para a casa da família da Zélia (ou ao contrário, dependendo do ano). É já uma das nossas tradições. Este ano, a tradição não é o que era. Mas há-de voltar...
  11. Crianças. Sim, tudo o que vimos acima só faz sentido porque o Natal é especialmente importante para os mais novos. A nossa tarefa é preservar o mais possível o Natal deles, para que venham a lembrar-se dessas noites mágicas daqui a muitos anos. Pois para nós, que já deixámos a infância há uns tempos, o Natal tem quase sempre qualquer coisa de saudade…
  12. Saudade. Nesta altura, rimos e abraçamo-nos, mas também contemos uma certa tristeza. Porque há pessoas que já não estão e felicidades que não voltam. Também faz parte do Natal e, em certos momentos, com o brilho da lareira nos copos à nossa frente e o calor na pele, sentimo-nos bem a recordar essas pessoas que passaram outros Natais ao nosso lado. E abraçamos uma vez mais os que estão ao nosso lado, certos de que não será para sempre, mas é o melhor que temos neste mundo.

Marco Neves | Professor e tradutor. Escreve sobre línguas e outras viagens na página Certas Palavras. O seu livro mais recente é Pontuação em Português.