Era inevitável que o longo braço armado do jiadismo chegasse ao mesmo tempo que a Europa é invadida por refugiados que também fogem a este terror sob a forma de perseguição, violação, bombas, suicídios e medo. Medo é, talvez, a palavra mais forte, aquela que está por detrás de todas estas ações que, nos últimos anos, já tingiram vários continentes. E de mãos dadas com o medo está uma forma de vida que os jiadistas nos querem impor.
Ainda se sabe pouco sobre a extensão da rede que montou e executou os atentados de Paris – deixemos a contagem das vítimas para depois, já vai nas 129, isto já é suficientemente duro para nos atormentarmos a cada minuto que passa, e apoiemos as famílias dos que partiram – mas há suspeitas de que um dos terroristas teria passaporte europeu ‘arranjado’ na entrada de refugiados na Europa. Devemos, por isso, olhar duas vezes para cada um dos refugiados que já está na Europa ou para cada um que ainda quer entrar? Não e não e não.
Em primeiro lugar, há europeus seduzidos pelo Estado Islâmico, uma coisa absolutamente incompreensível, à qual temos de dar, e ter, uma resposta. Há franceses nestes atentados, com vida e mundo ocidental, portanto. Nem todos são muçulmanos que nasceram e viveram no médio oriente.
Depois, é fácil dizer que os refugiados são os menores dos culpados, claro; o mais difícil é fazer, como sempre. Há uma condição essencial para que os europeus, a maioria, pelo menos, mantenha os braços abertos aos refugiados. As autoridades europeias têm de garantir que a entrada é organizada e que os que entram são de facto identificados e registados. Em condições dignas e humanas. É a única solução, a que defende os refugiados da desconfiança dos europeus, e dos que querem aproveitar a sua entrada para se infiltrarem na Europa para executarem atentados.
É claro que a linha que separa uma estratégia securitária do respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos refugiados é muito ténue, mas não é possível fugir a isto, a esta escolha. No equilíbrio entre segurança e liberdade individual, onde está a virtude? Não há uma resposta única, nem fácil, mas tem de ser dada, porque a outra vai ser pior, e será sempre no sentido de fecharmos as fronteiras a quem foge do terrorismo, de nos isolarmos, como se isso resolvesse o problema. Não resolverá, claro, mas a consequência imediata, de defesa, será essa, se os europeus não se sentirem seguros nos seus próprios países.
As escolhas
O mundo está a olhar para Paris, e para os atentados, enquanto em Lisboa domina a política, e não se pode dizer que seja a alta política. Cavaco Silva tem uma visita de dois dias à Madeira – pode acompanhar as últimas aqui no Sapo24 - e isso indica que não está com pressa para ouvir António Costa. Na verdade, já saberá o que o líder do PS lhe vai dizer, e o (não) acordo que lhe vai levar. O silêncio do Presidente é também uma forma de falar e de aumentar a pressão sobre os socialistas, mas também sobre o BE e do PCP. E se exigir mesmo um acordo, Catarina vai aproximar-se, mas dificilmente Jerónimo dará mais do que já deu. E depois?
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