Umas semanas antes, tendo passado por Manchester, testemunhei o alarido mediático de uma ameaça terrorista no estádio do Manchester United - que levou à evacuação do recinto e adiou o ultimo jogo da "Premiere League" -, e veio a verificar-se ser apenas uma "falsa bomba", estupidamente esquecida pela empresa que, dias antes, tinha justamente testado o sistema anti-terrorista no estádio do clube inglês.
A estes dois casos, inocentes e sem fundamento, juntou-se esta semana a captura de um presumível terrorista que, dizem as autoridades, estaria a planear 15 atentados terroristas em França, durante o Euro 2016. Foi detido pelos serviços ucranianos de segurança, há algumas semanas, mas só agora a notícia foi revelada. O arsenal que estava na sua posse é de respeito: cinco armas-automáticas Kalashnikov, mais de 5.000 balas, dois lança-mísseis, 125 quilos de dinamite e 100 detonadores.
Os media aproveitaram a embalagem da notícia para exibirem as medidas de segurança já visíveis em França, junto aos estádios, mas também nas principais atracções turísticas de Paris, e nas cidades por onde vai passar o futebol. Até a nossa selecção tem protecção especial. São manifestações de força, de prevenção, e formas de passar ao cidadão comum uma ideia de segurança, de paz, sem a qual o Europeu de futebol não pode ser bem sucedido.
Porém, como cantou Sérgio Godinho, "Na vida real as aparências estão do outro lado do espelho" - e a verdade é que estes três episódios revelam uma outra face da realidade: o Ocidente receia o Estado Islâmico, o fundamentalismo, a loucura que não poupa nada nem ninguém, que não olha a meios para atingir fins - e que, acima de tudo, tem conseguido quase sempre surpreender nos momentos menos esperados, nos lugares mais improváveis.
Nessa medida, o mais provável é que o Campeonato Europeu de Futebol decorra com normalidade, sem ataques, sem ameaças, sem mácula. Mas o objectivo fundamental do terrorismo islâmico já está mais do que conseguido: incutir em todos nós a semente do medo, o culto de prevenção, e a tranquila aceitação de políticas violadoras da nossa privacidade, e da nossa liberdade de movimentos, em nome da segurança, em nome da paz.
É a mais perversa das vitórias: sem mexerem um dedo, eles conseguem que cedamos em tudo, em todas as frentes, e nos deixemos conduzir como marionetas, sem cérebro nem liberdade - mas com a quase absoluta certeza de chegarmos a casa vivos depois de cada jogo. Ao que chegámos.
Esta semana, ainda em tempo de Feira do Livro
Não tarda faz 25 anos, mas continua a ser a mais brilhante, viva, romântica e (estranhamente coincidente…) história da Bossa Nova, da MPB e do fascinante mundo da cultura que o Rio de Janeiro exportou para todo o Globo no século XX. Durante anos, era preciso comprar pela net ou pedir a algum amigo que a trouxesse do Brasil. Graças à editora Tinta da China, tem agora uma edição exclusiva para Portugal: "Chega de Saudades", de Ruy Castro, chegou! E ele anda por aí, na cidade…
Espero que se siga o seu "dicionário" consequente: "Ela é Carioca"…
Parece (leio Isabel Lucas no Público…), que terá sido, segundo o escritor Paul Metcalf, "um dos segredos mais bem guardados da literatura americana". Mas o segredo chegou este ano (traduzido) a Portugal. "Manual para Mulheres de Limpeza" é um genial livro de contos, de Lucia Berlin, e foi a mais forte descoberta literária que tive nos últimos anos. Fica a sugestão, e o link para o que Isabel Lucas escreveu.
Em português chama-se "O Curso do Amor" e, para não variar, mistura o romance com a filosofia, o testemunho pessoal com a reflexão mais profunda sobre o que nem sempre parece relevante. Mas é. Trata-se da última incursão de Alain de Botton pelo mundo das relações humanas, e uma voltinha pelo site do autor abre o apetite para o livro que, por ser edição recente, tem destaque na Feira do Livro. É escolha segura…
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