Siderado, revejo vídeos, emissões de TV, declarações de líderes, e reconheço o pior: desta vez, a CDU perdeu mesmo.
Ainda que, na sua primeira declaração, Paulo Raimundo tenha afirmado, vou citar, que “a CDU é uma grande força autárquica" e tem as "melhores condições" para governar Portugal, as 10 autarquias perdidas – entre elas algumas clássicas, como Almada, o Barreiro, Beja, Moura – não amendrontraram o porta-voz do PCP.
Mais tarde, na noite eleitoral, o secretário-geral do Partido, Jerónimo de Sousa, decidiu descer à terra: "É necessário não iludir que este resultado constitui um fator negativo para dar força à luta do PCP". Foi sol de pouca dura: minutos volvidos e estava a garantir que os eleitores iriam ter saudades da CDU nas autarquias.
Não vos vou maçar com as minhas aventuras, há 20 anos, numa autarquia alentejana da CDU, onde me foram sugeridos esquemas de diversa natureza, e até garantias de legalidade se acaso alinhasse nas propostas que me faziam...
Foi há muito tempo. Mas parece cada vez mais evidente que a ideia da CDU como exemplo de liderança autárquica sem mácula, sempre ao serviço dos munícipes, e livre de qualquer mancha, está distante da realidade. Como todos os partidos, a CDU faz-se de pessoas, com as suas qualidades e defeitos. Haverá seguramente gente séria e dedicada, como gente mais interessada em servir-se do que em servir. Nesta eleição, ficou claro que os portugueses já perceberam que a CDU não é assim tão diferente da “concorrência”, e que nesse quadro a escolha continua a ser em projectos, em pessoas, numa opção de proximidade que privilegia os mais sérios, honestos, os que mostraram trabalho.
O voto cego vai morrendo devagar – e isso é uma vitória para a democracia, apesar dos Isaltinos desta vida. Por cada Isaltino eleito, há uma Assunção Cristas que nasce – e nessa dinâmica, todos nós temos a ganhar.
Voltando ao começo, ou seja, à CDU. Ver Jerónimo de Sousa reconhecer uma derrota, ter a tentação de acreditar que o PCP vai saber reflectir por que perdeu, por exemplo, Almada (nem é preciso lá viver, basta passar de vez em quando...), acreditar por momentos que, no espectro politico do Parlamento, o mais arrogante partido politico, aquele que além de não conhecer o significado da palavra humildade, ainda tem a mania de ser o dono da razão, pode por momentos “cair na real” e perceber que tem de aprender a olhar para si próprio como mais um ponto de encontro de acertadas e erradas ideias, é um sinal de esperança para a esquerda.
O mais lamentável defeito do PCP é a arrogância. A soberba de uma verdade absoluta sobre os “amanhãs que cantam” tem sido, ao longo dos anos, a causa da sua lenta mas imparável decadência. Vê-lo aceitar, ainda que a medo, uma derrota eleitoral, constitui a surpresa maior destas eleições. Esperemos pelos próximos dias – porque no pior cenário, o Partido ainda vai atirar culpas à “cedência” que terá sido a “geringonça”. E então volta tudo à estaca zero.
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