“No Brasil, até o passado é imprevisível”.
A frase foi dita por Pedro Malan, um ex-ministro brasileiro e o contexto naquele momento era outro. Mas, dentre as muitas tentativas de síntese do que é o Brasil, poucas definições nestes tempos caem tão bem quanto essa.
Essa imprevisibilidade, primeiro, começou a ganhar corpo à medida em que os avanços das investigações no âmbito da Operação Lava Jato passaram a revelar políticos e empresários de reputação (até então) impecável, que eram absolutamente admirados por seus eleitores e invejados por seus concorrentes, estavam na verdade enredados em uma teia de corrupção que alcançou números assombrosos. Nossos campeões do setor empresarial e nossos políticos, quase-presidentes e presidentes, afundados num mar de lama de gravações de conversas estranhas, acordos escusos, malas de dinheiro e contas secretas.
A imprevisibilidade avançou depois pelas redes sociais. Não são poucos os casos de amizades antigas abaladas ou desfeitas por conta de discussões políticas. Pessoas que trabalharam juntas, que estudaram juntas, que cresceram juntas, passaram a não mais se falarem. O fenómeno é tão presente que, de forma recorrente, é abordado por alguma revista ou programa de TV em temas sobre como manifestar suas posições sem perder amigos. A frase é “éramos amigos de tantos anos e eu não acredito que ele/ela pense assim”. E rompem a amizade.
A imprevisibilidade, porque é imprevisível, chega agora às eleições e faz com que nenhum dos Institutos de Pesquisa ou analistas políticos faça a menor ideia sobre quem serão os dois candidatos que vencerão a primeira volta no dia 7 de outubro para disputarem, no dia 28 de outubro, a vaga de presidente do Brasil pelos próximos 4 anos.
As hipóteses mais prováveis de vencedores estão, neste momento, no hospital e na prisão. O primeiro, a representar uma direita que, como em outros cantos do planeta, também avança no Brasil. O segundo, a representar uma esquerda cujo modelo de gestão mostrou-se um sucesso mediático, mas um desastre económico.
“O Brasil é o país do futuro” é outra frase muito boa e que durante muitos anos foi usada para dar as esperanças de que “estamos quase lá, já lá vamos”. Mas a verdade é que quanto mais percebemos o que o passado nos revela, menos confiamos que este país será capaz de nos dar um futuro.
Dá para mudar? Eu quero crer que sim. E trabalho para isso. Mas confesso que o sentimento de que a sociedade brasileira anda há algum tempo perigosamente polarizada, como se tudo se resumisse a uma luta do bem contra o mal (e sabe-se lá quem representa o quê) é muito desconfortável.
Tão desconfortável quanto perceber que o caminho para o futuro, neste momento, passa pelo hospital ou pelo presídio. Pensar assim leva a concluir que só podemos estar doentes. Ou condenados.
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