Numa altura em que a ansiedade se apodera dos nossos refegos ao lermos as notícias da aproximação de uma vaga de calor, muitos de nós — habitantes de um país de casas de fraca eficiência energética — já planeiam os duches de água fria que tomarão nos próximos dias, nunca menos de dois por tarde tórrida. Noutro universo, o das mansões com ar condicionado de Beverly Hills, uma tendência inversa ganha popularidade: a de não tomar banho.
É verdade, a fetidez está na moda. Jake Gyllenhaal é o último partidário de um já numeroso movimento de celebridades de Hollywood que assumem a dispensa do banho regular. O protagonista de filmes como Nightcrawler diz que "cada vez mais acha que tomar banho é desnecessário", já que "o nosso corpo higieniza-se naturalmente". Gyllenhaal revelou esta militância pela pestilência numa entrevista em que promovia a sua nova fragrância. Isto diz-nos que o ator americano favorece o "banho à francesa", prática que consiste em borrifar perfume ao invés de perder tempo no duche, utilizada frequentemente por adolescentes apressados após um jogo de futebol de cinco. Só que Gyllenhaal não é um adolescente com acne, é um ator genericamente considerado atraente que apenas escolheu ser um gato que é fedorento.
Mas não é o único. Esta turma da Mónica tem vários alunos chamados Cascão. Mila Kunis e Ashton Kutcher revelaram em julho que só lavavam diariamente determinadas partes do corpo que consideram fundamentais: ela lava somente a cara, ele lava apenas os, lá está, refegos. Como são uma parelha, poderia dizer-se que só se estraga (o odor de) uma casa, mas aparentemente os colegas de escola dos filhos também sofrerão, uma vez que estes atores só dão banho à descendência quando observam sujidade visível. É uma bonita história: para este casal, basta fedor e uma cabana.
Esta terça-feira, demitiu-se o governador de Nova Iorque. Já as pessoas que são reconhecidas na rua nessa mesma cidade, aparentemente demitem-se da higiene. Talvez estes atores sejam candidatos ao Óscar: não ao prémio da academia de Hollywood, mas a representar a pestilenta personagem da Rua Sésamo que tem o mesmo nome e que reside no lixo. É uma nova era: as festas do croquete serão substituídas pelas festas do pivete (sugiro mudar o nome das zonas VIP para zonas PIV).
Por outro lado, é uma tendência refrescante (salvo seja) da américa pós-Trump: ver celebridades a fazer campanha pelo odor corporal, em vez de mergulharem na pocilga da polarização política. Não deixa de ser um privilégio, porque só mesmo quem nunca pôs os pés num transporte público é que pode assumir com confiança esta causa. Em termos de luta de classes, esta evolução é positiva: abandonamos os tempos em que as elites não suportavam o cheiro a povo para abraçar a era em que o povo não aguenta o bedum a elite. É como se costuma dizer, "nunca cheires os teus heróis".
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