Filipa Martins é uma atleta incrível. Esteve dez anos a treinar para executar um “Yurchenko com dupla pirueta”. A duração do movimento? Cinco segundos de magia, de extrema elegância, de mestria pura.
Nunca o tinha feito em competição e aconteceu esta semana. A felicidade da atleta também encheu páginas de redes sociais e jornais, mas a felicidade é dela, Portugal não pode reivindicar nada. Porque os apoios são parcos, afinal somos um país que privilegia o futebol e não as outras modalidades.
A campeã do mundo de patinagem artista ganhou, há dias, o campeonato europeu. Tem 14 anos. Apoios? A determinada altura, para participar numa competição que lhe deu mais um título, recorreu ao crowfunding.
Há anos, Rosa Mota treinava na estrada.
Os atletas paraolímpicos portugueses têm prémios atrás de prémios. Mas, mais uma vez, os apoios são o que são: poucos. Dá que pensar, ou será que não?
A predominância do futebol parece apaziguar a necessidade de desporto para a grande maioria da população alargada, mas existem tantas modalidades, tantos atletas incríveis que a sensação que tenho é esta: estamos a perder a oportunidade de conhecer outras histórias de sucesso, de supressão, de uma extrema dedicação e capacidade de trabalho. Histórias que são, verdadeiramente, inspiradoras. Não metem bola, é certo, mas a bola, meus senhores, não é tudo na vida.
Sempre vos quero ver a olhar para a Filipa Martins no solo, na trave, nas paralelas assimétricas, no salto. Se não conseguirem vislumbrar a beleza de tudo o que faz, lamento informar, mas não conseguirão entender como vive a outra parte da população que não precisa de uma bola para ser feliz.
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