O Pedro a cortar um texto na Grafinova, em pé, com o x-acto na mão, concentrado. Foi a primeira vez que o vi, fazia ele parte daquele grupo especial do Caderno 3 de O Independente.
Não nos tornámos amigos com rapidez, eu era apenas a estagiária. Foi o tempo. Pedimos desculpa um ao outro num certo almoço de bacalhau num restaurante de que o Pedro gostava em especial.
Rimos os dois às gargalhadas com recordações da vida amorosa de cada um de nós.
Mostrámos o orgulho devido com as conquistas dos nossos filhos, filhos com Maria no nome.
E depois pequenos frames da vida.
O Pedro a discutir músicas com o João Gobern.
O Pedro abraçado à Cila. À Ana Teresa. À Margarida.
O Pedro sério. Na televisão, na rádio, por escrito.
O Pedro com a Helena a rirem os dois, a grupeta reunida, num jantar ali ao lado, num restaurante, e eu a invejar tanta partilha e alegria.
Bolas, Pedro, podias ter avisado que isto ia ser tão curto. Podíamos ter feito aquela coisa estranha para a Egoísta, ou aquela proposta igualmente estranha a uma fundação.
Podíamos ter feito tanto, e agora não há tempo. Tu fizeste muito e quem te conheceu só pode mesmo chorar-te. Desculpa se não te respondi com mais pressa, desculpa se a vida nos atrapalhou em algum momento.
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