Hoje é Dia da Mãe em Portugal, mas descobri que só daqui a uma semana, no segundo domingo do mês de maio, é que os nossos irmãos brasileiros comemorarão o seu equivalente Dia das Mães.

Confesso que aprecio mais a designação plural: é que ao contrário do que ensina a sabedoria popular, mãe não há só uma.

Perdoem-me os puristas da genealogia, mas neste assunto nem quero saber das vossas oposições mais ou menos científicas. O Dia das Mães não deve servir para celebrar um facto biológico. Não embarco naquela tese de que os laços familiares impõem sentimentos às pessoas, apesar de reconhecer que os facilitam. Há feitios para todos os gostos, e sejamos francos: qual era a probabilidade de cairmos numa família onde gostamos do feitio de toda a gente e toda a gente gosta do nosso? Praticamente nenhuma. As famílias já são selvas complicadas mesmo sem imposições de afetos.

Como tal, acho muito importante emanciparmos dessas casualidades genealógicas o amor envolvido no Dia das Mães. Às vezes a vida traz-nos mais mães do que aquela que nos deu a vida e isso é bonito.

A minha avó dizia-me sempre: olha que uma avó é mãe duas vezes. Dizia-o com amor na voz, como se quisesse estreitar comigo o laço que a genealogia já ia intermediando com outra gente, mesmo que essa gente fosse a minha mãe, a filha dela. E eu passava o Dia da Mãe com a minha avó, quase sempre, naqueles primeiros domingos de maio que já não voltam, mas que nunca vão partir.

Passava-o com ela e com as filhas dela, com a minha mãe e com as minhas tias, que cuidam e gostam de mim, que me abraçam sempre de forma apertada como que a reiterar esse amor que não nasceu da genética, nasceu dos passeios nas Portas do Sol, nas tardes de praia na Nazaré, nos disparates nas piscinas do Cartaxo, no respeito e na gratidão que se dão porque se recebem. No Dia das Mães, lembro-me sempre também delas, do tanto que me ensinaram sobre ser pessoa, da generosidade dos seus afetos, que nunca entendi que me fossem devidos, porque ninguém deve amor a ninguém.

Quis a minha sorte que a pessoa que me deu à luz fosse aquela cujo número gravo no telemóvel com a palavra Mãe. Podia não ser assim, e não tinha mal nenhum, mas foi.

Dá-se também o caso de não haver ninguém mais importante na minha vida que a minha mãe. Essa importância não decorre do facto do nascimento, mas de todos os factos que se seguiram a esse. O amor, o carinho, o respeito e a admiração que nutro por ela é merecido por inteiro, é consequência de uma vida juntos, de exemplos sem fim de empatia, abnegação e altruísmo, de uma educação cheia de amor e incentivo, de uma presença sempre atenta, mas discreta.

Não quero que a minha mãe pense, nem por um momento, que o amor que tenho por ela se deve meramente à casualidade da nossa relação familiar. Essa justificação cobre de inevitabilidade uma coisa que podia perfeitamente não ser verdade. É muito mais do que isso. O meu amor é a forma menos incompleta que tenho de lhe agradecer por quase trinta anos a caminhar à minha frente, ao meu lado, e atrás de mim, distinguindo com uma inteligência rara os momentos exatos em que eu precisava de guia, de companhia ou de escolher o meu caminho.

É minha mãe acima de toda a gente, e sabe-o, porque eu procuro relembrar esse laço, que é humano antes de ser genético, que é emocional antes de ser genealógico, todos os dias (ou vá, sempre que ela me liga!).

Mas no Dia das Mães, eu gosto de comemorar as várias pessoas que generosamente me dedicaram partes tão grandes das suas vidas, e que me fizeram sentir amado como um filho. Este é também o dia delas, e do que elas significam para mim.

Àquelas a quem a nossa voz já não chega, reservaremos as memórias que as mantêm vivas. Uma mãe nunca parte inteiramente, porque deixou ficar amor para trás. A minha avó era mãe duas vezes, e hoje duas gerações de filhas e filhos vão sorrir, uns em conjunto, eu ao longe, enquanto lembram a Felicidade desses domingos de maio.

Em todo o país, publicar-se-ão fotografias de mães, irmãs, avós, tias, madrastas, madrinhas, com a mesma legenda: a minha mãe é a melhor do mundo. Ou as minhas mães são as melhores do mundo. Ou o meu pai é a melhor mãe do mundo. Mãe não há só uma, e podem ser tantas quantas a sorte da vida nos deu. É bonito e não desmerece ninguém, porque o amor, ao contrário das palavras, não se gasta.

Feliz Dia das Mães e, às minhas, mais um grande obrigado.

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