Quase a acabar as exibições no Teatro Villaret, em Lisboa, que começaram em abril, as quatro mulheres que interpretam o novo êxito do encenador Ricardo Neves-Neves, ‘Mães’, tiveram quase sempre a casa cheia ou esgotada. Para aqueles que, como eu, que tiveram a sorte de assistir mais do que uma vez, fica certamente o desejo de repetir a dose. Este é talvez o melhor musical da temporada de teatro em Lisboa, pelo menos dos que eu tive a sorte de assistir.
Esta peça não leva o título pela complexidade dos cenários, nem pela beleza dos figurinos, todos eles simples, mas eficazes na ideia que pretendem passar. É o melhor pelo entusiasmo das quatro atrizes (Gabriela Barros, Raquel Tillo, Ana Cloe e Tânia Alves), que fazem de uma história simples um espetáculo inesquecível. Com personalidades diferentes, todas encarnam uma mulher com que o público se pode identificar. Afinal de contas, mesmo quem não é mãe, pode ter convivido com uma, ou uma avó, uma tia, uma prima ou mesmo uma amiga. As mães estão em todo o lado, e aqui estão altamente representadas.
Existe uma perfeita sintonia em palco que nos faz mesmo acreditar que estamos a ver um verdadeiro encontro de amigas, que podia ter lugar em qualquer casa nas mesmas circunstâncias que aquelas, e para o qual somos convidados a passar pouco mais de uma hora.
A música, trazida por uma banda ao vivo com três músicos, é essencial para trazer ainda mais magia a toda a narrativa, com a particularidade especial dos músicos também participarem, em alguns momentos, na interpretação.
As canções ficam no ouvido e são todas para rir e relembrar, sendo que cada uma das personagens tem o seu momento específico para brilhar e encantar com o seu momento musical.
O tempo vai passando e é impossível parar de rir com as músicas e os diálogos que falam de temas não só relacionados com a maternidade, mas também com famílias e sobre a complexidade de ser mulher, como ter um “pipi pingão”, ou “mamas pinguças, para lá, para cá, tipo dois sacos de chá”. Se o tema parece relativamente batido, e está, neste musical ganha uma nova força com uma abordagem refrescante, mais dinâmica e a um ritmo sempre elevado.
A história começa no baby shower da protagonista, Ana, interpretada por Raquel Tillo, e leva-nos até ao momento do nascimento da criança. O texto levou obviamente uma adaptação para a realidade portuguesa, tendo a versão original (‘Motherhood’) sido criada por Sue Fabisch. Quem tiver curiosidade pode ouvir as músicas originais aqui.
É muito complicado destacar um momento preferido numa peça em que, no geral, não consigo apontar nenhum ponto negativo, tirando as cadeiras desconfortáveis do Villaret. Ainda assim, acho que a melhor parte acontece quando se observa a interação entre a mãe expectante e a futura avó, ambas interpretadas por Raquel Tillo. O triângulo, composto por mãe, avó e netos, é algo com que quase todas as famílias se podem relacionar, bem como a relação entre mães e filhas já adultas. Em vários momentos do espetáculo, a protagonista atende o telefone à mãe e ouve-se: “Sim, ok… Sim, ok…. Sim, ok…” - que parece não ter fim -, algo que se faz com frequência às mães na vida real.
O sucesso do musical é visível no facto de já estar esgotado até ao final do mês no Villaret, em Lisboa, e espero que, à semelhança de outros sucessos da produtora, a Força de Produção, seja possível voltar a vê-lo pelo país fora. Engane-se quem pense que é um musical só para mães. É para todos e é essencial para quem gosta de musicais.
O SAPO24 esteve presente no ensaio de imprensa deste musical e a reportagem pode ser recordada aqui, bem como uma galeria de imagens. Quanto a bilhetes, esses é estar atento a possíveis datas novas nos locais habituais, porque, até agora, todas as sessões anunciadas até dia 30 estão completamente esgotadas.
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