Quis o destino que fosse com ele o meu primeiro projecto profissional enquanto argumentista. E era também para ele que estava a escrever o meu mais recente projecto. Pelo meio, houveram tantos outros. Televisão, teatro, cinema… fizemos muitas coisas e outras tantas ficaram por fazer. “Mas ainda as vamos fazer, meu querido”, dir-me-ia ele se me ouvisse agora.
A sua energia e vontade de fazer coisas, eram, de facto, impressionantes.
Nunca dei por perdido um minuto que estivesse na sua companhia. A falar de trabalho, de futebol, de política ou meramente do tempo mais frio que ele tanto detestava, agradeço-lhe o privilégio que tive em cada um desses minutos. E agradeço, também, o facto do Nicolau nunca ter sido pessoa de tratar dos assuntos pelo telefone ou por email. Foi sempre cara a cara, como fazem as pessoas que gostam de pessoas.
Mas hoje sinto-me triste. Muito triste. Não consigo sorrir, nem mesmo quando me recordo das suas histórias contadas na primeira pessoa. A sensação de vazio é enorme. Pessoal e profissionalmente a sua partida é insuperável. Portugal é hoje um país ainda mais pobre. Humana e artisticamente. Porque partiu o melhor de todos.
Não fui capaz de ligar a televisão mais do que meia dúzia de segundos, mas uma coisa deu para perceber: há muito tempo não via uma programação tão boa. O Nico estava em todos os canais… como, aliás, sempre esteve – coisa que apenas está ao alcance de alguns. Dos especiais.
Vou ter saudade suas. Muitas. Do seu olhar terno e expressivo, da sua educação, do seu sorriso sincero, das suas sábias e amigas palavras e, principalmente, da sua boa disposição. Foi uma honra enorme conhecê-lo e privar consigo, Senhor Nicolau Breyner!
Fico, em parte, aliviado porque tive a oportunidade de lhe dizer o quanto o admirava e gostava de si. E vou gostar sempre. Que falta me vão fazer os telefonemas que começavam geralmente com “Meu querido, temos de falar…”. E temos mesmo!
Por isso tenho a certeza que nos vamos voltar a encontrar, e fica, desde já, uma promessa: nesse dia, eu levo o Pêra Manca.
*Roberto Pereira é argumentista
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