Neste artigo de opinião não resisto a partilhar convosco, em forma de caricatura, alguns dos vícios que estão instalados em alguns sectores do estado e na maioria das nossas empresas, e que representam modelos de gestão absolutamente obsoletos. Mas são hoje dominantes, em muitas organizações. Esta praga do século XX e XXI importa combater, em todo o lado, e partilho convosco a análise do que observo, por três categorias:

Os “papa reuniões” - aqueles dirigentes ou trabalhadores que andam a saltitar de reunião em reunião com um ar absolutamente atarefado. Estão sempre muito cansados e cheios de trabalho, tem sempre milhares de e-mails por responder, porque nunca tem tempo para nada. Mas tem sempre mais umas horas, dias, meses, para reunir! Fazem reuniões de manhã, à tarde e à noite. Dezenas por dia. Tem normalmente poder hierárquico para convocar metade da empresa para uma reunião de horas, para resolver um problema, que é quase sempre o dele e, quase nunca, relevante para a entidade. São daqueles que fazem milhares de quilómetros para reunir pelo país todo, mas que nunca fizeram uma teleconferência, para reuniões rápidas e eficientes. São os papa reuniões. Esta “doença” já foi baptizada pelos gurus mundiais da gestão: meetnaping - e mais não é do que a “arte” de os líderes reterem as suas equipas em reuniões inúteis. Preenchem o dia com este “trabalho” extenuante. E este fenómeno está a atingir uma dimensão preocupante. Mas se lhes perguntarmos o que decidiram ou fizeram ficam calados. Uma espécie em expansão nas organizações.

Os “workahloics” – São aqueles que chegam cedo à empresa e são sempre os últimos a sair. Fazem gala em verbalizar que já estão há 12 horas na empresa, só não sabemos muito bem a fazer o quê. Muitos deles prolongam-se nos cargos que ocupam porque se especializaram em customizar um novelo complexo que já só eles entendem. São inteligentes a complicar, para meter medo a quem tem que decidir superiormente, mas nunca aparecem com uma solução definitiva para um problema. Desenrascam no momento difícil e esse é o seu verdadeiro poder. São muito bons, porque complicam, para descomplicar num momento de aflição. Mas os problemas continuarão sempre por lá, debaixo do tapete. Esta espécie eterniza-se nas mesmas funções durante décadas. São piores que as baratas. Difíceis de extinguir em qualquer organização.

Os “e-mail workers” - São aqueles que vêm no e-mail a desculpa para não falar com ninguém, e que desenvolvem autênticos fascículos quando poderiam dizer tudo num simples parágrafo. Aquilo que se desbloquearia num simples telefonema de 30 segundos, escreve-se, por opção 4.0, numa hora, e será lido e correspondido num email de resposta elaborado por um segundo interlocutor. Ficam os dois satisfeitos, mas como ainda permanecem dúvidas, o problema continuará por resolver e merece mais duas ou três interacções por escrito. Esta espécie que substituiu os antigos telefonistas continua a ter a técnica de passar os problemas para os outros, mas de forma menos produtiva e eficaz que antigamente. Recentemente, foi publicado um estudo dos professores Nohria e Porter, da Universidade de Harvard, em que abordam o tema da “armadilha do email”, pois chegaram à conclusão que os CEO das grandes empresas mundiais dedicam 24% do seu tempo a comunicações electrónicas, quando o seu trabalho deveria ser efectuado cara a cara. Esta ineficiência tecnológica está à vista de todos - interrompe o trabalho, alonga a jornada laboral, perturba o pensamento e a vida familiar, mas apesar de ser uma ferramenta ineficaz é muito difícil de extinguir por ter entrado na rotina diária de todos.

Aos olhos de muitos gestores e decisores de hoje, estes três exemplos são bons de seguir e multiplicar. Questiono-me cada vez mais se não deveríamos colocar em causa a forma como funcionam algumas instituições, sejam elas públicas ou privadas. Deveria fazer sempre parte dos objectivos de qualquer governo, administração ou direcção, colocar em causa muito do que hoje dizemos ser: “é assim porque sempre foi assim!”. Talvez ainda por influência da telenovela brasileira "Gabriela, Cravo e Canela" quando no genérico se cantava "Eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim, vou ser sempre assim, Gabriela..."

Se tivermos apenas a ambição de deixar tudo na mesma, ou pior do que encontrámos, o melhor mesmo é estarmos presentes nas reuniões, que alguém nos fará o favor de convocar e respondermos aos e-mails com muita e boa prosa. Seremos considerados bons profissionais, mas na verdade nada fizemos de bem pelas nossas organizações, pelas nossas empresas e pelo nosso país.

Tem a certeza que é isto que quer na empresa onde trabalha ou no Estado? Não acredito.