Há uns meses estávamos longe de pensar que a máscara continuaria a ser falada muito depois do Carnaval. Que seria um acessório de moda de primavera/verão e que nos acompanhará, em tons menos coloridos, pelo outono/inverno. Longe estávamos de imaginar que seria causa de tanta discussão, tanto nas mais altas esferas das organizações de saúde, como nos cafés e tascas. No entanto, uma coisa que nunca pensámos que fosse acontecer são todas as formas de as usar e de as acondicionar. O português, inventivo e desenrascado como é da sua fama, cedo encontrou novas maneiras de usar as máscaras e até novas máscaras como aquele célebre senhor com a couve portuguesa a fazer de equipamento de protecção individual.
Se há quem use os óculos de sol na cabeça, claro que há quem use a máscara no queixo, é natural. É uma espécie de apoio, seria mais estranho se a usasse na testa ou como venda. Temos quem use a máscara pendurada no retrovisor do carro o que sempre é melhor que o crucifixo ou uns dados de quem joga com a sorte em corridas com carros alterados porque tem a mania que é o Vin Diesel, quando é mais Paul Walker. Máscara no cotovelo? Na boa, se protege da covid porque não há de servir de cotoveleira? No bolso, amarfanhada juntamente com as moedas e telemóvel que podem estar minados de bicheza para depois voltar a usar e encostar bem encostadinha aos pontos e entrada do vírus no nosso corpo que são a boca e o nariz? Claro que sim, vamos estar a usar cada máscara uma vez? Deixamos isso para países como a Suíça e Reino Unido que têm dinheiro. O tuga só não reutiliza o preservativo porque não o costuma usar.
Agora, de tudo isso, o que me faz mais confusão é o estranho caso da máscara com o nariz de fora. Sempre pensei que a máscara fosse intuitiva. Acho que tem bom interface pessoa-máscara e que tem uma boa usabilidade. Perdoo quem a usa ao contrário ou do avesso, distrações acontecem, mas deixar o nariz de fora? Será apenas falta de informação e pensam que a máscara é só para a boca? Pensam que só se transmite pela tosse e, como não tossem pelo nariz, está tudo bem? Não aguentam o próprio hálito? Acham que a covid é tipo salmonela e só faz mal se a comermos? Olham à volta, vêem quase todos de boca e nariz tapado e é como um velho com demência em contramão na autoestrada que pensa que os outros é que andam todos ao contrário? Quando encontram um colega que também usa o nariz de fora será que reparam e se sentem como fazendo parte de uma comunidade? É uma espécie de código do Fight Club? Aposto que isto é gente que faz o pisca depois de parar o carro e começar a estacionar. Nessa altura não serve de nada, já percebemos o que está a acontecer, o pisca deve anteceder a manobra para avisar, mas eles metem a meio para depois ninguém refilar que não meteram o pisca. Deve ser igual com a máscara, não querem usar, mas como tem de ser, usam só na boca para poderem dizer “Não vê que eu tenho máscara? Estou a cumprir as regras”. Não está. Respeito mais quem não usa máscara do que quem usa a máscara com o nariz de fora. Isto é gente que só passa álcool gel nas palmas das mãos e esquece-se dos dedos.
Mais, já vi gente a usar a máscara desta forma e que possuía um nariz de tucano, parecia um pencossáurio e, tendo a oportunidade ideal de o esconder na máscara, prefere andar com ele de fora, exibindo com orgulho a sua protuberância nasal que mais parece um papa-formigas. Talvez haja uma explicação científica para isto que é o facto de haver muita gente que não usa o nariz para respirar, são os chamados "mouth breathers" [respiradores pela boca"]. Há estudos que indicam que estas pessoas têm tendência a ter menos oxigénio a chegar ao cérebro o que faz com que fiquem mais lentos em termos cognitivos. E talvez seja aqui que encontramos a explicação: todos os que deixam o nariz de fora não o usam para respirar e, como tal, são mais atrasadinhos e usar a máscara dessa forma é só mais uma manifestação do seu cérebro menos oxigenado.
Para ouvir: Álbum SYSTEM, do ProfJam e Benji Price.
Para seguir: A conta de Instagram Humor Hiena, onde podem ficar a par de todos os eventos e outros acontecimentos dentro do âmbito da comédia em Portugal, assim como conhecer novos talentos do humor português.
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