
Centenas de mortos, gente apanhada enquanto dormia, neste brusco ataque maciço que rasga o Ramadão com dezenas de raids aéreos e fogo contínuo de artilharia de Gaza num dia em que ainda decorriam em Doha, no Qatar, negociações para concretizar o que ficou acordado no processo de cessar-fogo em vigor (com pontuais violações diárias) há 50 dias.
Netanyahu escolhe, com o aval de Trump (como antes também teve a cumplicidade de Biden) a brutal escalada da guerra, como modo de sobrevivência política. Os ataques aos palestinianos de Gaza são pretexto para Netanyahu faltar hoje à audição judicial num dos processos que lhe são movidos por práticas irregulares.
O argumento de Netanyahu para ter pulverizado a trégua com este dilúvio de bombas é o de que é prioritário desmantelar o Hamas que - invoca o chefe israelita - estava a reorganizar-se e voltava a ter 25 mil combatentes preparados para atacar Israel.
Netanyahu acrescenta a acusação ao Hamas de demorar a libertação dos ainda 59 reféns.
O Hamas tem repetido que é Israel quem está a bloquear a acordada troca de reféns por prisioneiros palestinianos em prisões israelitas. Esta permuta ficou definida para a fase 2 do acordo de cessar-fogo que deveria ter começado no primeiro dia deste março. Mas, de facto, é Netanyahu quem, em violação do acordado, recusou passar da fase 1 para a fase 2. Esta fase 2 implica a retirada militar israelita de Gaza e isso é um passo totalmente excluído para o atual governo de Israel.
Netanyahu opta por deixar cair o que a delegação israelita acordou e, ainda pior, retomou o cerco a Gaza: desde esse dia 1 de março em que deveria ter começado a fase 2 da trégua, está completamente bloqueada a entrada em Gaza de ajuda humanitária (comida, água e medicamentos) e, desde a semana passada, cortou o fornecimento de energia elétrica, indispensável para que funcione a única central de tratamento de água em Gaza.
Esta vaga de terror de Netanyahu sobre Gaza coincide com a escalada de ameaças de Trump ao Irão e os bombardeamentos americanos sobre hutís do Iémene, aliados de Teerão. É sabido que Netanyahu deseja há muito o ataque dos Estados Unidos ao Irão.
Por agora, em Gaza, contam-se os corpos e recolhem-se os cadáveres. Antecipa-se a previsão de dias pesados de fogo, sangue e morte com o ódio a puxar mais ódio.
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